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Autor: José Jorge Letria
Editora: Oficina do Livro
Ano: 2009
Esta obra epistolar inicia-se com uma “Carta nada imaginária para o leitor deste livro” (p.7) e encerra com a “Carta do Autor a Deus” (p.147), definindo, por isso, uma trajectória em que a comunicação se concretiza de forma ascendente e define uma linha de reflexão, que parte da criação de uma ambiência em que o Leitor é focalizado como alguém que tem de ser esclarecido sobre algum conteúdo da ficção, até outro lugar onde a figura do Autor assume um papel preponderante numa confessional busca do sentido Metafísico.
Assim sendo, o Autor assume um papel magistral e as epistolas que enchem o coração do livro, mais não são que os pontos de (des)conexão que a sua capacidade reflexiva e modo crítico de olhar o Mundo engendraram para dar a ver aos outros personalidades que se demarcaram na historicidade humana pela transgressão, sofrimento, capacidade empreendedora e singularidade e uma ou outra simplesmente imaginada como metáfora do inconformismo, do humor construído para a aceitação do (quase) inaceitável.
Não seria, por isso, necessário revelar as grandes linhas semântico-interpretativas que sustentam a prevalência dos valores ético-morais - “que não podiam deixar de morar, algures, no coração destas cartas” (p.9) - para as sentirmos na transversalidade da leitura, associadas ao poder singular de reflectir e de intervir pelo domínio da Palavra.
“O que Darwin escreveu a Deus” é um livro que dinamiza a vontade de revisitar toda a obra literária do mesmo autor, onde encontramos sempre um espaço privilegiado para construirmos ou reavivarmos Conhecimentos e nos deliciarmos com uma escrita que conduz a mundos onde as personagens são nossas conhecidas, mas agem de encontro ao despertar de algumas consciências adormecidas.
Teresa Macedo