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01 dezembro, 2006

A História da Pequena Estrela – Uma história para crescer


Rosário Alçada Araújo (texto)
Catarina França (Ilustração)
Gailivro Editores, 2005
A partir dos 6 anos.

(Distinguida pelo Prémio Branquinho da Fonseca)


«Era uma vez…», assim começa a história da nossa Pequena Estrela. No entanto, aqui, a fórmula hiper-codificada anunciadora de mais uma história de encantar adquire uma dimensão alargada, centrada no efeito da singularidade e da fluidez estética na qual se inscreve o texto.
Vontade e empreendimento seguem lado a lado a cada página virada, e é através da complexidade semântico-expressiva que o leitor incorre numa leitura polissémica, ajustada quer às deliciosas ilustrações, quer ao texto que ganha contornos cada vez mais significativos à medida que a personagem principal se humaniza e dá a conhecer os seus sentimentos.
A mensagem adopta, desde logo, a experiência de outras leituras que subentendem a ancestral vontade e necessidade da partilha. A Pequena Estrela acata os ensinamentos e conselhos da «Árvore da Sabedoria» e sabe-se, assim, portadora de uma missão. Sem ainda entender muito bem do que se trata, esta procura por todos os meios satisfazer o seu ego de criança, o qual nunca ninguém tinha valorizado e a quem nada era necessário explicar – afinal ela não passava de uma estrela-criança – e realiza feitos maravilhosos sempre com a mesma vontade altruísta de quem procura ajustar-se, ajudando. O processo de iniciação da Pequena Estrela é um processo marcante de auto-confiança e auto-domínio, o que a leva, sem dúvida, ao êxito dos seus empreendimentos, tanto no «Lugar dos Grandes Corações», como no «fundo do lago» ou na «Ilha Escondida» onde alguém, um dia, lerá a sua mensagem.
O leitor apercebe-se que o texto, numa revitalização constante da isotopia da harmonia, da festa e da partilha, brinca num tom sério com diferentes mensagens sugeridas, e os conselhos e advertências, reprimendas mesmo, dadas à nossa anfitriã quanto ao seu ajustamento psico-sociológico no teatro da vida, são uma mais valia para o seu enriquecimento pessoal. Com a «Árvore da Sabedoria», Pequena Estrela fica, por um lado, a saber que tem um grande coração, o que a transforma num ser especial, capaz do cumprimento de uma «grande missão»; por outro que encontrará, a seu tempo, o que efectivamente procura e, por isso, tem de acreditar nas suas potencialidades e nos outros; por outro ainda, que é capaz de ajudar e, assim, se transformar num ser importante para os que contam com ela, e, sobretudo, que jamais deve querer «estar certa do futuro», pois mesmo «…[aqueles] que julgavam ter consigo essa resposta viveram grandes perigos» (Araújo, 2004: 26).
A mensagem mestra desta entusiasmante história para crianças, parece-me estar nesta importante revelação, que se prende com uma outra e que surge já mais no final da história. A velha Árvore da Sabedoria alerta a Pequena Estrela para o facto de esta ter de viver cada dia «a passos curtos», sem querer atropelar o normal curso das coisas. Só assim, mesmo sem conhecer o resultado das suas acções, ela poderá seguir em frente, com a certeza do dever cumprido. Parece-me que a mensagem se estende de igual modo aos mais velhos que têm por tarefa orientar essa vontade imediata que caracteriza as crianças Pequena Estrela, curiosas, corajosas, determinadas e persistentes para que saibam dosear os seus impulsos e controlar as suas frustrações o que, desta forma, as levará a saber sorrir.
Já na recta final, a autora fecha com chave de ouro a história da Pequena Estrela, que se revela, caso alguma dúvida houvesse, como uma criança em crescimento ascendente que, na nostalgia de um ailleurs onde se sentisse útil, procurou positivamente a sua identificação num processo de redescoberta constante, nunca esquecendo, como lhe recomendara a sua amiga, o que aprendeu: «O elefante nunca esquece os passos que dá» (2004: 40).
Em conversa com a autora, descobri que “A história da Pequena Estrela” pretendeu ser, numa segunda estância, um lugar de encontro onde “as crianças aprendessem e crescessem, tirando daí algo de bom para as suas vidas”. Ora, parece-me que até o efeito dilatório do happy end foi também ele conseguido de forma bastante singular. Sabe-se, que a Pequena Estrela, consciente de uma missão cumprida e de muitas outras em mãos, regressa feliz à “sua” casa, lá no firmamento, onde poderá fazer parte da roda gigante de todos os que coabitam com ela. De lá de cima ela terá sempre em mente as experiências vividas e estará sempre atenta, aprendendo a crescer em harmonia.

Gisela Silva

2 comentários:

Anónimo disse...

Oi Gisela.

Adorei seu texto. Onde posso comprar aqui em S. Paulo?

Gisela Silva disse...

Cara Elisabeth,

Só posso ajudá-la com o site da editora, que tem informações sobre a venda de livros.

Vale a pena comprar!

gailivro@gailivro.pt