28 novembro, 2006
Clube de Contadores de Histórias
Conclusões do I Congresso Nacional de Bibliotecas Escolares
Call for Papers: 2as CONFERÊNCIAS NO ALENTEJO SOBRE LITERATURA INFANTIL
Estão já confirmadas as presenças dos Professores Pedro Cerrillo (CEPLI – Universidad de Castilla-la-Mancha), Ana Luísa Vilela (Univ. de Évora), Glória Bastos (Univ. Aberta) e Gisela Cañamero (Criadora de espectáculos, encenadora e dramaturga).
Comissão científica: Cláudia Sousa Pereira e Ângela Balça.
PROPOSTAS DE COMUNICAÇÃO ATÉ 31 DE JANEIRO 2006. As comunicações deverão inserir-se nas duas áreas temáticas acima referidas.
Inscrições para cidehus@uevora.pt ou
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Nome_____________________________Profissão_____________________ Local de trabalho__________________________
Telef.______________________@mail____________________Morada_____________________________________________
□ COM COMUNICAÇÃO – título________________________________________________ (anexar resumo até 250 palavras e CV)
□ SEM COMUNICAÇÃO: □ geral – 40 €; □ estudantes – 20€; □ estudantes, docentes da Universidade de Évora e Projecto “A Fada Palavrinha e o Gigante das Bibliotecas”– 10€
(cheque à ordem de CIDEHUS-UE)
27 novembro, 2006
Figurações da Infância na obra de Ilse Losa
23 novembro, 2006
Leitura e Jogo dramático no Ensino Básico
Metamorfose e Imaginário em José Jorge Letria
Maria Teresa de Macedo Martins apresentou, no dia 4 de Dezembro, no Instituto de Estudos da Criança (Braga), a dissertação de Mestrado em Estudos da Criança - Análise Textual e Literatura Infantil, intitulada A Metamorfose na Emergência do Imaginário. Leitura das Narrativas Infanto-Juvenis de José Jorge Letria.
O júri teve a seguinte composição: Prof. Doutor Fernando Azevedo (Universidade do Minho), Prof. Doutor José Cândido Martins (Universidade Católica Portuguesa) e Prof. Doutor Armindo Mesquita (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).
A candidata foi aprovada com a nota máxima, por unanimidade.
A escrita de Ana Saldanha em destaque
Susana Alice Certo Campos defendeu no dia 30 de Novembro, às 17h00, no Instituto de Estudos da Criança (Av. Central, 100 - 4710-229 Braga), em provas públicas, a dissertação de Mestrado em Estudos da Criança - Análise Textual e Literatura Infantil, subordinada ao tema:
Ecos do Passado pela voz de Ana Saldanha. Revisitar a Memória de alguns contos dos Irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen.
O júri teve a seguinte composição: Prof.ª Doutora Graça Simões de Carvalho (Universidade do Minho), Prof. Doutor Fernando Azevedo (Universidade do Minho) e Profª Doutora Ângela Balça (Universidade de Évora).
A candidata obteve a nota máxima e foi aprovada por unanimidade.
22 novembro, 2006
Gesellschaft für Kinder- und Jugendliteraturforschung (GKJF)
am 7.- 9. Juni 2007 in Erfurt
Call for Papers
Der hundertjährige Geburtstag Astrid Lindgrens im Jahr 2007 soll für uns Anlass sein, das Werk der schwedischen Autorin in seiner Bedeutung für die Kinder- und Jugendliteratur des 20. Jahrhunderts wie unserer Zeit zu untersuchen. Ohne Zweifel ist dabei von einem weltweiten Erfolg auszugehen, der die Grenzen von Ländern, Kulturen und Kontinenten überschritten hat, ebenso wie die Verbreitung des Lindgrenschen Werks durch Buch, Theater, Hörspiel, Film, TV und zuletzt Neue Medien (wie etwa Computerspiel) die zunehmend medienübergreifende Entwicklung der Kinder- und Jugendliteratur generell widerspiegelt.
