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29 dezembro, 2006

Ser tudo de todas as maneiras


Letria, José Jorge (2001). O que eu quero ser…. Colecção José Jorge Letria. 2ª Edição – 2001. Editora Ambar.
Ilustração: Chico
ISBN 972-26-2123-8

José Jorge Alves Letria nasceu em Cascais, a 8 de Junho de 1951,é um jornalista e escritor português. Estudou Direito, História e História de Arte na Universidade de Lisboa, sendo pós-graduado em Jornalismo Internacional pela Universidade Autónoma de Lisboa. Como escritor distingue-se na poesia, no conto, no teatro e, sobretudo, na literatura para a infância e juventude. Autor de quase duas centenas de títulos publicados em cerca de 50 editoras diferentes, metade dos quais na área literatura infanto-juvenil. E segundo ele, a sua poesia «é muito marcada pelo amor e pela tentação da felicidade que integra o amor. Uma espécie de sede de absoluto que o amor representa enquanto horizonte.» Tem poemas traduzidos em espanhol, francês, italiano, checo, russo, búlgaro e alemão.
O livro O que eu quero ser…, ilustrado por Joana Quental, insere-se na literatura infanto-juvenil e todo ele é constituído por um texto de composições curtas. O autor neste livro fala daquilo que todas as crianças pensam quando ainda são muito pequeninas, que é o “O que eu quero ser…”. Sendo as respostas das mais variadas e imprevisíveis, o autor retrata no livro isso mesmo, muitas profissões, raças e tudo aquilo que lhes passa pela mente nessa idade.
O autor neste livro vai buscar algumas das características das rimas infantis de tradição oral, sendo as mais evidentes, por um lado a falta de sentido, por outro o encadeamento de repetições paralelísticas, ora de palavras e expressões, ora de sons rimados. Já as composições em verso, à primeira vista, parecem um mero aglomerado de frases rimadas sem qualquer ligação lógica e semântica entre si. No entanto, as crianças têm um grande fascínio não só por uma imagística aparentemente desprovida de lógica, mas também, pelo jogo poético e pelo ritmo. São aspectos particularmente apelativos como estes, que permitem à criança familiarizar-se, de uma forma lúdica, com ritmos, palavras ou movimentos simples. São poemas cuja "evidência sonora" se sobrepõe claramente ao plano da significação, provocando, assim, aparentes faltas de lógica.
Do encadeamento de repetições de palavras, expressões e sons rimados se inferem efeitos de musicalidade e de comicidade. A comicidade é conseguida através da junção de significantes oriundos de contextos aparentemente inconciliáveis. É assim que as composições deste livro são todas elas divertidas, remetendo por vezes para o riso.
As ilustrações também contribuem para um melhor entendimento do livro, porque caracterizam bem a profissão, se for o caso, e as imagens em volta levam as crianças a imaginarem um pouco sobre o que ela é. Mas o texto verbal é, sem dúvida mais rico, porque além de demonstrar aquilo que é ser polícia, por exemplo, demonstra também que não o basta ser, mas é também fundamental respeitar os outros e não abusar da autoridade.
Ou seja, o livro, mais que uma função lúdica, tem uma função moralista, pois leva a que as crianças tenham a noção do que é bom, do que é mau, mas também do que é ser diferente e respeitar isso.
Concluindo, José Jorge Letria, mais que um escritor de literatura infanto-juvenil, é um homem que, através das palavras, retrata aquilo que ainda se vive nos dias de hoje, a discriminação de outras culturas, profissões e raças, não fosse ele antes do 25 de Abril um dos cantores de intervenção da sua geração, mas com este livro apela às crianças para saberem o que é a diferença, que não é mau o ser e que, no fundo, somos todos iguais.

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