E se fosse mesmo «Um Problema Muito Enorme – Novíssimos Contos da Mata dos Medos»?
11 dezembro, 2008
Lançamento do terceiro livro que terá lugar no próximo dia 15 de Dezembro, pelas 17.30, no Fórum Romeu Correia, Praça da Liberdade - Almada.
E se fosse mesmo «Um Problema Muito Enorme – Novíssimos Contos da Mata dos Medos»?
25 novembro, 2008
A Fada das Crianças - Fernando Pessoa - Ciclo das Fadas IX
20 novembro, 2008
A Grande Aventura de Beck - Ciclo das Fadas VIII
10 novembro, 2008
Lília e a Planta Misteriosa - Ciclo das Fadas VII
Os elementos que compõem esta nossa terra (sol, terra, fogo e ar) dão-lhes, muitas vezes os atributos com que desenvolvem os contactos com os seres humanos: umas são as fadas que acalmam tempestades do mar, outras apaziguam o vento das montanhas, algumas apagam o fogo das florestas e ainda outras cultivam as flores dos nossos jardins reais ou imaginários, cheios de papoilas, roseiras e trevos perfumados.
A Fada Lília, da nossa história, tinha precisamente este último atributo: ela era a fada que cuidava dos jardins. Era por assim dizer uma fada arquitecta paisagista que se preocupava com a beleza da paisagem, da sua configuração espacial e estética, dos seus valores culturais e biofísicos.(Ribeiro Teles, 2008)
Ela amava as plantas e as flores com todo o seu coração e o seu passatempo predilecto era"deitar-se no cimo do musgo macio, ver a erva crescer"... " pois tinha a certeza de que as folhinhas de erva cresciam mais depressa quando sabiam que ela estava a olhar para elas."
Certo dia, num passeio pela floresta, ("convirá dizer que as fadas nunca passeiam sozinhas na floresta por causa das cobras, das corujas e dos falcões") Lília encontra uma semente desconhecida que, depois de plantada, resultou numa planta feia, malcheirosa e esquisita.
Terá Lídia de arrancar para sempre a planta desconhecida por quem, apesar de tudo,nutre uma ternura especial ? Conseguirá ela impôr-se ao resto da comunidade do Plátano, onde vivem centenas de fadas?
Bom, isso é o que terão que descobrir juntamente com a Rainha Pomba, " o ser mais mágico de todos" que empoleirada no seu Ovo garante a juventude eterna a quem viver sob a sua influência, lá na segunda estrela à direita, da Via Láctea?....
A Festa dos Pastores na Fundação Cupertino de Miranda
Recebi o convite e fiquei mais uma vez emocionada.
Pois bem, ela vai estar de novo por terras do norte e é já no próximo sábado, às 16.30h.
O lançamento, nas palavras do nosso também querido Manuel António Pina, assegura a importância do momento . Quanto às ilustrações, parece-me que só um contacto ao vivo poderá atestar a veracidade deste conjunto, onde escritora e ilustradora brincam de fazer sonhar.
06 novembro, 2008
Um Simples Olá
24 outubro, 2008
A Biblioteca Escolar: promoção da leitura e da literacia
Este espaço foi, até meados do século XX, um repositório de livros, unicamente, em suporte papel, apelidando Jorge Luis Borges, de um modo afectivo, A Biblioteca de Babel.
Na década de 50 e 60, do século passado, o Mundo assistiu à corrida desenfreada dos EUA e da ex-URSS, pela conquista do espaço (Martins, 2007: 7), o que originou um rápido desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, surgindo, entre outros, o computador, o videogravador, a cassete vídeo, a cassete áudio, que, no início, tinha um uso militar e científico restrito, após o qual houve uma democratização, a que a sociedade civil teve acesso.
Do ponto de vista pedagógico, a escola viu uma oportunidade de usar esses recursos, pois eram mais aliciantes, potenciando a utilização da imagem e do som, em contexto educativo. Foi o que sucedeu em Portugal quando foi criado, em 1964, o Instituto de Meios Audiovisuais de Ensino, e da Telescola (Carvalho, 2008: 803), que visavam “a elevação cultural da população”.
No que concerne à biblioteca, a informação podia ser guardada em novos suportes (cassete vídeo e áudio), evoluindo, actualmente para o DVD, CD áudio, CD-Rom, assim como o uso da Internet e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Estavam lançadas as bases de um novo conceito de biblioteca, um centro de recursos multimédia de livre acesso, destinado à consulta e produção de documentos em diferentes suportes.
Deste modo, a leitura múltipla que a sociedade da informação privilegia, reflecte, também, a leitura do mundo (Gonnet, 2007: 37), promovendo uma pedagogia da integração dos saberes.
Em Portugal, na década de 90, o conceito de Biblioteca Escolar evolui para o de Biblioteca Escolar/Centro de Recursos Educativos (BE/CRE), com o apoio da Rede de Bibliotecas Escolares, desde 1997, assistindo à implementação destes espaços ecléticos nas escolas do ensino básico e secundário, de modo que a comunidade educativa, em particular os alunos, tenham acesso à literatura e à pesquisa de informação.
Neste contexto, fomenta-se a animação e promoção da leitura de potencial recepção infanto-juvenil, através da instituição de Clubes de Leitura, junto dos alunos, utilizando blogs, para divulgação de material escrito e plástico e de opiniões sobre literatura, organizando feiras do livro, exposições, concursos literários, convidando escritores, como forma de dinamizar a BE/CRE.
O objectivo derradeiro é criar hábitos leitores nos jovens, fazendo da leitura um acto de prazer gratuito, onde o contacto estético com diversos textos e géneros literários os conduza ao sonho, à imaginação (Steiner, 2007: 46), promovendo a criatividade nas suas práticas educativas, a competência literária e a literacia.
Referências bibliográficas:
ECO, Umberto (2002). A biblioteca. Lisboa: Difel.
GONNET, Jacques (2007). Educação para os Media. As controvérsias fecundas. Porto: Porto Editora.
MARTINS, Jorge (2007). Bibliotecas Escolares/ Centros de Recursos Educativos: cânones e promoção da competência literária. Braga: Universidade do Minho.
PROUST, Marcel (2008). Sobre a leitura. Lisboa: Vega.
CARVALHO, Rómulo de (2008). História do ensino em Portugal. Desde a fundação da nacionalidade até ao fim do regime de Salazar-Caetano. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
STEINER, George (2007). O silêncio dos livros. Lisboa: Gradiva.
19 outubro, 2008
Mês Internacional das Bibliotecas Escolares
09 outubro, 2008
Hoje é o DIA INTERNACIONAL DA LITERACIA.
A promoção da literacia através da literatura infantil é um bom ponto de partida para iniciativas variadas, pois a literatura proporciona um prazer, associado à aprendizagem de competências que se querem significativas e intelectualmente estimulantes.
As crianças de todas as idades e as suas famílias são convidadas a conviver com escritores e ilustradores bem como a participar em inúmeros workshops de escrita e ilustração.