Doch geht es nicht um bloße Konstatierung dieses Erfolgs, sondern um die Frage nach seinen Triebkräften wie auch nach den Bedingungen, unter denen er sich in unterschiedlichen Kulturen und Gesellschaften der vergangenenfünfzig Jahre entfaltete; um die Impulse für Zeitgenossen, für andere Autoren und Werke; ferner um die Frage der Aktualität und der Funktionen dieses kinderliterarischen Werks im 21. Jahrhundert.
Astrid Lindgrens Werk gibt unter diesen Vorzeichen Anlass zur Spurensuche, zu Überlegungen über das in ihm steckende innovative Potential, zu zahlreichen Fragen nach den Wegen der Grenzüberschreitung wie auch der Voraussetzungen internationaler Wirkung. Nachzugehen ist dabei Lindgrens Einflüssen in der phantastischen wie in der realistischen Kinder- und Jugendliteratur, in Dorf- und Lausbubengeschichten, Märchen, Mädchenbüchern, Abenteuergeschichten wie auch in Erzählungen, in denen die psychische Befindlichkeit der Protagonisten in den Vordergrund rückt. In welcher Tradition steht „Pippi Langstrumpf“ und welche Tradition hat sie mittlerweile - vielleicht - begründet? Wie passt - oder passt nicht - das Lindgrensche Werk in die Entwicklung gerade der deutschsprachigen Kinder- und Jugendliteratur? Welche Handschrift, welche stilistischen Eigenarten weist es auf und wie hat es sich entwickelt und andere beeinflusst? Wo liegen die Möglichkeiten, wo die Grenzen ihres kinderliterarischen Konzepts? In welchem Verhältnis steht es zum kinderliterarischen Umbruch nach 1968 und dessen Vorbereitung? Wie hat sich der Umgang der Kritiker, Pädagogen und Literaturdidaktiker mit dem Werk Lindgrens entwickelt und verändert? Was kann man heute noch mit ihrem Werk anfangen?
Wir hoffen auf Ihr reges Interesse und bitten um Zusendung von Vortragsangeboten (von maximal 30 Minuten Dauer) bis zum 15.1.2007. Ihrem Vorschlag sollte ein kurzer Aufriss des Vortragsthemas („abstract“, bis ca 1.500 Zeichen) beigefügt sein. Bitte senden Sie Ihre Vorschläge per Mail an dolle-weinkauff@rz.uni-frankfurt.de oder per Briefpost an die folgende Adresse:
Gesellschaft für Kinder- und Jugendliteraturforschung
Dr. Bernd Dolle-Weinkauff
Johann Wolfgang Goethe-Universität
Institut für Jugendbuchforschung
Campus Westend
Grüneburgplatz 1
60323 Frankfurt
21 novembro, 2006
OCNOS - Revista de Estudos sobre Leitura
Acaba de ser publicado o nº 2 da revista OCNOS, editada pelo CEPLI, da Universidad de Castilla-La Mancha.
Esta revista, de carácter científico, tem por objectivo dar a aconhecer investigação aprofundada sobre leitura e escrita equacionadas sob uma perspectiva transdisciplinar.
A recepção de artigos para o próximo número, a publicar em Outubro de 2007, decorre até 31 de Janeiro. Contactos: CEPLI.
ooohéee - Estudos sobre a Criação e Edição Infantil e Juvenil
AA. VV. (2006) ooohéee. Estudis sobre la Creació i Edició Infantil i Juvenil. Palma de Mallorca: Edició de l'Institut d'Estudis Baleàrics. (ISSN: 1886-0508)
Andar entre Livros. A leitura literária na escola
Colomer, Teresa (2005) Andar entre Libros. La Lectura Literaria en la Escuela. México: Fondo de Cultura Económica.
Literatura para Crianças e Jovens
Miretti, María Luisa (2004) La Literatura para niños y jóvenes. El análisis de la recepción en producciones literarias, Rosario: Homo Sapiens Ediciones.
