Autor: José Jorge Letria
Ilustrador: Sarah Pirson
Ano: 2006
Editora: Ambar
A construção deste texto literário socorre-se da poesia, género detentor das possibilidades de abertura ao mundo do (im)possível, para delinear biograficamente o essencial sobre a personagem Leonardo, menino cuja força motriz subjacente à sua predestinada ascensão a génio é o “milagre do assombro e da luz” (Letria, 2006:6) observável em tudo o que o Futuro lhe permitiu confirmar. E enquanto jovem, ainda, possui um conjunto de particularidades que lhe conferem marcas de estranheza em torno de uma sabedoria inata que, logo à partida, lhe faculta a possibilidade de ser “mestre de quem o quer ensinar” (Letria, 2006:6).
No decurso do poema verifica-se que as potencialidades de que Leonardo é portador exigem o cumprimento de uma demanda existencial num “mundo disputado”, suscitador de inveja provocada pela submissão ao “escrutínio del juicio público” (Gil Calvo, 1996:47), no qual se distingue por estar na posse dessas competências originais que o fazem evidenciar-se “sem esforço” (Letria, 2006:14) entre os seus. Por isso, privilegia a lentidão temporal como condição necessária para proceder ao constructo da obra perfeita. Cada tela que pinta “é um cântico, é um hino/composto com as notas/ da sinfonia do destino” (Letria, 2006:13).
De facto, toda a poesia enuncia o cumprimento de um percurso delineado com antecipação, inscrevendo esta personagem no universo dos mundos alternativos ao mundo factual e terreno. Só nesses universos é possível justificar a excepcionalidade deste homem “feito mito ainda em vida” (Letria, 2006:39), podendo-se afirmar que Leonardo personaliza o designado “fantástico transcendental” (Durand, 1993:435-491), pois a sua existência é uma trajectória plena de substrato da vida mental que, partindo de si, dos seus inventos na mecânica, na ciência e na pintura, estende-se ao nível cultural, delineado por uma verticalidade singular. Por isso, as damas e as madonas que pinta com a sua talentosa habilidade hasteiam as marcas do enigma, do mistério e do secreto poder de manipular a cor em linguagem.
Esta biografia inicia-se com a auréola da “estrela” (Letria, 2006:6) anunciadora de um ser único, que oferece à humanidade uma herança de “luz em testamento” (Letria, 2006:45) e encerra, vinculando-se a uma encenação mítica da morte. Desta forma, o sujeito poético sugere ao leitor/receptor a reconstrução modelizante da sua própria existência em torno das múltiplas dimensões simbólicas em que a biografia de Leonardo Da Vinci é também o pretexto para a reflexão pretendida.
Teresa Macedo
Bibliografia:
Durand, Gilbert (1993 [11ªed]). Les Structures Anthropologiques de l´Imaginaire. Paris. Dunod.
Gil Calvo, Enrique (1996). «Parque Público, Jardin Fictício» in Mundos de Ficcion, I. (Actas del VI Congresso Internacional de la Asociación Española de Semiótica, Investigaciones Semióticas VI).Murcia. Universidad de Murcia.
2 comentários:
JJ Letria autor de uns 200 libros con mais de 40 premios desarrola um a lavoura encomiable en favor das crianças, letria quita pedras do caminho, fala de eses sonhos infantiles y os traduce en L-Graça,Mozart, o Zeca, Salgueiro Maia,Julio Resende ou Luis de Camoes, as crianzas a traves do mundo imaxinario do Letri poden sonhar con tocar o horizonte. Teresa en un sentido critico basado na analises, entra dentro das palavras y as desmenuza, so como ela save facelo,ven a memoria a enciclica de Xoan XXIII Mater et Magistra, como reconocemento a todos-as mestres portugueses po la lavoura realizada y a realizar, quen educa um a crianza esta educando o futuro do pais, Obrigado
As grandes vidas relatadas ficcionalmente são as grandes "vozes" de modelação do mundo, que ajudam os Mestres no labor do seu quotidiano. Agradeço ao leitor a generosidade do comentário. E agradeço a todos quantos escrevem para crianças o riquíssimo "solo" que nos oferecem para que possamos acreditar que as sementes de que se fazem os livros hão-de dar substância capaz de fazer o mundo melhor.
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