03 outubro, 2008
Sininho e Peter Pan - Ciclo das Fadas VI
Assim diz Tolkian, (2008:65) que desenvolve uma larga e profunda tese, no seu livro “On fairy-stories”, onde espelha a extraordinária génese do seu trabalho, como escritor de mundos fantásticos.
Peter Pan, de J.M.Barrie, é outra história de fadas que queremos partilhar convosco. Apesar de todos conhecermos a história do filme da Disney não será despiciendo ler, de novo, este romance, que se tornou rapidamente num dos famosos livros de literatura infantil, de todos os tempos.
A personagem de Peter, que não quer crescer, de Wendy e dos meninos da Terra do Nunca, que caíram dos carrinhos de bebé por causa de amas distraídas e do Capitão Gancho, com o seu braço de ferro, povoam os mundos da infância já há várias gerações.
Este livro também possui uma fada que pelo seu tamanho pareceria irrelevante num cenário de guerras da Terra do Nunca, entre animais selvagens, índios ferozes e piratas violentos.
Mas, esta FADA possui uma capacidade extraordinária de doação e de inclusivamente morrer por Peter Pan quando este, sem conhecimento do líquido envenenado, o ia beber de um fôlego. Sininho, in extremis, salva-o protagonizando um amor sincero e para lá de todos os limites racionais. Este amor “ (…) é uma possibilidade de vida da própria razão; a razão que renuncia ao amor renuncia à própria vida, à sua própria liberdade. O amor entendemo-lo como possibilidade de sempre transcender.” (Pereira, 2000:76)
Sininho está às portas da morte: “ A sua voz era tão sumida que, a princípio, ele já não conseguia ouvir o que ela dizia. Ela estava a dizer-lhe que acreditava poder melhorar, se as crianças passassem a acreditar nas fadas.”
E elas certamente acreditam pois as suas palmas fizeram Sininho voar logo “mais alegre e despudorada do que nunca” (Barrie, 2005.163) fazendo-nos acreditar que a intenção de um desejo – um projecto – aliada ao gesto de bater as palmas – uma acção – (Carvalho, 95:56) produz um resultado que se assume como impulsionador da realidade, aqui realidade poética, mas que sem dúvida faz parte do mundo empírico histórico factual, pois nós também ainda acreditamos em fadas e também conseguimos voar!
23 setembro, 2008
Histórias da Floresta....e de Fadas - Ciclo das Fadas V
As imagens podem criar oportunidades de desenvolvimento literário e estético tal qual como as palavras. Neste caso, relembram intertextualmente os desenhos de Albert Uderzo criador de Asterix. O movimento imprimido, as cores, as expressões faciais, por exemplo, contribuem para a sua imediata adesão e permitem uma função mimética, no sentido de que nos fazem voltar ao nosso ponto de partida, a infância.
Os temas para além de proporem respostas literárias, propõem também respostas avaliativas e críticas por parte do leitor. O concerto, Quem semeia ventos colhe tempestades, Um quarto de Lua são exemplos desta proposta avaliativa que se pode realizar, e muitas vezes se realiza de facto, de forma espontânea num monólogo interior.
A credibilidade das histórias de fadas não é contestada! Elas são reais, ou sonhadas, como em Alice no País das Maravilhas. Não importa! O importante, de facto, é que elas são mundos alternativos onde o mundo empírico histórico factual só existe para proporcionar uma verosimelhança configurativa. Assim, aparecem os temas A varinha mágica, O espelho mágico e A vingança do anel, a lembrar-nos mais uma vez Tolkian e o seu "Lord of the Rings".
O que são histórias de fadas? Para que servem? Ainda hoje nos perguntamos mas, elas são "...a legitimate literary genre, not confined to scholarly study but meant for readerly enjoyment by adults and children alike. " (Tolkian,1947:12)
16 setembro, 2008
Continuando com o Fóruns Beiriz: Leituras entre mãos
Recensão Crítica
“Sobre o Último Grimm …”
O Último Grimm, de Álvaro Magalhães é a 2ª obra da colecção “Romance Jovem” editado pela ASA Editores, em 2007, que nos transporta para dois mundos diferentes: o nosso mundo (considerado normal) e um mundo irreal, de fantasia e imaginação. Povoado de criaturas mágicas esse “Outro Lado” tem, nesta história, a responsabilidade de revelar o confronto entra o Bem e o Mal.
Esta obra, bem como todas as histórias fantásticas, faz uso da uniformidade própria deste género de narrativa, sem cair, contudo, na repetição e na falta de criação estética.
Habituado ao estilo literário do escritor, justo será afirmar que, mais uma vez, Álvaro Magalhães consegue surpreender-nos chamando à cena personagens resolutas e envolventes. Assim, oriundos da sempre agitada cidade de Londres chegam-nos os irmãos William e Peter Zimmer descendentes dos célebres e bem conhecidos irmãos Grimm.
Não pense o leitor que se vai deparar com uma história cujo contexto histórico e social se baseia nas ideologias do século XIX (embora assim o pudesse ser). Aqui, estamos em pleno século XXI, onde as aventuras se vão passar na Cornualha, em Inglaterra, na Quinta da Pedra Azul e no Mundo das Histórias, que está do “Outro Lado”.
William Zimmer é, de todos, aquele que consegue ver as criaturas que vivem do “Outro Lado”, mas que de vez em quando, visitam os nossos jardins e cidades. A princípio, confuso com tudo aquilo, William renega o que lhe está a acontecer, mas depois, vai se habituando à ideia de que tem, de facto, um dom e uma missão a cumprir porque ele é o Último dos Grimm. Que tem, então de fazer William? Nada de fácil. Esta é, sem dúvida, a resposta!
William é, contudo, um rapaz muito corajoso, persistente, curioso, destemido e fiel aos seus deveres, portanto, sabe que tem de dar o pulo para o “País das histórias”, onde encontrará várias personagens das histórias de encantar, como o Gato das Botas, Winni the Pooh, a Rainha de Copas, entre outros. Todas estas personagens estão em perigo e William tem de actuar rapidamente para salvá-las, inclusivamente, a princesa Ariteia que foi transformada numa bela estátua de pedra e, por isso, privada de vida.
Do “Outro Lado”, enfrentando as trevas do mundo da Criança Terrível, o nosso herói vive as maiores aventuras. Ciente de que tem de triunfar, este jovem empreendedor, com a ajuda dos membros do “Clube dos Amigos das Criaturas” e dos duendes, vence a Criança Terrível e volta a “dar vida” a todas as histórias do passado, onde se podem revisitar os valores ético-morais ligados ao Bem.
O Último Grimm é, sem dúvida, uma obra a ler, recomendada para todas idades.
Aventuras, desafios, medos, receios, mistérios são momentos presentes nesta narrativa onde não se deixam de ler sentimentos de altruísmo, coragem, solidariedade, amor, dedicação e respeito.
Deixamos aqui, o nosso bem-haja a este autor que desde sempre soube e quis encantar os leitores de várias idades.