Com prefácio de Teresa Colomer, chegou recentemente às nossas mãos esta obra de Maria Luisa Miretti, coordenadora do Mestrado em Literatura para Crianças da Faculdade de Humanidades e Artes da Universidad Nacional de Rosario - Argentina.
Estruturada em duas partes, a obra retoma a polémica do objecto de estudo da literatura de potencial recepção leitora infantil e juvenil. Descrevendo e caracterizando o passado e o presente da literatura infantil e juvenil, bem como o papel dos clássicos e os lugares de uma Estética da Recepção nestas produções textuais, a obra debruça-se, com particular relevo, sobre a análise da recepção dos textos e autores da literatura infantil e juvenil argentina contemporânea. Neste âmbito, a obra descreve, caracteriza e analisa, com minúcia, os processos de reescrita e de recriação dos textos e autores clássicos, oferecendo ao leitor um amplo e bem documentado ponto de situação da actual literatura infantil e juvenil de um dos mais importantes países da América Latina. A obra inclui ainda uma bem documentada e pertinente bibliografia.
20 novembro, 2006
Isabel Allende também para os mais jovens
Isabel Allende destacou-se no panorama literário com a obra A Casa dos Espíritos, à qual se seguiram outras não menos importantes que fizeram desta escritora chilena uma referência mundial. Partidária de uma escrita vigorosa, de onde se destacam um traço firme e uma riqueza descritiva muito significativa, a sua obra efectiva momentos de verdadeira intimidade com os seus leitores. Com a trilogia As memórias da Águia e do Jaguar, Allende transforma-se, desta vez, numa voz do romance juvenil, onde se evidenciam, para além do seu típico relato emotivo e aproximativo, diversos apontamentos fundamentais na efectivação de um texto para leitores mais jovens.
A cidade dos deuses selvagens, O Reino do Dragão de Ouro e O Bosque dos Pigmeus são livros que constituem um composto rico em imagens, onde “o voltar a um realismo mágico” é a matéria emergente. Em a cidade dos deuses selvagens, as personagens principais: Alexander Cold, a sua avó (a célebre jornalista Kate Cold) e Nádia Santos, embrenham-se numa complicada expedição em plena Amazónia. A aventura toma forma nas variadas deambulações das personagens e é já, no início do segundo capítulo, que Alexander, com apenas onze anos, se vê perdido em Nova Iorque a braços com uma nova situação, da qual se tem de desenrascar sozinho.
No coração da selva tudo se vai complicando para o jovem rapaz e este, sempre posto à prova pelo carácter rígido e excêntrico de Kate, bem como pelas crenças e relatos místicos de Nádia (em aprendizagem também), tem por única solução a assimilação rápida dos acontecimentos, para que o seu desempenho seja o mais correcto. É, contudo, na lendária «cidade das Bestas» que as duas personagens se vêem confrontadas com um mundo absolutamente fantástico e onírico que lhes permitirá, não uma desajustada relação com a realidade experimentada, como seria de esperar, mas uma verdadeira isotopia com esse espaço fora do tempo, empreendedor em experiências inigualáveis, pois ambos estiveram atentos ao que os rodeava permitindo que as novas experiências se manifestassem como momentos únicos de verdadeiras aprendizagens.
Em O Reino do Dragão de Ouro, segunda parte da trilogia, as personagens principais são, desta vez, transportadas para um ambiente natural de magia no coração dos Himalaias. Aí, no meio de uma esplendorosa paisagem, o jovem Alexander, muito mais do que confrontar-se com os inúmeros perigos da viagem, deve aprender o porquê de uma existência levada a cabo com a sabedoria da sinceridade e da serenidade. Aqui, o saber ancestral de uma outra cultura prende-se com os ensinamentos do monge budista para com o seu discípulo, o príncipe Dil Bahadur.
