Apenas porque quero desejar a todos um feliz Natal e porque tenho saudade de ver o brilho nos olhos das crianças. Sejam felizes e façam a todos felizes, sobretudo aqueles que fazem o nosso sorriso e que esperam, ansiosos, pelo Pai-Natal. Nós, os mais velhos, ainda podemos esperar pelo Menino Jesus!
António Mota (texto)
Júlio Vanzeler (Coordenação e Ilustração)
Gailivro Editores, 2003
A partir dos seis anos
A dedicatória à mãe é de uma ternura e de um apego que só o amor e a saudade podem ditar. Abrir o livro Sonhos de Natal (Mota, 2003) é sentir o passado, o adro da igreja cheio de gente, e ouvir o crepitar da lenha na lareira, onde cozem as batatas, o bacalhau e a tronchuda, lá da horta.
O «Menino Jesus», colocado na manjedoura de forma solene pelo senhor Afonso (Cf., 2003: 40), relembra-me o tempo em que a minha avó contava as histórias de Natal enquanto o Menino Jesus era esperado por todos nós e vinha, embrulhado em paninhos, ao colo da minha mãe para ser colocado nas palhinhas ao tocar da meia-noite.
A saudade perdura ao longo das páginas e a memória da terra, inscrita num discurso que dita a simplicidade estético-discursiva do autor, coloca-nos a par com um passado tornado presente: A Ana, que sonhava com «uma boneca muito grande» (2003: 26) é, hoje, uma mãe esmerada; a Joana que, para além de querer uma boneca, também queria «um trem de cozinha» (2003: 26) é «cozinheira num restaurante» (2003: 27); o Pedro que, ainda menino, queria «um carro de corrida e uma carroça puxada por um burrinho», é taxista lá na terra; o Ricardo que queria «um avião e um barco» (2003: 26), trabalha «no aeroporto de Lisboa» (2003: 28); e o Manuel, que só desejava «Livros que tivessem muitas figuras coloridas e contassem histórias com aventuras extraordinárias e uma gravata vermelha» (2003: 26), transformou-se no homem que nos presenteou com este maravilhoso livro e, que em momentos mais importantes ainda usa, com certeza, a desejada gravata vermelha.
O percurso de cada um de nós poderia inscrever-se nestas páginas e misturar-se devagar com os sentimentos e as sensações que acontecem quando deixamos fluir o nosso pensamento ao sabor da leitura empreendida.
Que saudade me fica daqueles brinquedos desejados há meses e que eu desembrulhava, ávida pelo desejo antecipado da descoberta. Que saudade me fica daquele Natal em que a minha mãe, depois de pousar o menino a sorrir, nos deixou abrir os embrulhos coloridos. Jamais me esquecerei daquela caixa alta e esguia que se destacava entre as duas outras prendas e cujo laço não se desfazia. Sei que o abri de forma solene, com o coração aos saltos. Lá dentro, amarrada por uns elásticos toscos, estava a minha primeira Barbie, com uns cabelos maravilhosamente dourados, que encurtavam ou cresciam consoante eu quisesse (bastava fazer rodar uma alavanca que encaixava na barriga daquela linda mulher). Tinham-na feito vir de França por um tio. Idolatrei-a.
Fi-la princesa, professora, médica, enfermeira, namorada (mais tarde esse mesmo tio mandou-me o Ken) e, claro, casei-a e tornei-a mãe. Nunca mais me esquecerei da minha primeira Barbie que foi durante muito tempo a minha companheira de aventuras nesta aventura que é o próprio crescimento!
O cheiro a canela paira hoje pela casa. Há rabanadas, sonhos de Natal, aletria e leite-creme. O Natal é mágico, pois fala de família, de amor, de ternura, de pais e de filhos, da casa onde nascemos e de todos aqueles que amamos. Sonhos de Natal é, pois um pequeno grande livro que fala de todos os que ainda querem viver o Natal!
Gisela Silva
O «Menino Jesus», colocado na manjedoura de forma solene pelo senhor Afonso (Cf., 2003: 40), relembra-me o tempo em que a minha avó contava as histórias de Natal enquanto o Menino Jesus era esperado por todos nós e vinha, embrulhado em paninhos, ao colo da minha mãe para ser colocado nas palhinhas ao tocar da meia-noite.
A saudade perdura ao longo das páginas e a memória da terra, inscrita num discurso que dita a simplicidade estético-discursiva do autor, coloca-nos a par com um passado tornado presente: A Ana, que sonhava com «uma boneca muito grande» (2003: 26) é, hoje, uma mãe esmerada; a Joana que, para além de querer uma boneca, também queria «um trem de cozinha» (2003: 26) é «cozinheira num restaurante» (2003: 27); o Pedro que, ainda menino, queria «um carro de corrida e uma carroça puxada por um burrinho», é taxista lá na terra; o Ricardo que queria «um avião e um barco» (2003: 26), trabalha «no aeroporto de Lisboa» (2003: 28); e o Manuel, que só desejava «Livros que tivessem muitas figuras coloridas e contassem histórias com aventuras extraordinárias e uma gravata vermelha» (2003: 26), transformou-se no homem que nos presenteou com este maravilhoso livro e, que em momentos mais importantes ainda usa, com certeza, a desejada gravata vermelha.