Trabalho realizado pelo aluno Paulo Silva, do 8º A e corrigido, em trabalho de reescrita colectiva, pela turma.
2007/2008
Trabalho de reescrita a partir da obra Contos da Mata dos Medos, de Álvaro Magalhães
A Nova Viagem do Caracol
O Caracol preparou a mala com tudo o que foi necessário para a viagem. Colocou uma lanterna, um saco-cama, entre outros utensílios.
E lá foi ele para a sua viagem em busca do Lugar Encantado.
Pelo caminho pôs-se a pensar:
– Se ir para esse lugar é não ir a lado nenhum em especial, tal como eu disse ao Ouriço, então se eu acho que devo ir pela esquerda, é porque devo ir pela direita.
E foi pela direita, fazendo isto todo o dia até anoitecer.
– E agora? – perguntou ele a si mesmo.
– Estou muito cansado, preciso de descansar. Mas onde poderei eu dormir? – perguntou a si mesmo o caracol.
De repente começou a chover.
– Não posso acreditar! – exclamou o caracol – e logo eu que não gosto de me molhar! E agora aonde para onde é que vou, caramba? – perguntou o caracol todo aborrecido.
Mas logo de seguida reparou que ali mesmo a frente dele, havia um formigueiro.
– Que sorte. – disse ele todo contente.
E lá foi ele a correr à velocidade veloz de um caracol, claro!
Estava todo molhado e cheio de frio.
– Será que eles me deixam ficar aqui alojado por esta noite? Bem, não custa nada perguntar. – afirmou ele.
E lá foi numa pressa bem aviada.
Mal entrou no formigueiro foi travado por dois guardas que o encostaram à parede. Mas o Caracol escondeu-se na sua casca até os guardas se acalmarem.
– Eu desisto – disse um dos guardas.
– Calma! Eu só quero dormir aqui esta noite, estou todo molhado e muito cansado. Amanhã, bem cedo, saio em busca do Lugar Encantado. – disse o caracol.
Os guardas já cansados acreditaram no caracol e foram falar com a sua Rainha.
O Caracol estava com medo, porque sabia que a Rainha era a maior do formigueiro. Mas quando a viu ficou admirado com a sua altura.
– Que pequena que és! – exclamou ele.
– Não, tu é que és muito grande! – exclamou a Rainha aborrecidíssima com tal reparo.
– Tem toda a razão, desculpe. Posso dormir cá esta noite? – perguntou o Caracol com medo que não fosse aceite.
– Está bem, podes ficar no quarto do meu filho. Mas atenção! Ao menor deslize mando-te prender nas masmorras. – Disse a Rainha.
– OK! – exclamou o Caracol. – Não se preocupe.
E lá foi ele em direcção ao quarto. Quando lá chegou encontrou o filho da Rainha.
– Olá. Eu sou o Caracol. E tu, como te chamas? – perguntou o Caracol.
– Bola de Berlim, mas podes tratar-me por Bolas.
– Bola de Berlim? Que raio de nome! – exclamou o Caracol.
– Nós, as formigas, temos os nomes das nossas comidas preferidas. O nome do meu melhor amigo é Gomas. – disse o Bolas.
– Se fosse assim eu chamava-me o “ Couves”. – riu-se o Caracol.
– Olha lá, sabes onde é o Lugar Encantado na Mata dos Medos? – perguntou o Caracol.
– Nós já não estamos na Mata dos Medos. Isto, aqui, é o Pomar da dona Micas. – disse o Bolas.
– Ai é? – exclamou o Caracol.
– Então tu perdes-te e ficas assim? – perguntou o Bolas
– Sim, porque estou a viver uma nova aventura. – respondeu o Caracol, entusiasmado.
– Não te percebo, mas agora estou com sono e quero dormir. Boa noite Caracol – disse o Bolas
– Boa noite Bolas – respondeu o Caracol.
Quando acordaram foram tomar o pequeno-almoço. Mas o Caracol não gostava muito de bolachas, e por isso, não comeu nada.
Então o Bolas sugeriu que fossem brincar lá para fora.
– Isto aqui é muito bonito! Não sabes onde há couves? Estou cheio de fome! O pequeno-almoço não era lá dos meus preferidos. – disse o Caracol.
– Não gostas de bolachas? Eu gosto muito. – retorquiu o Bolas.
– Prefiro vegetais – afirmou o caracol. – Sou um vegetariano – disse ele num tom de pose estudada.
– Então estás no sítio certo, o Pomar da dona Micas é ao lado da horta do tio Quim.
E foram logo de seguida para a horta.
– Mas tens de ter cuidado com o Rox, um pastor alemão – afirmou o Bolas a estremecer.
– Por que temos de ter cuidado? As ovelhas do pastor atacam? – perguntou o Caracol.
– Não ó nabo! O Pastor Alemão é uma raça de cão. – disse o Bolas.
– O que é um cão? – perguntou o Caracol.
– São animais muito grandes, do tamanho de um arbusto espinhoso, e atacam os animais mais pequenos que eles. A tua a sorte é que ele é ingénuo e pouco inteligente. – disse o Bolas, a estremecer outra vez.
– Mas porque é que dizes que é a minha sorte? Tu não vens comigo? – perguntou o Caracol.
– Achas? Eu não. Ele ainda me come. Mas não te preocupes, se não vieres para o formigueiro ao pôr-do-sol, eu mando uns guardas para te irem resgatar – disse o Bolas.
A fome era tanta que o Caracol, nem pensou no perigo que corria. E lá foi ele em direcção à horta da dona Micas.
Quando lá chegou, estava o Rox a dormitar na sua casota.
– Que sorte! Esta é altura perfeita para eu me consolar, mnhã, mnhã que ricas couves!
Quando o Caracol deu a primeira dentada, o Rox acordou e começou a ladrar, pois tinha farejado algo estranho.
– Quem está aí? – perguntou o Rox a rosnar.
O Caracol tentou esconder-se, mas como era lento não conseguiu. O Rox farejou-o e apanhou-o.
– Quem és tu? E o que fazes aqui? Como te atreves? – perguntou o Rox zangado.
– Sou o Caracol, estava cheio de fome. Como vi muitas couves, pensei que não fazia diferença dar só umas pequenas dentadas. Não foi por mal só queria matar a fome. – respondeu o Caracol cheio de medo.
– Matar a fome? Na minha horta? Não vês que estás a estragar as couves que vão ser servidas no Natal? Eu estou aqui para tomar conta da horta. Tenho ordem para atacar o primeiro intruso que ousar aqui entrar. Dá-me uma boa razão para não te matar. – disse o Rox furioso.
– Porque… Porque… bem se me matares sai um liquido viscoso que é tóxico e pode matar-te. – disse o Caracol tentando safar-se.
– Ai sai? Pois então nesse caso guardo-te numa gaiola para não fugires. – disse o Rox.
– Pois mas muito tempo sem comer faz-me gases e também te podem matar.
– Nesse caso deixo-te aqui sozinho. Tchau! – disse o Rox.
O Caracol ficou sozinho durante muito tempo.