Desde o primeiro capítulo, a extraordinária descrição da relação de absoluta confiança e de grande lealdade e amizade, entre estas duas personagens, realiza no leitor uma interiorização de valores morais, balizados entre a temperança e um auto conhecimento cíclico, o que evidencia a revalidação permanente do crescimento pessoal do jovem discípulo. Mais tarde, sob os ensinamentos do monge e do seu discípulo, Alexander e Nádia compreendem igualmente como criar defesas físicas e fortalecer as suas personalidades através do exercício da mente. Nesse outro lado do mundo, à mistura com uma aventura árdua e perigosa, a força espiritual impõe-se numa mensagem claramente edificadora, onde é possível entender-se o verdadeiro significado da importância da preservação da paz e do amor na terra.
Em O Bosque dos Pigmeus, mais ainda do que no segundo livro, Nádia e Alexandre destacam-se como dois jovens cujas capacidades se revelam merecedoras de grande mérito. Ambos mostram, na selva africana, uma grande predisposição e tenacidade na aplicação das suas aprendizagens, decorrentes das suas anteriores vivências, quer na selva Amazónica, quer nos Himalaias. Já na capital do Quénia, onde o mercado se traduz pelo espaço festivo da diversidade, da cor e dos aromas, até ao coração da selva, o narrador não se cansa de aludir aos encantos de África, rica pelo seu misticismo cultural e ancestral. Desde logo, o leitor mais jovem depara-se com uma realidade oposta aos princípios inerentes ao mundo histórico e empírico-factual, mas que aqui se ajusta perfeitamente ao circundante. Quem falaria de África sem aludir aos seus encantos ritualistas e premonitórios? É fácil compreender que não se trata, apenas, de mais um pormenor para enriquecer a complexidade ficcional do texto. Na verdade, a autora revela uma preocupação, que lhe é já peculiar, e que se caracteriza pelo gosto da descrição pormenorizada de outras realidades.
Parecem-me igualmente fortes as metáforas do jaguar e da águia, presentes desde o primeiro livro, pois estas, muito mais do que retratar uma identificação puramente simbólica dos dois jovens aos seus animais totémicos, mostram, sobretudo neste terceiro livro, a sua força, determinação e maturação na vontade de ultrapassarem as mais diversas adversidades. Sempre que Nádia ou Alexandre se sentem desprovidos de coragem ou derrubados na impossibilidade de vencer mais uma etapa, recorrem, pela crença e pela confiança, ao seu animal totémico que não é mais do que a representação simbólica da força e da vontade inconscientes para a resolução dos seus problemas.
Para além da partilha do dever de onde se podem retirar variadíssimas lições de vida, prende-se a esta última aventura a constatação da sobrevalorização da cultura ocidental em detrimento das ditas terceiro-mundistas. Depreendemos que a autora, através dos ensinamentos de Kate, procura incutir nos mais jovens o respeito pelo o que é diferente, originando no leitor a imediata rejeição da ideia preconceituosa e puramente racista de que só o que pertence aos dogmas da nossa sociedade é correcto e inquestionável
Num continente como África, onde as riquezas étnica, cultural e religiosa não podem dissociar-se sem que haja um desfavorecimento global da relação homem/natureza, Isabel Allende privilegia no seu texto as alusões à aproximação da ciência e da crença, o que, no seu entender, possibilita uma melhor compreensão do mundo e dos outros.
Marco relevante desta última aventura é, ainda, o processo de consciencialização ecológica, ambiental e sócio-cultural que se destaca da aventura retratada na aldeia de Ngoubé. A ilegal extracção de recursos naturais, o uso desapropriado dos mesmos, bem como a promiscuidade exercida sobre os pigmeus é adequadamente retratada nesta terceira aventura. Na verdade, ciente dos graves problemas ambientais e culturais que a ambição do homem causa nas diversas regiões de África, Isabel Allende faz uso da sua voz e reporta, assim, uma outra responsabilidade à literatura infantil.
