Lucas, David (2005), Nina Traquina. Ilustração de David Lucas, Lisboa: Gatafunho. ISBN:972-8920-15-6
Nina Traquina é uma obra de David Lucas. Este é o autor e o ilustrador da obra. David Lucas nasceu em Middlesborough, em 1966. Em pequeno, gostava de desenhar e escrever. Anos mais tarde, ingressou na St. Martin Schooll of Art e, depois, no Royal College of Art. Actualmente, vive e trabalha em Londres. O primeiro livro ilustrado por si foi Shaggy anda Spotty, uma fábula escrita pelo último dos Poetas Laureados, Ted Hughes. Além disso, David ilustrou ainda um livro de Malachy Doyle, The Ugly, Great Giant. O último trabalho deste promissor autor infantil é o livro Nina Tranquina.
Esta obra encontra-se no Plano Nacional de Leitura e é recomendada para o 1º ano de escolaridade, destinada à leitura autónoma e/ou leitura com apoio do professor ou dos pais.
Este livro conta-nos a história de uma menina, chamada Nina Traquina, que tem estranhos hábitos de alimentação: ao pequeno-almoço, fatias de pão torrado, duras como cartão; ao almoço, massa cozida, seca como cordel; ao jantar, uma mistura qualquer que mais parece serradura. Um dia, a Nina Traquina encontra um génio que, em troca da sua libertação, lhe concede três desejos. Claro que o maior desejo da Nina é passar a comer qualquer coisa diferente. Então, o génio dá-lhe uma colher mágica capaz de preparar deliciosas refeições. Mas… esta não era a única habilidade de uma colher tão especial. Ela vai transformar a sua casa num barco que levará a nina e sua família a várias ilhas e numa encontraram um pequeno-almoço, depois noutra um almoço e por fim um jantar.
Esta obra não é, sem dúvida, uma caixa silenciosa sobre si mesma, totalmente surda às vozes de outros textos, pois, quando é lida, desperta no leitor um conjunto de outros textos mais ou menos adormecidos, convocando-os para uma participação/cooperação num diálogo tendencialmente ilimitado no tempo e no espaço.
Pode-se inferir que esta obra estabelece diálogo com o conto do Aladino, devido ao facto de a Nina libertar um génio de uma garrafa e este, como forma de agradecimento, conceder-lhe três desejos.
Por outro lado, o momento em que a Nina e os seus familiares estão no barco e dizem: «Terra à vista!», leva os leitores activar os seus quadros de referência intertextuais e a visualizar a história da arca de Nóe.
Ao mesmo tempo, verifica-se que nesta obra existe uma grande colaboração e complementaridade entre as ilustrações e o texto verbal para estabelecer o significado da história, de tal maneira que, para contá-la, temos que recorrer tanto ao que dizem as palavras como ao que dizem as ilustrações. No fundo, as imagens e a sua organização gráfica não estão apenas a confirmar e ilustrar o que diz o texto. Dão-nos informações que, não sendo fundamentais para a compreensão da história, nos desafiam a jogar com os seus significados num palco mais alargado de possibilidades de interpretação. Por exemplo, o tamanho e o tipo de letra não é sempre igual, existem palavras integradas no texto icónico que não estão no verbal, que têm como principal objectivo transmitir sonoridade e movimento. Por outro lado, só tomamos conhecimento das suas características físicas, da família e do espaço em que vive através do texto icónico. Desta forma, podemos constatar que a Nina vive à beira mar e a sua casa é construída através dos vários objectos que o mar traz para a areia. É um local isolado, parado e imóvel. Face a isso, Nina anda sempre triste e sem entusiasmo, tudo é monótono e aborrecido até a sua comida.
Este livro transmite-nos, de certa forma, uma moral/ensinamento: que só nós próprios, com força de vontade e recorrendo ao que nos rodeia (pessoas e objectos), podemos ser felizes e mudar a nossa vida. A Nina também já estava farta da sua vida monótona, aborrecida e foi graças à colher mágica, que simboliza a nossa força de vontade de mudar, que ela conseguiu viajar de barco e, desta forma, ter uma vida mais divertida, alegre e feliz. As próprias cores da ilustração mudam do início para o fim da história, vão-se tornando mais vivas e alegres.
Neste contexto se explica o facto da protagonista da história se chamar Nina Traquina. Normalmente, o adjectivo traquina caracteriza uma pessoa que não está parada, quer sempre coisas novas, diferentes, no fundo é o caso desta menina que não se resignou à vida que tinha e procurou a todo o custo mudá-la.
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