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01 junho, 2007


O mistério nocturno
SOARES, Luísa Ducla. (2003). Quem está aí?. Barcelos: Editora Civilização. ISBN: 972-26-2112-2. Dos 4 aos 10 anos de idade.

O livro Quem está aí? é uma obra da autora Luísa Ducla Soares que nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939, onde se licenciou em Filologia Germânica. O seu primeiro livro de poesia data de 1970 e intitula-se Contrato, desde então a escritora tem-se dedicado como estudiosa e autora à literatura infanto-juvenil. Recebeu o "Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro de literatura infantil no biénio 1984-1985" e o "Grande Prémio Calouste Gulbenkian" pelo conjunto da sua obra em 1996. As suas obras encontram-se traduzidas em diversos línguas, nomeadamente francês, catalão, basco e galego.
O título deste livro apela, logo de início, à participação do leitor no processo interpretativo. Através da interrogação Quem está aí?, o texto parece começar um diálogo com o leitor, onde este vai ao texto na expectativa de encontrar o que o título promete e deixa ainda o leitor curioso, através de uma interrogação explícita em que o leitor vai “mergulhar” na obra para saber do que se trata e atribuir-lhe um sentido.
O carácter enigmático do título envolve o leitor de tal maneira que este vê-se tentado a procurar a resposta para aquilo que não lhe é fornecido à partida.
O modo como o significado do título surge, remete desde início à participação do leitor/receptor no processo interpretativo. Através da interrogação Quem está aí?, o texto parece envolver-se num diálogo com o leitor.
Esta é a história de cinco primos que, numa noite como todas as outras, na hora de ir para a cama faziam birra para brincarem mais um pouco.
Contudo, nessa noite acontece algo inesperado que os põe em alvoroço, ouviram bater o portão. A curiosidade era tanta que um a um saíram para tentar solucionar este mistério. Cada uma das personagens vai encontrar algo diferente com que podem brincar quando acordarem. De manhã, qual é o espanto das crianças e do avó quando vêem que o que encontraram na noite anterior não passou de um mero conjunto de “peças” que formavam um todo, um elefante.
Ao longo do texto, o leitor pode activar os seus quadros de referência intertextuais com a obra Os olhos de Ana Marta de Alice Vieira. À semelhança do que acontece com a personagem Marta, que procura incessantemente a verdade, também os cinco primos e o avô procuram resolver o enigma em que se envolvem. Por outro lado, a presença icónica de olhos (em Quem está aí?) parece-nos os olhos que Marta sentia vaguear pelas paredes de sua casa, vigiando-a.
No que diz respeito ao texto icónico esta obra é bastante rica, desde a capa que apela para o jogo, na medida em que o menino utiliza a tromba do elefante como escorrega para se divertir, bem como no corpo de texto, uma vez que as ilustrações são bastante coloridas, possibilitando captar ainda mais a atenção das crianças e permitindo-lhes, através da imaginação, desenvolver a criatividade, autonomia e sentido crítico. O texto icónico serve de intérprete do texto verbal, pois origina uma variedade de sentidos que enriquecem o texto na sua globalidade.
Neste livro, a ilustração antecipa sempre o que o texto nos vai dizer. Contudo, na página do texto, normalmente com fundo branco, existem também pequenas ilustrações. Estas são, na maior parte das vezes, um elo de ligação com a página anterior.
Em suma, o texto transmite-nos alguns valores, embora não estejam implícitos; A coragem por não ter medo do escuro e do desconhecido; a partilha, porque as crianças partilham com os restantes primos o que encontram; o convívio com as pessoas mais velhas que entram na brincadeira com as mais novas; e a liberdade, porque no final da história o elefante vai para a floresta.

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