Fazendo jus ao dom da partilha, nesta aventura, tal como nas outras, verifica-se que o diálogo com os mais jovens é possível, sobretudo, se ele for franco. Por isso, Isabel Allende não descartou desta trilogia o misticismo mítico-simbólico que tanto enriquece a sua escrita e, a meu ver, é bem do gosto daqueles que não se prendem exclusivamente às leituras que se recusam retratar, na coerência do pragmático-factual, uma realidade que não a nossa.
Válido é pois dizer-se que, nestes três romances, a autora soube prender a atenção do leitor, quer pelas hábeis reflexões sobre as civilizações descritas, quer pelos sábios momentos míticos, que originam admiração e respeito pelo contrafactual e inexplicável. Fica-nos, pois, a nostalgia de uma história que acabou. Afinal foram vários os momentos emocionantes que vivemos junto dos protagonistas, apostando fortemente no sucesso dos seus empreendimentos.
Gisela Silva
Pequena Pluma, o garoto que passou e ficou
Porque vem aí o Natal, e por vezes a dúvida faz-se ouvir, eis aqui algumas sugestões de leitura.
Pequena Pluma é a história de um valente pequeno índio de dez anos, oriundo da recôndita vila de «Loneliville» que se manteve isolada do resto do mundo. Criada à luz de conhecimentos sabiamente partilhados entre os índios locais e os colonos escoceses que por lá assentaram, «Loneliville» existiu em prosperidade durante cem anos. O ensino fazia-se por aprendizagens e a partir de constantes permutas entre as tradições orais dos índios cheyennes e «os métodos pedagógicos mais estruturados da Europa»; as relações humanas e afectivas requeriam sapiência, carinho e compreensão; o contacto com a natureza exigia um absoluto respeito para que todos usufruíssem correctamente dos recursos naturais. No entanto, quis o acaso que a convivência harmoniosa dos habitantes da pequena vila fosse destruída pela mão atrevida e inconsciente do homem e que o único sobrevivente fosse Pequena Pluma MacAbony, filho de Urso Cinzento McAbot e de Flor Selvagem McAbony.
Recolhido pelos soldados do exército, que procuravam a bomba lançada pelo coronel James T. Brooks, o pequeno órfão não consegue fazer valer a sua história e é levado ao xerife George que resolve adoptá-lo e levá-lo para Pennsville. A partir de então, esta surpreendente narrativa acontece nos moldes de uma descoberta permanente, onde o leitor é convidado a uma constante reflexão, pois o insólito espreita a cada empreitada levada a cabo pelo jovem e curioso MacAbony.
Entre acusações – por não ser como os outros, e louvores – por ser considerado um novo Messias, Pequena Pluma inicia o seu processo de auto-descoberta e conhece, pela primeira vez, o fascínio do chocolate, da televisão e do telefone que nunca vira antes, bem como realidades sociais (como o divórcio, por exemplo), que não compreende, considerando que lá em Loneliville as coisas eram bem mais simples: «No seu mundo de outrora as coisas não se passavam daquela maneira. (…) “O que te faz falta é uma mulher”, disse o pai quando o Cão Gordo da Pradaria acabou de contar as suas desgraças, (…) Por sorte, Serpente Gentil, o pai de Esquilo Branco, estava a dizer a mesma coisa à filha. (…)». E assim se fazia um casamento onde crescia «o verdadeiro amor», pensou o pequeno índio. Afastado dos seus, Pequena Pluma vai ainda deparar-se com a cobiça desmedida dos homens ditos civilizados, a sua mentira disfarçada e a sua prepotência na certeza irrefutável dos seus actos mesquinhos e mais duvidosos.