Como o Caracol ainda não tinha voltado, o Bolas pensou que ele corria perigo. Levando dez guardas com ele foi procurá-lo. Mal chegou começaram com a sua missão de resgate, fazendo pouco barulho para não atrair a atenção do Rox.
Mas o Caracol gritou tão alto, que o Rox ouviu e foi lá fora ver o que se passava.
– Por acaso até não! – disse o Bolas
– Se eu fosse a ti não os matava, porque se os matas irá acontecer a mesma coisa que te aconteceria se me matasses. – disse o Caracol.
– Então vou prendê-los contigo – disse o Rox.
– Pois mas se nos prenderes, vêm todas as formigas do formigueiro para os resgatar, e olha que no formigueiro vivem três mil formigas! – exclamou o Bolas.
O Rox, por não saber contar até três mil, pensou que esse número era enorme, e por isso ele ficou muito assustado.
– Com certeza Rox – disse o Caracol tentando não se rir da ingenuidade do Rox.
Quando foram embora para o formigueiro, pelo caminho, o Caracol viu o Chapim a sobrevoar os céus.
O Chapim ouviu o Caracol e desceu, aterrando num ramo de Carvalho.
– Olá Caracol! Como vieste aqui parar? – perguntou o Chapim.
– Vim numa viagem e perdi-me, e o Bolas acolheu-me no seu formigueiro.
– Já chega de apresentações! Chapim leva-me para o largo, porque não sei voltar para lá – pediu o Caracol.
– Obrigado, depois anda visitar-me. Tchau! – despediu-se o Bolas.
E lá foi o caracol às cavalitas do chapim para o largo. Pelo caminho o Caracol pensou: Viver no largo é que bom. La isso é que é, Olarilolé!
Pedro Silva, nº 14, 8º A
15 setembro, 2008
Fóruns Beiriz: Leituras entre mãos
Neste 1º dia de aulas na Escola EB 2,3 de Beiriz, gostaria de deixar aqui, neste blog que tanto prezo, alguns dos trabalhos dos meus alunos. Sei que ele não se presta a este género informação e/ou trabalho, mas julgo pertinente partilhar o quanto se pode fazer usando O Imaginário nas aulas de Língua portuguesa com “gente” cuja idade é considerada problemática e avessa à leitura.
Para todos os envolvidos, o ano lectivo anterior foi protagonista no exercício da leitura e da reescrita. De acordo com as diferentes temáticas apresentadas, os alunos dos 7º, 8º e 9º anos integraram um projecto de parceria com a Biblioteca da Escola e realizaram diferentes trabalhos de escrita para os três fóruns de leitura. De referir que vários trabalhos conseguiram surpreender-nos, quer pela componente estético-linguística que os distinguia, quer pela originalidade.
Cheguei a dizer que, se os trabalhos fossem bons nos vários domínios a cumprir, os colocaria no blog: Mediadores, Livros e Leitores (que eles entretanto já consultavam). Fiquei muito contente com alguns deles e, se “o prometido é devido”, como diz o velho ditado, parece-me não poder faltar à promessa. De facto, na sua quase totalidade (reporto-me aos seleccionados) os trabalhos são bons. Uns de muito boa qualidade, outros mais medianos, mas todos de uma grande significação para mim (que os orientei) e para as minhas colegas de parceria nesta coisas das leituras, que os leram com entusiasmo e também ajudaram na sua correcção. Fica então um muito obrigado às professoras Isabel Silva (que pacientemente ouviu as demais propostas) e Manuela Ramos (que tão gentilmente cedeu os livros da B.E. e também “agarrou” este projecto).
Aos meus alunos deixo um “obrigada” (muito particular) pelos momentos de permuta que tanto nos enriqueceram; aos autores das demais obras, um outro “obrigada”, com um apontamento de grande satisfação; aos restantes participantes, uma nota de incentivo pois muitos mais vão ser os trabalhos a desenvolver.
Gisela Silva
Pequeno comentário à obra
A Rosa do Egipto do Triângulo Jota:
Álvaro Magalhães é, como todos sabem, um prestigiado escritor que escreveu, entre muitos outros livros, a colecção Triângulo Jota, composta, até agora, por dezasseis obras. Este “imaginador”, como ele próprio se denomina, também sabe criar quando se trata dos mais velhos. A nossa professora, trouxe algumas para dentro da sala de aula.
Relativamente a: A Rosa do Egipto (livro que quisemos trabalhar), o mistério e o suspense fazem com que tenhamos cada vez mais vontade de chegar ao fim, longo o nosso interesse pela leitura não é fingido. Em todos os livros, os três jovens formam um conjunto perfeito: a Joana tem sempre o seu instinto apurado, o Jorge é a força do grupo, o Joel, por sua vez, é o intelectual, o pensador.
Assim, quando estão metidos em alguma alhada, todos conseguem sempre sair ilesos, pois apoiam-se e protegem-se uns aos outros.
A Rosa do Egipto, cujo enredo começa na altura do Natal, na confusão das compras (o que nos poderia levar a pensar num mistério numa rua, loja, tenda, ou casa qualquer) roda em volta do Egipto, o que nos faz voar até às pirâmides egípcias e aos seus túmulos ricamente decorados com inscrições coloridas, profundamente simbólicas.
Aqui, as rosas azuis também são um mistério. Tal como o enigma da pirâmide (que só aparece ao meio-dia), as rosas, não só por serem azuis mas também por ser Dezembro e haver rosas, levam-nos à riqueza simbólica do texto. Aventura, ilusão, empreendimento, tudo se mistura com a vontade e a força de criar um mundo ficcional e, de facto, nos últimos capítulos tudo se torna um mistério e a leitura faz-se de forma empolgante.
As emoções do último capítulo são visíveis quando o João dá a mão ao pobre velho momentos antes de este morrer. Sei que é difícil perder alguém que nos é querido, mas pior ainda é ver um pessoa morrer à nossa frente. O escritor soube narrar bem o episódio e mostrar que a leitura para os mais jovens também se faz de coisas e factos muito reais.
Daniela Santos, 8ºC
2007/2008
A partir do estudo da obra dramática “Antes de começar”, de Almada Negreiros, realizamos um trabalho de grupo que achamos poder ser partilhado com outros leitores.
O Boneco
O Boneco chegou a esta Companhia de Teatro, há 2 anos, mais precisamente, no mês de Abril. Desde então esta Companhia tem tido um grande sucesso e o Boneco está satisfeito com o trabalho que tem vindo a desenvolver. Hoje, irá dar mais uma entrevista. Contamos com a presença da prestigiada revista “Marionetas”
Marionetas: Boa tarde. Soubemos que esteve adoentado, já está completamente recuperado?
Boneco: Bem, não foi nada de grave, mas no nosso último espectáculo fiquei com os cordões todos entrelaçados e um dos nós magoou-me imenso.
Marionetas: Sabemos que gosta de trabalhar nesta Companhia de Teatro. Qual o balanço destes 2 anos?
