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29 maio, 2009

Galileu à luz de uma Estrela

Autor: José Jorge Letria
Ilustrador: Afonso Cruz
Ano: 2009
Editora: Texto

A arte de narrar para crianças requer um genial domínio de estratégias que sejam suficientemente capazes de seduzir este tipo de leitores. E nessa medida a vastíssima produção literária de José Jorge Letria para este público alvo tem-no revelado um manuseador singular dos elementos da afectividade, da poeticidade e duma escrita envolvente, que fomentam a adesão à leitura e o desenvolvimento do interesse por temáticas com elevado grau de complexidade como é o caso de “Galileu à luz de uma estrela”.
Poderíamos quedar-nos nas potencialidades de um título visivelmente polissémico, porta de entrada de uma construção ficcional biográfica que revivaliza a figura mítica de Galileu, mas o conteúdo textual que traçará o perfil multifacetado deste protagonista é um painel artisticamente elaborado onde qualquer leitor pode fazer incursões fantasiosas pelos universos sugeridos ou aproveitar para expandir o seu background cultural à luz de um livro que muito fala do contributo dado ao real pelo herói focalizado.
Quanto aos destinatários preferenciais depressa se deixarão guiar pela estrela atenciosa e narradora que constantemente interage com eles, adivinhando as dúvidas e inquietações produzidas no contacto com a leitura, executando o papel de um contador de histórias que fixa os olhos dos ouvintes, atendendo aos sinais que lhe dão indicações da forma de prosseguir: “Neste momento, imagino que estejas já a perguntar o que faz aqui uma estrela a tentar conversar contigo e quem é esse homem especial cuja história eu anunciei que ia contar-te” (p.4). E, pouco depois, descreve o “matemático, físico, filósofo e também astrónomo” (p.6).
Este dialogismo com o leitor permite fazer escaladas muito profundas pela vida de um dos maiores génios que a humanidade conhece, demonstrando a capacidade invulgar e ternamente amadurecida de um escritor que desenha um caminho onde o labor da investigação em torno de personalidades singulares e o conhecimento da Infância o colocam na linha da frente dos grandes nomes de referência da Literatura Infanto-Juvenil contemporânea.
A “Estrela Galileu” (p.32) deixa-nos, assim, “a história de um homem muito especial, que viveu há muitos anos e que, na escuridão das noites frias, gostava de observar as estrelas distantes (…) e de conversar com elas baixinho, para ninguém poder ouvir aquilo que diziam entre si na imensidão do Universo” (p.4).
Teresa Macedo

27 maio, 2009

Era uma vez um rei Conquistador

Autor: José Jorge Letria
Ilustrador: Afonso Cruz
Ano: 2009
Editora: Oficina do Livro

Se o título “Era uma vez um Rei Conquistador” é convidativo à entrada no universo encantatório do Maravilhoso, a ilustração de Afonso Cruz revela imediatamente o herói pertença do mundo histórico e factual, de quem José Jorge Letria faz uma construção ficcional biográfica, na efeméride dos 900 anos do seu nascimento – Afonso Henriques.
A memória do Rei Conquistador seria apenas reforçada por mais um livro, entre tantos que perpetuam o seu génio guerreiro e destemido na determinação sagaz da independência de Portugal, se não fosse a especificidade que singulariza esta obra para a Infância, tecida com todos os elementos imprescindíveis à adesão das crianças pelas temáticas onde Fantasia, Imaginação e Realidade se entrecruzam e corroboram para o alargamento do seu conhecimento do mundo, do desenvolvimento da sensibilidade estética e a promoção dos valores necessários ao constructo humano.
No início, o Rei Conquistador é dado a ver como um menino que “brincava com coisas simples e gostava especialmente de uma espada de madeira que Egas Moniz (…) mandara fazer para ele (…) [e de] construir castelos de brincar, com pedras, terra barrenta e pedaços de madeira” (p.10), igualizando-se aquele que veio a tornar-se Rei de Portugal a todos os outros meninos. No entanto, na teia de toda a acção que há-de mover a vida do herói fundador da nacionalidade portuguesa, eleva-se uma capacidade inata para a determinação que é movida pela indicação de um futuro predestinado, protegido pela alma de D. Henrique que, “algures, talvez debruçado numa nuvem distante (…) velava por ele e pela sua segurança, nos campos de batalha e fora deles” (p.16) e pela força das premonições oníricas que aconteciam “mesmo de olhos abertos” (p.18).
Esta narrativa articula diferentes perspectivas que elevam o herói ficcionalizado como modelo de generosidade, de lealdade e de persistência, num jogo onde o rigor dos dados históricos se harmoniza com as personagens do Imaginário infantil, organizados por um narrador que estabelece uma grande cumplicidade com as crianças, derrubando as fronteiras entre o mundo possível e o mundo impossível.
Por isso, a “Fada da Noite Estrelada” (p.36) surge para encerrar de maneira cativante o percurso de vida de Afonso Henriques, apresentando-se com o poder simbólico que sugere o fim, mas livra os pequenos leitores do confronto com a palavra morte.
“Era uma vez um Rei Conquistador” é, por isso, um livro de leitura recomendada.