Adaptando-se às mais diversas circunstâncias, Pequena Pluma sabe sempre desenvencilhar-se e nunca põe de parte os ensinamentos do seu povo, tentando, a todo o custo, mostrar que a velha sabedoria dos índios também deve ser levada em consideração, quer em Pennsville, onde tem uma vida agradável junto do seu protector: «– Tens um ar triste, disse Pequena Pluma ao reverendo (…). – O Sábio Mocho dizia que quando se está triste, é melhor não fazer nada» e do seu pai adoptivo, quer em conversa com o Presidente dos EUA, na Casa Branca : «– Repara, meu rapaz – disse o Presidente enrugando a fronte –, sou mais poderoso que todos os reis de que se fala nos livros. Gostas de histórias de reis? Pequena Pluma deitou-lhe um ar cansado. “O Sábio Mocho dizia sempre que nós somos todos reis e rainhas da nossa própria vida. Que o importante é governarmo-nos a nós mesmos, e não governar o mundo que nos rodeia”».
É, de facto, em Washington que a inocência eleva esta personagem a um estado de absoluta ingenuidade – face à maldade/cobiça dos homens, mas de inteira responsabilização – face aos seus instintos de obrigatoriedade perante as suas relações sócio-afectivas e às suas raízes. Perante esta nova civilização, que o apadrinha com falas mansas e gestos duvidosos, Pequena Pluma distingue os verdadeiros sentimentos e procura a sua família na busca da harmonia perdida e, por isso, foge com George.
Com a queda do avião e o desaparecimento de Pequena Pluma, sentimos um vazio e apercebemo-nos que: «passou um anjo». O vento forte levou-o com a mesma simplicidade com que o trouxe e em nós ficou um vazio e a nostalgia de o ver partir.
Gisela Silva
15 novembro, 2006
MITOLOGIA, TRADIÇÃO E INOVAÇÃO: (Re)leituras para uma nova literatura infantil
Armindo Mesquita (Coord.)
Prefácio de
Marcelo Rebelo de Sousa
Com chancela da editora GAILIVRO, e apoiada pelo Observatório da Literatura Infanto-Juvenil (OBLIJ), pela Delegação Regional da Cultura do Norte (DRCN), pelo Centro de Estudos de Letras da UTAD (CEL), pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB) e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), acaba de ser publicada uma rigorosa e relevante obra que, tendo como destinatários os mediadores do livro e da leitura, não deixará de interessar a professores, educadores, bibliotecários, psicólogos ou a investigadores do âmbito das Ciências Humanas, pelas pertinentes veredas hermenêuticas que abre e palmilha.
Estruturada em torno de três eixos fundamentais – os velhos e os novos mitos, os lugares, gestos e tempos da tradição oral, e a relação destes com a promoção da leitura e de competências várias - , esta obra fala-nos de textos considerados nucleares no contexto de determinadas comunidades interpretativas e dos modos de devolver aos leitores o gosto, o prazer e a voracidade pela leitura.
Demonstrando que, em função de determinados produtos da industria cultural a que as crianças têm acesso (livros, videojogos, DVD, etc), as múltiplas reescritas ora podem concretizar processos de desconstrução paródica e humorística do mundo ora podem reforçar papéis moralizadores e didácticos, expandindo a idealização de certos estereótipos, esta obra apresenta ao seu leitor uma paleta pluridisciplinar de pontos de vista que, auxiliando a uma visão reflexiva e crítica sobre a literatura de potencial recepção leitora infantil publicada no âmbito ibérico e lusófono, em muito contribui para fertilizar uma reflexão colectiva que se deseja e se afigura necessária acerca daquelas que parecem ser as imagens dominantes da infância na literatura que encontra nas crianças alguns dos seus receptores privilegiados.
Trata-se, enfim, de uma obra extensa, cuidada e rigorosa que, resultando de um criterioso processo de selecção das intervenções que tiveram lugar no II Congresso Internacional de Literatura Infantil, realizado em Maio de 2005, na UTAD, merece ser lida.
14 novembro, 2006
Prácticas culturales, discursos y poder en América Latina - Call for Papers
VIII Jornadas de Estudiantes de Postgrado en Humanidades, Artes, Ciencias Sociales y Educación