Boneco: É um balanço positivo. Durante este tempo todo, realizamos duas digressões pelo país e atingimos os nossos objectivos. Acho que contribuí para alguns dos melhores espectáculos das duas digressões que já realizamos e isso torna-me feliz.
Marionetas: Sente que se sair no final da próxima digressão, que o faz com o sentido do dever cumprido?
Boneco: Não sei se vou sair no final desta digressão, mas se isso acontecer, parece-me que poderei sair de braços abertos e com um olhar de confiança. Parece-me, contudo, que ainda é muito cedo para falar nisso.
Marionetas: Vamos imaginar que irá sair desta Companhia, que outra o seduziria?
Boneco: Estou apenas concentrado no trabalho que desenvolvo aqui e na digressão deste ano, o resto não me interessa.
Marionetas: Já pensou alguma vez representar em televisão?
Boneco: É o sonho de qualquer actor, mas para já não está nos meus planos.
Marionetas: Quando aqui chegou o que lhe mais chamou à atenção?
Boneco: Sem dúvida a minha parceira Boneca, que é uma excelente profissional e uma amiga como poucas.
Marionetas: Como se sente, sabendo que não é a única marioneta que consegue falar?
Boneco: Sinto-me bem, porque posso comunicar. Antes de descobrir que a Boneca também falava eu não tinha com quem conversar. Já imaginou gente da nossa idade sem falar ou sem comunicar abertamente? Um horror, sem dúvida. Ouvi dizer que os jovens de hoje estão um pouco assim, sozinhos, isso não é benéfico. Todos temos de relacionarmo-nos.
Marionetas: Claro. E por falar nisso, tem alguma relação com Boneca e/ou já tiveram?
Boneco: Já tivemos uma relação, mas uma relação de dois adolescentes, igual à de todos os adolescentes.
Marionetas: Ainda pensa na boneca?
Boneco: Sim, mas só a vejo como uma boa amiga. Bem, já se faz tarde. Se não se importam…
Marionetas: Claro. Muito obrigado pela sua atenção. Quer deixar uma mensagem aos jovens?
Boneco: Sim, claro. Não lhe tomamos mais tempo. Sejam felizes. Escutem o vosso coração!
Os alunos: Joaquim Correia e Miguel Costa, do 8º C
02 agosto, 2008
As Estrelas do mar e o Peixe Prateado juntos de novo!
Nesta história o Peixe Prateado espanta-se com a falta de amor para com a natureza! Para ele a natureza ama-se, sente-se e vive-se... Para ele a natureza é amor como alteridade e reciprocidade. Ela proporciona-nos a vida, o que implica pois amá-la porque, a interdependência e a sobrevivência conjuntas interagem cada vez mais.
Esta história leva-nos a relembrar um outro conto, daquele escritor chileno Luis Sepúlveda. Neste seu conto:" História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar" ele diz-nos também, através da personagem kangah, que:
”Acontecem no mar coisas terríveis. Às vezes pergunto a mim mesmo se alguns humanos enlouqueceram ao tentarem fazer do oceano uma enorme lixeira. Acabo de dragar a foz do Elba e nem podem imaginar a quantidade de imundície que as marés arrastam. Pela carapaça da tartaruga! Tirámos barris de insecticida, pneus e toneladas das malditas garrafas de plástico que os humanos deixam nas praias”. (Sepúlveda, 1996:85)
Aqui, tal como no livro de Francisco Fernandes, não se coloca a questão do legalismo, se é permitido ou não deitar lixo para o mar, mas sobretudo se o outro, a natureza, é considerado como entidade relacional imbuída de alteridade que interage cooperativamente com o eu humano.
O Peixe Prateado deixou de ver: " Não vejo nada e a água do mar está a ficar com um gosto muito estranho e mau!" e por pouco que não morria imerso no crude derramado por aquele petroleiro, tal como a gaivota Kengah, no livro de Sepúlveda:
“ (…) estendeu as asas para levantar voo, mas a espessa onda foi mais rápida e cobriu-a inteiramente. Quando veio ao de cima, a luz do dia havia desaparecido e, depois de sacudir a cabeça energicamente, compreendeu que a maldição dos mares lhe obscurecia a visão.”
Os dois ficaram momentâneamente cegos pela escuridão e foi-lhes portanto negada a sua participação na vida, por causa de uma visão reducionista da realidade que sobrepõe o interesse de uma espécie, à visão partilhada dos recursos terrenos porque, entre todos os seres viventes, (homens animais, plantas, minerais e vegetais) não existe uma experiência física e espiritual, que sem deixar de ter em conta a diversidade, valoriza a união do observador e do observado, formando um nós colectivo.
Como Savater (1993:35) nos pretende alertar: "É pelo conhecimento que nos consideramos livres e homem livre é aquele que quer sem a arrogância da arbitrariedade. Crê na realidade, quer dizer, no elo real que une a dualidade real do eu e do tu."
A relação de alteridade e de reciprocidade tem sido destruída pelos humanos e a natureza sofre com isso. Como último recurso Dias de Carvalho (2001:24) refere que é necessária uma :” educação cívica (...) dos direitos e dos deveres que erige como objectos de acções responsáveis prioritariamente outros indivíduos; por outro, e em simultâneo, uma educação dos direitos que acentua as prerrogativas dos outros relativamente ao próprio. (…) Um para o outro, eis a estrutura do sujeito que, lhe confere, através da responsabilidade, a dimensão do humano".
E acrescenta que se impõe cada vez mais a: “A solidariedade e a tolerância (...) como valores universais da chamada “sociedade planetária”. Insinuam-se mesmo como seus fundamentos éticos no âmbito de uma relação com a sociedade e com a natureza que excede o nível de um mero compromisso moral da consciência”(Dias de Carvalho, 2000:101)
17 julho, 2008
Duas Estrelas do Mar e um Peixe Prateado
Autor: Francisco Fernandes
Ilustrador: Janine Fernandes
Editor: Associação de amigos do Centro de Expressões Artísticas
"Olá estrelas do mar!, respondeu o peixe prateado e continuou: “ Estou sozinho e vou nadando por aqui. Procuro amigos. Bem…na verdade eu nem sei bem o que é isso de ter amigos, acho que nunca tive nenhum, mas…”
Tratando-se de um autor madeirense, já com alguma produção no campo da literatura de recepção infantil, Francisco Fernandes revela, no texto que estamos a compartilhar, conhecer profundamente um dos problemas com que a humanidade hoje se confronta: o isolamento, num mundo globalizado.
Nesta história conhecemos um Peixe Prateado, personagem e herói principal de uma história de amizade, que nos faz ingressar na vida simples de um peixe e da sua incapacidade de se assumir como amigo de alguém. Contudo, por circunstâncias várias do destino, encontrou as estrelas do mar que, sem banalidades discursivas, lhe falam da amizade incondicional e da sua dinâmica criativa, relacional e convivial que implica a mobilização de sentidos perante a vida.
