Autor: José Jorge Letria
Ilustradora: Evelina Oliveira
Ano: 2008
Editora: Campo das Letras
Esta narrativa constrói-se através da actuação de uma teia genealógica que, sustentando-se nos pilares fortíssimos da memória, se movimenta num espaço naturalmente edificado, que afasta intencional e deliberadamente esta ficção biográfica do lugar-comum da expressividade, corroborando a iconografia pictórica para expandir, junto dos seus leitores, as dimensões plurissignificativa e polissémica suscitada pelo texto, que faz emergir um dos “temas e figuras da História portuguesa” (2008:36).
A capacidade retrospectiva de um dos intervenientes desta ficção historiográfica – o Avô - contextualiza o enredo, aproximando-o o mais possível de aspectos factuais onde o Conhecimento surge como um capital simbólico que tende a tornar-se absoluto devido a ter sido presenciado e vivido com a “curiosidade infinita de quem quer descobrir o mundo” (2008:9), assumindo-se nesse papel o “neto Gonçalo” (2008:8).
A dinâmica coloquial intergeracional vai construindo o percurso de Humberto Delgado – o General sem Medo – assim designado devido à “coragem que (…), sempre demonstrou (…) sabendo que iria pôr a sua liberdade e até a sua vida em risco” (2008:15), apontando o narrador, nas datas e nos locais, as conexões ao real com o rigor que se exige nos relatos históricos.
Por outro lado, as vozes ficcionais demarcam os registos ideológicos de todos os intervenientes, assinalando os medos, os anseios, os sentimentos negativos, as crenças e as dúvidas, induzindo ao exercício de uma cidadania crítica construída através do saber pensar, questionar e agir.
Se “Gonçalo ficou a pensar no relato feito pelo avô” (2008:18), encontramo-lo no instante da interioridade por excelência – o espaço do sonho – a assimilar os paradigmas simbólicos que o General sem Medo representa em todo o enredo e a liderar o processo de construção da sua aprendizagem numa Escola enunciadora dos tempos mudados, onde a pedagogia colaborativa está representada nas acções dos alunos, na mediação da professora e na atitude participativa da família.
Os componentes emotivos gerados pela interlocução que a criança efectua com a professora (2008:22-25) acentuam mudanças significativas na atitude do adulto que medeia o Saber, sendo visíveis os ensinamentos que anunciam um interior motivado para o exterior real.
Tal facto, incrementa a valorização de Humberto Delgado que, mesmo “tendo em conta as dificuldades e fracassos da fase inicial da sua vida” (2008:36), encetou a busca por um ideário de Liberdade, chegando “até onde ninguém fora antes” (2008:36), surgindo nesta ficção biográfica como um herói que os mais novos tomarão como símbolo da condição do Homem que trespassa as barreiras do real, posicionando-se no lugar “muito distante e luminoso onde se devem sentar todas as pessoas de bem” (2008:39).
Teresa Macedo
3 comentários:
Humberto Delgado conhecido como o General sem medo foi um dos fundadores de DRIL Diretório Revolucionário Iberico de Liberacion, este movimento nasce em 1950 esta frmado por exilados gallegos e portugueses , para lutar contra a dictadura Salazarista e Franquista a parte de Humberto Delgado destaca Xose Velo,Henrrique Galvao, e Xose de Soutomaior, este ultimo nacido em Povra dó Caramiñal. No dia 22 de Janeiro assaltam o navio de passagem Santa Maria, chamando a atencion sobre as ditaduras Ibericas. Humberto Delgado se declara responsável e assume a autoria .La biografia deste homem lutador contra as injustiças e defensor de suas próprias idéias, foi assassinado pela PIDE perto de Olivença em 1965.Este livro de JJ Letria de uma manera ou outra volta a colocar a biografia de HD en atualidade, desperta a curiosidade infantil e há brilhar uma luz no horizonte, livro ameno e preparado para as crianças. Humberto Delgado foi nombrao em 1990 Marechal da força aerea e descanssa no Panteon Nacional de Portugal. É muito positivo que as crianças-as e jovenes portugueses conocan a seus heroes, a seus valentes que entregaram sua vida ao serviço da causa sem necessidade de buscar falsos heroes fora desta bela terra
A escrita e a leitura torna-se melhor quando se vão acrescentando coisas ao que alguém diz. Coisas acertadas. Muitos outros heróis hão-de vir à partilha neste espaço. Há quem nunca se esqueça deles. Um abraço.
Gostei muito do teu texto Teresa.
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