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12 junho, 2006

Mercado e homogeneização cultural: que lugar para a literatura infantil?

Num ensaio, onde aborda a questão da homogeneização cultural das crianças norte-americanas, Jack Zipes (2002) alerta-nos para o risco a que, fruto de agressivos processos de marketing, as mesmas estão sujeitas. Dependendo de importantes interesses corporativistas, os produtos culturais que são, pelo mercado, oferecidos às crianças tendem a apresentar-se como predominantemente banais e estereotipados, não oferecendo reais possibilidades de emancipação e/ou de transformação do real empírico e histórico-factual. Mais do que fomentar o desenvolvimento de leitores atentos e argutos, com capacidade para ler o mundo de forma pessoal e crítica, determinados produtos oferecidos pela indústria cultural tendem a fomentar o desenvolvimento de leitores com comportamentos interpretativos de nível ingénuo, já que, no entender do autor supra referido, se trata de tornar as crianças activas consumidoras de produtos de moda indiscriminados: “the general accumulative effect of this pop culture is to make consumers out of children, not responsible citizens concerned about the quality of their social life.” (Zipes, 2002:10). E estes novos “valores” são intencional e sistematicamente partilhados com as crianças não só através da literatura que lhes é oferecida pelos media, mas também por uma poderosa máquina de entretenimento cultural, onde o cinema e o desporto são já lugares também fortemente marcados por esta ideologia mercantilista.
Como colmatar uma tal situação?


A solução passa por, no espaço da escola, desafiar essa lógica do mercado, oferecendo às crianças e aos jovens alternativas cultural e linguisticamente enriquecedoras relativamente aos textos que elas já conhecem, por forma a desenvolver nelas o espírito crítico necessário à interacção com esses produtos do mercado:

“Here the emphasis cannot be placed on functional literacy, tests, and canonical learning. Rather, we must seek to cultivate pedagogical, social, and cultural practices that enable children to think for themselves and to develop sensitivities that make them aware of their fellow creatures as human and not as competitors and consumers.” (Zipes, 2002:21-22).

Zipes, J. (2002) The cultural homogeneization of American children, Sticks and Stones. The troublesome sucess of children's literature from Slovenly Peter to Harry Potter, New York & London: Routledge, pp.1-23.

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