A Festa dos Pastores é um livro de Rosário Araújo, editado pela QUIDNOVI pertinho do Natal de 2008, mas que realiza (e realizará) sempre um outro Natal.
A festa, aqui, faz-se de tons quentes estreitados no abraço do singelo e do doce. O convite começa na capa, deliciosamente ilustrada por Carla Nazareth, e o prazer que se associa à época vai, a braços com a escolha feita pela Marta a quem o conto é dedicado, conduzir-nos para o colo atento da avó Bita onde costuma haver histórias. No mundo de Daniel Pastor a nobreza dos sentimentos, que fazem o hábito de muitas crianças, reporta-nos para um mundo onde a solenidade da promessa e o acto da entrega se confundem numa participação atenta para com o Outro.
O novo nascimento da vida, que se desenha nas últimas páginas, adivinha-se nos modos deste pequeno pastor que vive nos montes, onde o dia-a-dia também se faz do calor da amizade sincera com os amigos do pastoreio e do mimo que ele faz às suas ovelhas.
Desde cedo, sentem-se os aromas de casa. Há “pão de lenha”, leite aquecido e bebido por uma grande malga de leite. O adjectivo é meu, apenas o coloquei porque o quadro descrito mostra o poder da sinestesia feita de cores, odores e sabores, o que me deixa sentir o conforto de uma malga grande, quente e erguida na vontade de lá enfiar o nariz, enquanto as mãos se aquecem à sua volta.
É de um menino, de “olhos orgulhosos” no asseio da labuta; dos seus amigos, fiéis na partilha, na alegria e no empenho; da família, orgulhosa no saber ser; de um Anjo Mensageiro que desceu ao “Monte da vida” e, claro, do encanto do Natal, puro e simples no anúncio da boa nova, que se faz esta história.
“Da janela da sua casa, a avó Bita olhava a festa com ternura. Tinha contado tantas histórias ao neto, e agora, ele mesmo tomava parte de uma que nunca mais seria esquecida” (Araújo, 2008:34)
A festa ainda mal começou, mas o meu desejo de festas felizes para todos é sincero e, por isso, já me escapou por entre os dedos. FELIZ NATAL, com cheiro a sonhos, rabanadas e papos de anjo!
Gisela Silva