Este tema da amizade, tão comum nos livros para crianças mais pequenas, faz-nos antecipar propostas de alteridade e reciprocidade que nos remetem para as desastradas relações humanas tão separadas, divididas e destruídas apesar de, muitas vezes, tão próximas virtualmente, pela força das tecnologias que nos resguardam de confrontos connosco próprios.
Lembramo-nos de Leonardo Coimbra (1915:105) quando diz que o mal, é a ignorância dos outros, é a queda, a morte como separação, contrária à relação amorosa. Nesta perspectiva, a ignorância dos outros é que constitui o inferno. (Pereira, 2000:129)
O Peixe Prateado estava no seu inferno, sem amigos, e por isso desejava desesperadamente ter alguém com quem partilhar o seu caminho. As estrelas, símbolos de guias espirituais que cruzam os céus/mares ensinaram-lhe a forma de tornar a sua aspiração possível. Ao porem-se em com – tacto com o peixe devolveram-lhe a humanidade perdida permitindo-lhe compreender que os actos de conhecimento do outro, do mundo e do universo são também e acima de tudo actos de estima e de atenção carinhosa, que lhe vão possibilitar encontrar-se com ele próprio e com os seus mais recônditos receios.
No final da história, o Peixe Prateado já sabia o que era ser amigo e tinha interiorizado também aquele sentimento extraordinário, que só a língua portuguesa consegue inteiramente transmitir:
“Agora que já somos amigos…acho que já sei o que é sentir saudades…”
23 junho, 2008
Amadeo e o Mundo às Cores
Ilustrador: Chico
Editora: Ambar
Ano: 2007
Percorrer esta narrativa ficcional sobre Amadeo de Souza-Cardoso (1887/1918), pintor, é encontrar um conjunto de símbolos que captam a atenção do jovem leitor para a observação crítica da realidade e inserem-no nos paradigmas que o levam à compreensão das ideologias de uma determinada época, apontando-as como fenómenos que podem determinar a evolução de uma sociedade.
Usando estratégias reveladoras dos destinatários preferenciais, sobressaem as grandes linhas orientadoras que traçam o perfil humano, artístico e psicológico da personagem destacada, inserida numa época que não lhe facilitou poder dar visibilidade e ver reconhecida a sua criação artística.
Adequando a narrativa ao mundo infantil, o narrador não deixa de incluir nesta ficção biográfica uma entidade feérica que acompanha todo o percurso de Amadeo: está presente no seu nascimento, visita-o durante o sono, é anunciadora dos obstáculos que surgem no percurso incompreendido do artista e chora a sua morte, assumindo uma atitude humanizada na medida em que lhe é impossível impedir o desaparecimento do amigo. Assim, esta Fada introduz o conceito de Fados ou Destino em que a lei natural sobressai como condição obrigatória para o cumprimento da demanda do herói, em lugar de ser atribuído aos seres sobrenaturais o domínio do seu percurso.
Este fenómeno pode derrogar as expectativas do pequeno leitor habituado a ver as fadas com os seus objectos mágicos a resolverem os problemas das personagens, mas aproxima-os na noção de Realidade, dando-lhes a perceber que o acesso à condição de herói se faz por etapas, em demandas exigentes onde o inconformismo ideológico e psicológico surgem como motivação intrínseca para a construção da humanidade autêntica.
Este livro é uma proposta de leitura para todos os que gostam de ler sobre grandes vidas e para aqueles que gostam de dar a ler textos em que essas vidas são ficcionalizadas com arte bastante para que as crianças acedam com facilidade aos ideais, que mais não são do que a sombra projectada pelos ideais assumidos pelos heróis.
Teresa Macedo
05 junho, 2008
COLÓQUIO Padre António Vieira
01 junho, 2008
Ciclo das fadas (IV) - A Fada Oriana
Umas são moças e belas,
Antero de Quental
A fada Oriana, como o próprio texto nos diz, é uma fada boa, bonita, alegre e feliz, a quem um dia a Rainha das Fadas incumbiu a tarefa de cuidar de uma floresta, bem como de todos os homens, animais e plantas que ali viviam. Ela era a fada madrinha de uma pobre velha, de um pobre lenhador e de um pobre moleiro. O mundo exterior (macrocosmo) e mundo humano (microcosmo) estavam a seu cargo e devido a isso foi-lhe permitido usar das suas asas e da sua varinha de condão.
Segundo Chevalier (1999:67), as fadas representam simbolicamente a capacidade que o homem possui para construir, na imaginação, os projetos que ele próprio não pode realizar. De facto, a suprema capacidade de ajudar e cuidar dos outros - sejam eles coisas ou animais - a devoção da ajuda é das tarefas mais difíceis de ser conseguida pelos seres humanos pois "Parece evidente que os homens são levados, por um instinto ou predisposição natural(...)" (Hume.76)
Ao salvar um peixe da morte conseguiu ver o seu reflexo na água e achou-se muito bela e a paixão pela sua beleza empurrou-a para o mundo real, empirico-histórico factual onde o desprezo e o abandono do outro são apanágio da condição humana."Ao voltar-se sobre si própria, sobre a sua imagem física, num explícito movimento egocêntrico, ao qual não falta, inclusivé, a contemplação narcísica nas águas "(Silva, 2) deixou de visitar o poeta e, um por um, foi abandonando todos os homens, animais e plantas que viviam na floresta, à sua sorte.
O castigo, para esta fada, foi sair do paraíso, simbolizado pelos dois objectos que caracterizam as fadas: a varinha de condão e as asas, que lhe foram então negados não os podendo nunca mais usar. Também lhe foi vedado o contacto com todos os seres e animais que aliás, há muito tempo, já tinham partido para longe. Também o poeta, o único ser humano que a podia ver, entrou em estado de tristeza total, ao ser privado do seu contacto e do contacto com a natureza que o nutria de força espiritual.
Ao apartar-se do seu destino primordial e seguindo um caminho manifestamente diferente para o qual tinha sido fadada, "Oriana debate-se numa tentativa sofrida de religação e de reabertura generosa às restantes personagens, procurando repor a ordem inicial e redimir-se do mal provocado (...). (Silva, 3)
O altruismo superou o egoismo assim como o espaço natural predominou sobre o espaço urbano, local onde em última instãncia, vivem nos dias de hoje, todos os males do mundo. Oriana descobriu que "O Mundo só está vivo para a pessoa que desperta para ele. Só o relacionamento com os outros nos desperta do perigo de deixar nossa vida adormecida." (Bettelheim,1976:134)
31 maio, 2008
A Coragem do General Sem Medo
Autor: José Jorge Letria
Ilustradora: Evelina Oliveira
Ano: 2008
Editora: Campo das Letras
Esta narrativa constrói-se através da actuação de uma teia genealógica que, sustentando-se nos pilares fortíssimos da memória, se movimenta num espaço naturalmente edificado, que afasta intencional e deliberadamente esta ficção biográfica do lugar-comum da expressividade, corroborando a iconografia pictórica para expandir, junto dos seus leitores, as dimensões plurissignificativa e polissémica suscitada pelo texto, que faz emergir um dos “temas e figuras da História portuguesa” (2008:36).
