Este é o primeiro livro da Colecção: Os Caçadores de Gramatífagos, lançado no
Fórum Cultural de Alcochete no dia 24 de Novembro de 2007, da autoria de Natália Augusto e Fernanda Azevedo e que irá constar do PNL a partir de 2008.
Este é um convite especial dirigido a todos aqueles que não gostam nem se identificam com as aulas de Língua Portuguesa, e muito menos com aquele livro intitulado de Gramática Contemporânea da Língua Portuguesa ou outros títulos que tais.
Texto: Natália Augusto
Ilustração: Fernanda Azevedo
Designer: Niels Fischer
Edição de Autor
ISBN: 978-989-95455-0-2
Em 1989, Álvaro Magalhães surpreendeu-nos com o livro Maldita matemática! cuja dedicatória revela a simplicidade do propósito de um livro desta natureza: «Este texto (…) é dedicado a todas as pessoas que têm problemas, ou seja, a todas as pessoas» (Magalhães, 2ª ed. Asa Edições, 2000). Atenta a todos, Natália Augusto também me sensibilizou pela sua ousadia na medida em que se interessou em construir, com amor e dedicação, uma narrativa especial que contasse, desta vez, uma outra grande história: a história das palavras.
A aventura chega-nos pela mão do André, um menino como tantos outros meninos, que vê no estudo da gramática algo de terrivelmente aborrecido, desagradável e complicado. A curiosidade e reflexão da autora sobre a rejeição desse bicho-papão que, repousa tranquilamente em várias das prateleiras de meninos como o André, marcam a forma isotópica da obra. O desvendar da funcionalidade da língua portuguesa, bem como a consequente compreensão dos meandros gramaticais e linguísticos que a compõem, e, sobretudo, o convite ao estudo pela curiosidade e descoberta são a pedra basilar desta história das palavras.
Claro, que não esteve nos propósitos autorais referir o resultado final de uma análise relativa a conteúdos gramaticais, mas efectivar uma outra perspectiva relativa ao estudo da gramática, tão repudiada pelos mais novos. Assim, a perspectiva que, em André no Reino das Palavras Falantes, a associa a noções reais de convivência, aventura e partilha deixa-nos perceber o elevado grau de complexidade que se estabelece entre a personagem principal, a sua gramática e todos os seus habitantes, como o Sr. Verbo ou o dedicadíssimo Sr. 86, por exemplo.
Uma das particularidades desta história define-se na vontade de mesclar a aventura de André e, por sua vez, a das palavras com um sentido pedagógico-didáctico prático bem ao gosto da autora. Surgem-nos como núcleos organizativos da obra: a temática abordada, o discurso simples e o imaginário humorístico, pincelado de um agradável nonsense, que fazem da história de André uma história de convite à leitura e à própria reflexão. Atentos às investidas empreendedoras do Sr. Verbo, em educar André no gosto pelo estudo das palavras, sentimos uma vontade crescente de, a cada página virada, permanecer presentes em todo o processo de crescimento da personagem.
Natália Augusto sugere, assim, novos caminhos inferenciais e oferece a todos os curiosos uma outra noção – a divulgar por todos os educadores e mediadores da leitura deste país – sobre a importância do estudo da língua portuguesa. Bruno Bettelheim diz assertivamente que o conto de fadas tem um efeito terapêutico e que assegura à criança uma solução para as suas dúvidas e conflitos internos, pois neles se encontra a riqueza simbólica. Em André no Reino das Palavras Falantes tudo acontece como se de um conto de fadas se tratasse, onde a certeza da tomada de consciência fica bem situada entre o histórico e empírico-factual, e a imaginação.
Saibamos, pois, reler na história do André e das suas palavras falantes ou mágicas os episódios do nosso dia a dia, onde pais, professores e alunos se debatem com a preocupação do estudo da gramática que a Sôtora de Língua Portuguesa mandou consultar.
Gisela Silva, in André no Reino das Palavras Falantes
A aventura chega-nos pela mão do André, um menino como tantos outros meninos, que vê no estudo da gramática algo de terrivelmente aborrecido, desagradável e complicado. A curiosidade e reflexão da autora sobre a rejeição desse bicho-papão que, repousa tranquilamente em várias das prateleiras de meninos como o André, marcam a forma isotópica da obra. O desvendar da funcionalidade da língua portuguesa, bem como a consequente compreensão dos meandros gramaticais e linguísticos que a compõem, e, sobretudo, o convite ao estudo pela curiosidade e descoberta são a pedra basilar desta história das palavras.
Claro, que não esteve nos propósitos autorais referir o resultado final de uma análise relativa a conteúdos gramaticais, mas efectivar uma outra perspectiva relativa ao estudo da gramática, tão repudiada pelos mais novos. Assim, a perspectiva que, em André no Reino das Palavras Falantes, a associa a noções reais de convivência, aventura e partilha deixa-nos perceber o elevado grau de complexidade que se estabelece entre a personagem principal, a sua gramática e todos os seus habitantes, como o Sr. Verbo ou o dedicadíssimo Sr. 86, por exemplo.
