Ilustrador: Chico
Editora: Ambar
Ano: 2007
Percorrer esta narrativa ficcional sobre Amadeo de Souza-Cardoso (1887/1918), pintor, é encontrar um conjunto de símbolos que captam a atenção do jovem leitor para a observação crítica da realidade e inserem-no nos paradigmas que o levam à compreensão das ideologias de uma determinada época, apontando-as como fenómenos que podem determinar a evolução de uma sociedade.
Usando estratégias reveladoras dos destinatários preferenciais, sobressaem as grandes linhas orientadoras que traçam o perfil humano, artístico e psicológico da personagem destacada, inserida numa época que não lhe facilitou poder dar visibilidade e ver reconhecida a sua criação artística.
Adequando a narrativa ao mundo infantil, o narrador não deixa de incluir nesta ficção biográfica uma entidade feérica que acompanha todo o percurso de Amadeo: está presente no seu nascimento, visita-o durante o sono, é anunciadora dos obstáculos que surgem no percurso incompreendido do artista e chora a sua morte, assumindo uma atitude humanizada na medida em que lhe é impossível impedir o desaparecimento do amigo. Assim, esta Fada introduz o conceito de Fados ou Destino em que a lei natural sobressai como condição obrigatória para o cumprimento da demanda do herói, em lugar de ser atribuído aos seres sobrenaturais o domínio do seu percurso.
Este fenómeno pode derrogar as expectativas do pequeno leitor habituado a ver as fadas com os seus objectos mágicos a resolverem os problemas das personagens, mas aproxima-os na noção de Realidade, dando-lhes a perceber que o acesso à condição de herói se faz por etapas, em demandas exigentes onde o inconformismo ideológico e psicológico surgem como motivação intrínseca para a construção da humanidade autêntica.
Este livro é uma proposta de leitura para todos os que gostam de ler sobre grandes vidas e para aqueles que gostam de dar a ler textos em que essas vidas são ficcionalizadas com arte bastante para que as crianças acedam com facilidade aos ideais, que mais não são do que a sombra projectada pelos ideais assumidos pelos heróis.
Teresa Macedo