A capacidade retrospectiva de um dos intervenientes desta ficção historiográfica – o Avô - contextualiza o enredo, aproximando-o o mais possível de aspectos factuais onde o Conhecimento surge como um capital simbólico que tende a tornar-se absoluto devido a ter sido presenciado e vivido com a “curiosidade infinita de quem quer descobrir o mundo” (2008:9), assumindo-se nesse papel o “neto Gonçalo” (2008:8).
A dinâmica coloquial intergeracional vai construindo o percurso de Humberto Delgado – o General sem Medo – assim designado devido à “coragem que (…), sempre demonstrou (…) sabendo que iria pôr a sua liberdade e até a sua vida em risco” (2008:15), apontando o narrador, nas datas e nos locais, as conexões ao real com o rigor que se exige nos relatos históricos.
Por outro lado, as vozes ficcionais demarcam os registos ideológicos de todos os intervenientes, assinalando os medos, os anseios, os sentimentos negativos, as crenças e as dúvidas, induzindo ao exercício de uma cidadania crítica construída através do saber pensar, questionar e agir.
Se “Gonçalo ficou a pensar no relato feito pelo avô” (2008:18), encontramo-lo no instante da interioridade por excelência – o espaço do sonho – a assimilar os paradigmas simbólicos que o General sem Medo representa em todo o enredo e a liderar o processo de construção da sua aprendizagem numa Escola enunciadora dos tempos mudados, onde a pedagogia colaborativa está representada nas acções dos alunos, na mediação da professora e na atitude participativa da família.
Os componentes emotivos gerados pela interlocução que a criança efectua com a professora (2008:22-25) acentuam mudanças significativas na atitude do adulto que medeia o Saber, sendo visíveis os ensinamentos que anunciam um interior motivado para o exterior real.
Tal facto, incrementa a valorização de Humberto Delgado que, mesmo “tendo em conta as dificuldades e fracassos da fase inicial da sua vida” (2008:36), encetou a busca por um ideário de Liberdade, chegando “até onde ninguém fora antes” (2008:36), surgindo nesta ficção biográfica como um herói que os mais novos tomarão como símbolo da condição do Homem que trespassa as barreiras do real, posicionando-se no lugar “muito distante e luminoso onde se devem sentar todas as pessoas de bem” (2008:39).
Teresa Macedo
22 maio, 2008
Ciclo das Fadas(3) - A Fada Atribulada
E aqui temos nós mais um livro, em que a personagem principal é uma fada! Mas esta, ainda anda na escola, onde a professora Asafirme dirige as suas alunas com amor, sem as deixar desviar, um segundo que seja, das suas obrigações. Contudo, a Fada Atribulada nem sempre está disposta a fazer as actividades da escola das fadas com diligência: " enquanto vestia o uniforme cor-de-rosa e calçava os seus sapatinhos de fada" pensava como "agora as aulas difíceis iam recomeçar!"
As histórias de fadas lembram-me sempre Nietzsche (1872) e a sua relação entre ciência e mito. Ele diz-nos que o aniquilamento do mito determina a expulsão dos poetas da República. Por poetas ele queria dizer os sonhadores, os criadores de utopias, e todos aqueles que carregam a chama do reencantamento. Reencantamento não como uma volta a um passado, mas como uma restauração ideal que reaproprie o presente, naquilo que o presente ofereçe como possibilidade de encanto. As fadas e as suas histórias são isto mesmo! Uma restauração da inocência perdida que todos buscamos e nem sempre sabemos encontrar!
O que queremos dizer com isto? Que muitas vezes o sentido que enunciamos ficou vazio, razão pela qual é necessário reencontrar a verdade da palavra: a união da palavra com a coisa enunciada. Daí a plenitude da poesia e do poder da palavra que as fadas, com a sua varinha de condão, tão bem sabem usar para fazer acontecer os nossos mais ínfimos desejos! Mas para isso, é necessário virar o mundo de cabeça para baixo. ..para podermos encontrar, outra vez, a sensação mágica das coisas.
Quanto à Fada Atribulada, da nossa história, ela ganhou as Olímpiadas das Fadas, que moravam na casa da árvore! Ela teve que saltar, pular, andar a cavalo, trepar pela corda, sempre com a Fada Arrepiada no seu encalço, a pregar partidas de toda a ordem! Os obstáculos vivenciados fizeram contudo da Fada Atribulada uma verdadeira FADA , que usava a sua arte como um exercício sensitivo e intuitivo, para uma nova forma de perceber, estar e pertencer ao mundo, tudo isto ligado a uma busca de soluções para os problemas que nos atropelam e ameaçam a nossa própria sobrevivência.
Termino este pequeno texto, sobre esta fada, que nos remete, como todas as fadas, para os mundos imaginários, apoiados nas raízes do passado e na criatividade do presente e que resgatam poéticas que dão um sentido à vida pela alegria, pelo lúdico e pela imaginação.
20 maio, 2008
Como se fazem as histórias?
O Capuchinho Vermelho em debate
14 maio, 2008
Ciclo das Fadas (2) - As fadas do vento de Anna Dale
13 maio, 2008
Meu Portugal Brasileiro
Título: Meu Portugal Brasileiro
Autor: José Jorge Letria
Editora: Oficina do Livro
Ano: 2008
O romance histórico, recentemente editado, do escritor José Jorge Letria, autor que nos habituou a uma publicação regular de obras destinadas ao público infanto-juvenil, vem preencher um lugar de relevante importância no contexto da sua abundante produção literária, onde o destinatário adulto poderá encontrar conteúdos onde o Real e o Ficcional se entrecruzam, promovendo a compreensão de factos que, devido à sua complexidade e distanciamento temporal, doutra maneira estariam mais arredados da maioria dos leitores.
O Eu narrador, interveniente e espectador, toma a seu cargo a fidelização da factual transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1807, tecendo a trama de um enredo povoado por múltiplos rostos, onde a representação da infância não passa despercebida.
Com efeito, no meio da turbulência da partida, “nessas horas de aflição e de incerteza” (2008:37), encontramos as crianças “excitadas pela emoção do embarque (…), entusiasmadas com a possibilidade de irem conhecer por dentro navios de guerra” (2008:37) e, durante a viagem, “a brincar no convés com pedaço de cordame e inventando jogos com coisa nenhuma, usando apenas esse verdadeiro tesouro humano que é a imaginação” (2008:48).
Esta referência à Criança enquanto ser construtor e imaginante, inserida num contexto disfórico, acentuam o vínculo afectivo doado pela focalização narrativa onde os mais novos se destacam na sua capacidade de adaptação às contrariedades da vida, opondo-se aos representantes do mundo adulto menos receptivos a “lidar com a dureza da realidade” (2008:65).
