Guerra/Paz
SOARES, Luísa Ducla (2002) O soldado João (3ª edição). Porto: Livraria Civilização Editora. Ilustração de Dina Sachse. ISBN 972-26-2047-9.A partir dos 7 anos.
SOARES, Luísa Ducla (2002) O soldado João (3ª edição). Porto: Livraria Civilização Editora. Ilustração de Dina Sachse. ISBN 972-26-2047-9.A partir dos 7 anos.
Luísa Ducla Soares que nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939, onde se licenciou em Filologia Germânica. O seu primeiro livro de poesia data de 1970 e intitula-se Contrato, desde então a escritora tem-se dedicado como estudiosa e autora à literatura infanto-juvenil. Recebeu o "Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro de literatura infantil no biénio 1984-1985" e o "Grande Prémio Calouste Gulbenkian" pelo conjunto da sua obra em 1996. As suas obras encontram-se traduzidas em diversos línguas, nomeadamente francês, catalão, basco e galego.
O Soldado João é uma obra da literatura contemporânea onde, através de uma narrativa, nos é relatado, de um modo brincalhão, as peripécias de um “soldado” na sua incursão pelos caminhos – errados – da guerra. Apresenta-se assim como um conto facecioso, mas, ao mesmo tempo, moral e filosófico ao colocar em confronto valores distintos como a guerra e a paz, com evidente preferência por este último.
Os segmentos da acção desenrolam-se num encadeamento perfeitamente delimitado, bem evidente, por exemplo, nos dois últimos parágrafos correspondentes a duas sequências da história, onde os dois generais inimigos “como [já] era noite, acharam que já passara o tempo da guerra, apertaram as mãos e partiram em paz.” (Soares, 2002:16) e o “soldado João [a personagem principal] sete dias andou até chegar à sua aldeola, onde de novo sacha milho, rega cravos, semeia couves e manjericos.” (idem, ibidem: 18).
Através de uma desconstrução paródica é-nos relatada a história de um soldado “feliz e desengonçado” (idem, ibidem: 4), um menino até aí ligado à tranquilidade do campo, que, sem jeito para a guerra, vai colocando valores como a amizade, a tolerância, a partilha e a alegria em substituição das funções bélicas que lhe são atribuídas. Através do seu modo de agir ele vai alterando os comportamentos e atitudes dos outros intervenientes na guerra e com isso “vence-a” e conquista a paz, regressando ao seu lar tranquilo.
Como estamos a falar de literatura, que apela ao imaginário, e olhando a dicotomia guerra/paz presente em todas as ilustrações à partida o título remete-nos para uma figura-tipo, um combatente, um palco de guerra, mas a sua ilustração mostra-nos um menino franzino e de aspecto hilariante com uma flor na mão. Durante todo o conto a subversão das ilustrações mostra-nos uma guerra que mais não é do que uma confraternização, ao mostrar-nos sempre imagens de momentos de alegria como, por exemplo, a dança do fandango enquanto o soldado João tocava corneta. Ficamos assim, durante toda a obra, perante uma guerra que não o é nem existe realmente, e uma paz que até ao momento final vive e passeia-se livremente pelo “interior” da sua outra “personalidade”, a guerra.
O estranhamento também é encontrado nesta obra, através do soldado João que, depois de ter passado o conto todo a “cultivar” a paz, em vez de terminar a história com uma enxada, saia dela com o único elemento que até aí não tinha sido aparecido em nenhuma ilustração – a espingarda.
Como estamos a falar de literatura, que apela ao imaginário, e olhando a dicotomia guerra/paz presente em todas as ilustrações à partida o título remete-nos para uma figura-tipo, um combatente, um palco de guerra, mas a sua ilustração mostra-nos um menino franzino e de aspecto hilariante com uma flor na mão. Durante todo o conto a subversão das ilustrações mostra-nos uma guerra que mais não é do que uma confraternização, ao mostrar-nos sempre imagens de momentos de alegria como, por exemplo, a dança do fandango enquanto o soldado João tocava corneta. Ficamos assim, durante toda a obra, perante uma guerra que não o é nem existe realmente, e uma paz que até ao momento final vive e passeia-se livremente pelo “interior” da sua outra “personalidade”, a guerra.