Teresa Macedo



12 maio, 2009

Era uma vez uma fada que se chamave Lisete que por não estar habituada a comer em demasia, caiu desmaiada a caminho do lago. Mimo, o velho castor seu amigo, ficou sem a ajuda habitual que Lizete lhe costumava prestar e por isso estava triste e quase a pensar que tinha sido abandonado à sua sorte.
Mas não, Lisete, com a ajuda dos amigos pirilampos, depressa chegou ao lago, atravessando os campos de papoilas, as árvores apaixonadas, a pedra oca e a corrente do rio...
O encontro com Mimo foi um encontro com - sigo mesmo e com o outro em si - o encontro com a alteridade (Bachtin,1992) e com o princípio da "consciência que o Homem tem de si mesmo considerando-se como outro", (Feuerbach,1804-1872), pois Lisete percebeu, naquele momento, a necessidade de nos assumirmos uns aos outros enquanto sujeitos interligados, neste mundo global, aqui representado pela floresta e por todos os eco-sistema que nela residem.
De vez em quando, os obstáculos surgem subrepticiamente, sem darmos conta (o desmaio) mas também, quase simultâneamente, chegam os adjuvantes com a sua luz forte de pirilampos para alumiarem e indicarem o caminho...Lisete não os reconheceu logo como amigos e muito menos como tendo a capacidade de prestar ajuda, naquela situação tão melindrosa em que se encontrava: "afinal tu és apenas um insecto!" disse ela e as palavras ditas estão sempre carregadas de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. (Baktin, 1992:95)
Contudo, também os insectos e os animais mais insignificantes, como no caso da formiga, no conto de Esopo, podem constituir-se como potenciais amigos, em dificuldades futuras, revelando-se extremamente importantes num quadro de difícil execução.... daí que o insecto lhe tenha retorquido: "- Não te deixes enganar à primeira vista. Os teus olhos e a tua mente podem pregar-te umas partidas."
Lisete, então, aceitou ser ajudada, por manifesta incapacidade de se iluminar a si própria. Estava triste e furiosa e quando isto acontece "Não consegue iluminar o corpo por mais que insista".O valor da amizade, um sentimento de afeição mútua o colocar-se no lugar do outro para compreender as suas atitudes são pois os temas principais desta singela narrativa que tem por personagem central, mais uma vez, uma FADA!

Bibliografia
BAKTIN, Mikail. Marxismo e filosofia da linguagem.6ed. São Paulo: Hucitec, 1992.

03 maio, 2009

Depois do sucesso das edições anteriores, a Câmara Municipal da Trofa promove, de 2 a 10 de Maio, o V Encontro Lusófono de Literatura Infanto-Juvenil.
Durante uma semana, a Casa da Cultura da Trofa recebe escritores, ilustradores lusófonos, exposições, encontros com escolas, formação, apresentação de livros e a IX Feira do Livro.Para esta edição marcarão presença os escritores e ilustradores Alexandre Parafita, Ana Bárbara de Santo António, Ana Saldanha, Inácio Nuno Pignatelli, José Cardoso Marques, Lourdes Custódio, Manuela Monteiro, Margarida Fonseca Santos, Marcus Tafuri, Ondjaki e Valter Hugo Mãe.
O encontro Lusófono continua com apresentação de livros, de destacar no dia 4 de Maio pelas 14h00 a apresentação do livro “A casa da Romãzeira – História com Abril dentro” texto de Manuela Monteiro. No dia 5 de Maio, pelas 11h30 será a vez do livro “Russa, a Bruxinha Tecedeira” com texto de Ana Bárbara de Santo António e ilustração de Isabel Menezes. A 10 de Maio, pelas 17h00 será apresentado o livro “Este lago não existe” de Vítor Burity da Silva.
Este blog exorta-vos a visitarem o município da Trofa onde poderão apreciar um trabalho de qualidade em prol do livro e da leitura.