De facto, no meio de uma agitada turbulência social e política inscrita na historicidade de Portugal e do Brasil, o porta-voz da narrativa deixa emergir um afecto especial por todos aqueles que ficaram mais arredados dos registos históricos, mas que não deixaram de participar, sofrer, agir e interferir nas transformações factuais e ficcionais, actuando junto dos principais intervenientes. O papel desempenhado pelas mulheres comuns que, por oposição às representantes da Corte, assume um estatuto de respeito, de abnegação e de orientação espiritual é disso um exemplo. Leonor, “amante das letras e das ideias novas” (2008:20), Marília que gostava de “ler e de ouvir música e tinha um gosto requintado e exigente” (2008:147), espírito antiesclavagista e partidário da independência do Brasil e Jandira com o seu “dom feiticeiro de enxergar o que os olhos não conseguem ver” (2008:111) são presença e grandes pilares de referência, representantes de um movimento de abertura ao Conhecimento quando se temia este poder nas mãos das mulheres.
O Povo é o rosto colectivo da eficácia simbólica, pois nomeado na degradante situação doada pelo abandono político, representa um Portugal de “espectros e de lamúrias” (2008:125) que só encontra eco da sua condição na histeria e na loucura de D. Maria, que entendia aquela viagem “uma traição à pátria” (2008: 25).
Desta forma, todos aqueles que, não sendo detentores de uma voz poderosa, ganham na ficcionalização um novo estatuto, onde se corporizam os valores emergentes de sempre, apoderando-se de condições que os incluem nos lugares de destaque e de grande observação discursiva, tal como acontece com os escravos, “portadores de saberes muito antigos, vindos do interior da África tribal, onde aprendiam, praticamente desde a hora do nascimento, a ler os sinais que a Natureza tinha para lhes transmitir” (2008:120).
Todos estes rostos são moldados por um artífice hábil em manusear a palavra, que tem o poder de descrever o ínfimo comportamento e de definir os múltiplos sentidos em domínios onde a poeticidade, a ironia e a cientificidade andam entrelaçados.
Se a estratégia de corporizar num narrador a vivência e a percepção de uma realidade multifacetada exerce um efeito dominante nesta ficção historiográfica, estas personagens conferem à narrativa um carácter integrador e valorizador dos que socialmente não são tão destacados e reflectem um acto de criação onde todos os aspectos da mundivivência humana são observados.
A circularidade da demanda do Eu da narração e o contorno das provações que põem termo ao distanciamento de um filho que nunca viu, encontra na exaltação do onírico a força cósmica capaz de doar o equilíbrio à sua interioridade, balizada por princípios axiológicos de permanente abertura à Alteridade, à Liberdade e ao Afecto dedicado a D. Pedro que “ se tornaria imperador de um país soberano” (2008:206).
Sem dúvida que José Jorge Letria ostenta, neste romance, a mestria de quem já percorreu múltiplos géneros literários, traçando as constelações semânticas que vinculam o mundo ficcional e o histórico-factual numa construção de excelente qualidade literária, da qual se deixam aqui alguns registos como convite a umas horas de fruição e de leitura.
Teresa Macedo
25 abril, 2008
O Ciclo das Fadas (1) - As Fadas Verdes
13 abril, 2008
Mozart, o menino mágico
Associo à leitura desta narrativa o poema “O essencial está na música” do mesmo autor, pois a correlação intertextual que se estabelece é íntima no conteúdo e no poder metafórico da linguagem que neles se patenteia, revelando um poeta/narrador conhecedor profundo do “horizonte da música ( 2006:12) e com uma sensibilidade rara à “matéria cantante de que é feita” (2003:397), matéria que se evoca e regista na ficcionalização biográfica de “Mozart, o menino mágico”.
Enunciaria, ainda, a subtileza com que esta narrativa define o destinatário preferencial que, longe de o perspectivar sob um prisma de reduzida competência hermenêutica, dá-lhe mecanismos para decompor a polissemia de alguns termos que são apresentados no espaço cénico da casa, ou seja, o lugar do devaneio (Bachelard, 2003), que a leitura desta obra poderá realizar.
Com efeito, uma “janela” voltada para a “rua” anuncia a “lonjura dos caminhos” (2006:14), que demarcará o percurso predestinado e ascensional de “Amadeu”, menino detentor de uma existência bipolarizada entre o prodigioso e precoce domínio “da música que nasce, irrequieta, dos seus dedos” (2006:14) e um desenvolvimento psico-emocional que o inclui ao longo de todo o acto narrativo na permanência na infância. O facto de ser “sempre menino” (2006:18) confere-lhe um sentido Divino associado à mitologia poética, que observa a infância como uma idade sagrada, miraculosa e sublime, potente e misteriosa, pois encerra o segredo de uma capacidade que o faz “mestre”, instintivamente apaixonado pela música que “abraça o corpo esquivo da palavra” (2003) e é “balanço subtil da alma dentro do texto” (2003).
Ele corporiza um plano imanente que se vai revelando na afirmação das forças que movem a encarnação individual e as directrizes mítico-simbólicas que se lhe associam, configurando-o como um guia imbuído de qualidades superiores, capaz de edificar o cosmos onde se integra: “ele é o único habitante capaz de pôr ordem nesse universo, de lhe dar harmonia, sentido e voz” (2006:30).
Mozart simboliza o “si-mesmo” da harmonia psíquica pois, tal como os deuses criadores do mundo, é capaz de reunir os opostos com total autonomia e liberdade. Concretiza a vivência infantil no acto de tocar, desvinculando-se dos objectos tradicionalmente usados na infância, reactualiza a sua condição de criança ocupante de um mundo adulto, não deixando, porém, de exercer, através da mimese, a ligação a esse mundo: “às vezes, lembra-se que ainda é menino e em vez de música deixa uma pirueta, uma careta na lembrança dos cardeais e duques” (2006.18).
Perante este deambular interior por universos distintos, só no onírico é que concretiza a percepção do real, observando que o triunfo “é um tapete de espantos e vénias que se desenrola a seus pés” (2006:22), porque o milagre da criação não lhe deixa tempo senão para compor “sempre, com uma pressa só igual à de quem corre contra o tempo” (2006:29). Sem dúvida que a vida plena e exaltante encontra no limite temporal a grande barreira que “lhe magoa o peito” (2006:37), porque uma “vida inteira (…) seria breve para toda a música que tem dentro da sua cabeça” (2006:37).
Ambos os textos assinalam a “dimensão trágica do Requiem” (2003) e nos dois há um “pássaro”, símbolo dos ambientes sombrios, nictomorfos, acolhedores do sofrimento e da resistência à Morte. Desta forma, Mozart, a “eterna criança” prepara a sua desencarnação da matéria e a ascensão ao lugar da perenidade da memória. Aqui, e no registo deixado na construção ficcional desta biografia, encontrará o território onde, por excelência, a redenção se efectiva e que, tal como a música, “ninguém a verá cativa/de um ofício de escrita que a ignore” (2003).
Bachelard, Gaston (2003 [1ª Ed. 1989]). A poética do espaço. S. Paulo. Martins Fontes.
Letria, José Jorge (2003). O Livro branco da melancolia in O Fantasma da Obra II. Lisboa. Hugin, 397-398.