Uma das particularidades desta história define-se na vontade de mesclar a aventura de André e, por sua vez, a das palavras com um sentido pedagógico-didáctico prático bem ao gosto da autora. Surgem-nos como núcleos organizativos da obra: a temática abordada, o discurso simples e o imaginário humorístico, pincelado de um agradável nonsense, que fazem da história de André uma história de convite à leitura e à própria reflexão. Atentos às investidas empreendedoras do Sr. Verbo, em educar André no gosto pelo estudo das palavras, sentimos uma vontade crescente de, a cada página virada, permanecer presentes em todo o processo de crescimento da personagem.
Natália Augusto sugere, assim, novos caminhos inferenciais e oferece a todos os curiosos uma outra noção – a divulgar por todos os educadores e mediadores da leitura deste país – sobre a importância do estudo da língua portuguesa. Bruno Bettelheim diz assertivamente que o conto de fadas tem um efeito terapêutico e que assegura à criança uma solução para as suas dúvidas e conflitos internos, pois neles se encontra a riqueza simbólica. Em André no Reino das Palavras Falantes tudo acontece como se de um conto de fadas se tratasse, onde a certeza da tomada de consciência fica bem situada entre o histórico e empírico-factual, e a imaginação.
Saibamos, pois, reler na história do André e das suas palavras falantes ou mágicas os episódios do nosso dia a dia, onde pais, professores e alunos se debatem com a preocupação do estudo da gramática que a Sôtora de Língua Portuguesa mandou consultar.
Gisela Silva, in André no Reino das Palavras Falantes
Eis-nos presenteados com alguns excertos e ilustrações da obra. Parabéns pelo excelente trabalho!
«[O André] preparava-se para regressar ao computador quando ouviu uma vozinha: — André! André! Anda cá! Nem me deste uma oportunidade para te ajudar.
O André no momento em que ouviu a voz ficou imóvel, no centro da divisão, sem conseguir perceber de onde vinha aquela voz abafada. A voz continuou.
— Deixa-me explicar-te quem eu sou. Pega novamente em mim e abre-me na página oitenta e seis.
O André dando-se conta que era a sua gramática que assim falava, voltou a sentar-se e observou o livro. Não compreendia lá muito bem como é que este podia falar como uma pessoa.
— Não devias ter desistido tão facilmente... — recriminou-o a voz.
— Podes explicar-me primeiro como é que falas ou estarei a sonhar, meu?
— Não, não estás, André. Agora abre-me depressa que me sinto sufocar.
O André, entre o incrédulo e o fascinado, abriu o livro novamente na página oitenta e seis e, para sua grande surpresa, todas as palavras dessa página tinham desaparecido, excepto uma. E não era a gramática que assim falava, era aquela palavrinha de cinco letras que o fazia. Como podia ser?
— Então és tu que falas? Para onde foram as outras palavras? Que lhes aconteceu? Como te chamas?
— Uma pergunta de cada vez senão deixas-me confuso — disse a palavrinha. — Vamos por etapas. Eu falo como as pessoas e, para te dizer a verdade, todas as palavras falam ainda que de forma silenciosa, mas a maioria dos seres humanos não é capaz de as ouvir, nem lhe presta atenção. Quanto às outras palavras, mandei-as descansar por estarem exaustas de serem lidas sem serem compreendidas.»
In André no Reino das Palavras Falantes
«Naquele momento, ouviram-se uns passos e uma manchinha negra apareceu. Era o senhor 86 do cantinho inferior direito, da página da gramática do André. Era um número simpático, redondinho, amoroso e muito afável. Trazia vestido um lindo fato engomado, de um bonito cetim preto, camisa aos quadradinhos cujo drapeado era deslumbrante, lacinho “à papillon” de bolinhas pretas, calças de um xadrez sumptuoso. A sua toilette era de um primor inexplicável, que rematava num lindo sapatinho preto do estilo carocha. Avançava num ritmo bamboleante e os seus passinhos curtos tornavam-no inimitável. Esta estranha e inusitada personagem usava na cabeça um lindo chapéu preto, onde trazia dois copos de leite, de um branco extraordinariamente branco, como o lugar que os rodeava, e um prato com bolachas.
«Naquele momento, ouviram-se uns passos e uma manchinha negra apareceu. Era o senhor 86 do cantinho inferior direito, da página da gramática do André. Era um número simpático, redondinho, amoroso e muito afável. Trazia vestido um lindo fato engomado, de um bonito cetim preto, camisa aos quadradinhos cujo drapeado era deslumbrante, lacinho “à papillon” de bolinhas pretas, calças de um xadrez sumptuoso. A sua toilette era de um primor inexplicável, que rematava num lindo sapatinho preto do estilo carocha. Avançava num ritmo bamboleante e os seus passinhos curtos tornavam-no inimitável. Esta estranha e inusitada personagem usava na cabeça um lindo chapéu preto, onde trazia dois copos de leite, de um branco extraordinariamente branco, como o lugar que os rodeava, e um prato com bolachas.
— Perdoem-me a interrupção — disse o senhor 86. — No relógio da página anterior, bateram as cinco horas e eu tomei a liberdade de vos trazer o lanche.»
In André no Reino das Palavras Falantes
Nota: para mais informações ver site: Caixa Vermelha - Artes e Letras em http://caixavermelha.com/
2 comentários:
Obrigada, Gi. És uma amiga muito querida. Continuação de bom trabalho!
O livro não faz parte do PNL! Normalíssimo no nosso país, pois trata-se de uma edição de autor!
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