O estranhamento também é encontrado nesta obra, através do soldado João que, depois de ter passado o conto todo a “cultivar” a paz, em vez de terminar a história com uma enxada, saia dela com o único elemento que até aí não tinha sido aparecido em nenhuma ilustração – a espingarda.
Esta obra convida o leitor a um constante recurso à sua competência literária, ou à sua experiência de vida, para o preenchimento dos espaços em branco.
Num conto em que as ilustrações o acompanham ao longo de todas as páginas aparecem-nos alguns passos em que esse convite é mais evidente. Uma criança, por exemplo, quando lê o seguinte segmento textual: “Pelos campos fora, o soldado João era a vergonha dos batalhões. Trazia uma flor ao peito, punha as mãos nas algibeiras, coçava o nariz, não acertava o passo.” (idem, ibidem: 4) faz logo uma analogia com o palhaço dos circos, normalmente detentor dessas características. Mas, do mesmo modo pode referir, a partir desse momento, que o papel do soldado João será o de fazer do palco da guerra um palco de alegria, e o de contagiar todos os outros.
Esta obra ao colocar-nos o confronto guerra/paz através da viagem do personagem principal da sua aldeia natal para o palco de guerra, apresenta-se também como uma representação das tensões entre a tradição da aldeia, representada pela tranquilidade e a espiritualidade, e a cidade que opõe a esses valores a modernidade, o material e a ausência de valores espirituais.
Pode ser assim analisada como uma reflexão aos valores da sociedade citadina, em que a autora a expõe ao ridículo através da crítica a certos aspectos, como os valores morais pelos quais esta se rege, e de como eles estão profundamente errados.
Num conto em que as ilustrações o acompanham ao longo de todas as páginas aparecem-nos alguns passos em que esse convite é mais evidente. Uma criança, por exemplo, quando lê o seguinte segmento textual: “Pelos campos fora, o soldado João era a vergonha dos batalhões. Trazia uma flor ao peito, punha as mãos nas algibeiras, coçava o nariz, não acertava o passo.” (idem, ibidem: 4) faz logo uma analogia com o palhaço dos circos, normalmente detentor dessas características. Mas, do mesmo modo pode referir, a partir desse momento, que o papel do soldado João será o de fazer do palco da guerra um palco de alegria, e o de contagiar todos os outros.
Esta obra ao colocar-nos o confronto guerra/paz através da viagem do personagem principal da sua aldeia natal para o palco de guerra, apresenta-se também como uma representação das tensões entre a tradição da aldeia, representada pela tranquilidade e a espiritualidade, e a cidade que opõe a esses valores a modernidade, o material e a ausência de valores espirituais.
Pode ser assim analisada como uma reflexão aos valores da sociedade citadina, em que a autora a expõe ao ridículo através da crítica a certos aspectos, como os valores morais pelos quais esta se rege, e de como eles estão profundamente errados.
1 comentário:
Olá,
Eu sou a Dina Sachse e ilustrei esta obra! Fiquei muito feliz por me aperceber que tinha conseguido passar com as minhas ilustrações exactamente aquilo que pretendia... Quando passaram para as minhas mãos esta história fiquei encantada, ri imenso e a primeira coisa q fiz foi desenhar o soldado João. A figura "trapalhona", sem maldade e amorosa fluiu com um traço expressivo e eu apaixonei-me por esta personagem tão carinhosa e de bom coração que consegue semear amizade em momentos de crise... Quis que os meus desenhos fizessem as crianças rir e sonhar com esta história cheia de metáforas. A vida apresenta-nos sempre dois possíveis caminhos a seguir: o bem e o mal; estão sempre lado a lado e esta história mostra q o caminho mais certo é o do bem... há q mostrar às crianças o lado certo, a alegria, a amizade, a paz! Só quero que o leitor se divirta e se deixe contagiar tanto por esta história como eu quando a ilustrei!
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