O percurso de cada um de nós poderia inscrever-se nestas páginas e misturar-se devagar com os sentimentos e as sensações que acontecem quando deixamos fluir o nosso pensamento ao sabor da leitura empreendida.
Que saudade me fica daqueles brinquedos desejados há meses e que eu desembrulhava, ávida pelo desejo antecipado da descoberta. Que saudade me fica daquele Natal em que a minha mãe, depois de pousar o menino a sorrir, nos deixou abrir os embrulhos coloridos. Jamais me esquecerei daquela caixa alta e esguia que se destacava entre as duas outras prendas e cujo laço não se desfazia. Sei que o abri de forma solene, com o coração aos saltos. Lá dentro, amarrada por uns elásticos toscos, estava a minha primeira Barbie, com uns cabelos maravilhosamente dourados, que encurtavam ou cresciam consoante eu quisesse (bastava fazer rodar uma alavanca que encaixava na barriga daquela linda mulher). Tinham-na feito vir de França por um tio. Idolatrei-a.
Fi-la princesa, professora, médica, enfermeira, namorada (mais tarde esse mesmo tio mandou-me o Ken) e, claro, casei-a e tornei-a mãe. Nunca mais me esquecerei da minha primeira Barbie que foi durante muito tempo a minha companheira de aventuras nesta aventura que é o próprio crescimento!
O cheiro a canela paira hoje pela casa. Há rabanadas, sonhos de Natal, aletria e leite-creme. O Natal é mágico, pois fala de família, de amor, de ternura, de pais e de filhos, da casa onde nascemos e de todos aqueles que amamos. Sonhos de Natal é, pois um pequeno grande livro que fala de todos os que ainda querem viver o Natal!
Gisela Silva
11 comentários:
Olá Gisela,
Acordei e como estava tudo em paz aqui em casa vim para o meu PC. Obrigado por tão belo texto.
Que saudade do Natal de antigamente, onde tudo tinha um sentido bem diferente. Fez-me recordar o dia em que recebi o meu primeiro carro eléctrico, nunca mais hei-de esquecê-lo.
Um feliz Natal,
Um abraço.
Natal,saudade e magia...
Não deixe de escrever nunca, você faz-nos sonhar e querer ler esses livros maravilhosos.
Feliz Natal.
Cara Gisela,
Parabéns por este estimulante texto e pelas leituras afectivas que nos proporciona.
Cara Gisela Silva,
Devo confessar que nunca me apeguei muito aos livros de António Mota e este que refere já o li, mas fiquei aquém da mensagem transmitida.
Frequento este blog por curiosidade e simpatia e leio tudo o que faz porque a Gisela escreve com o rigor académico devido, mas com um sentimento muito pessoal, o que é de louvar.
Depois de ter lido o seu texto pensei na noite de ontém e nos momentos que antecederam a chegada do "Pai Natal". De facto as crianças são maravilhosas quando esperam e depois conquistam o que tanto desejaram. Eu também, há muitos anos, fui como os meus netos e até chorei quando o Menino Jesus me trouxe o meu adorado comboio amarelo e verde.
Obrigada,
Tenha um bom Natal.
Cara Gisela Silva,
Aconselharam-me a ler as suas críticas. São textos bem elaborados, onde se sente que ama o que faz.
Um bem-haja. Continue.
P.S Um ano cheio de sucessos e novas leituras. Nós agradecemos.
Cara Gisela Silva,
Cheguei da aldeia e a saudade já está aqui. Que belo texto!
Carinhos.
Gisela,
É tão simples, tão fundo e cheira tanto a Natal o seu texto... é mesmo bonito! Felicito-a por isso.
Deixo um quase segredo: claro que também tenho memórias douradas dos presentes do sapatinho; mas, a minha mais viva lembrança é a do momento em que descobri, depois de me terem dado tantas provas em que não acreditei, que afinal não havia Pai Natal "a sério". Foi o meu primeiro grande desgosto. Deve ser para o compensar que continuo à procura do Pai Natal... e agora posso provar que existe, já encontrei alguns!
ta mt fixe gostaria que editaxe maix livro giros com as belas ilustraçoes de julio Vanzeler..
beijos fofos
e um bj em expecial para o antonio mota e para o julio Vanzeler........................................................................................
ta muito giro
queria que fizesse mais livros com as ilustraçoes do julio vanzeler
bjs fofos
e um beijo em especial para o antonio mota e para o julio vanzeler
Parabens pelo maravilhoso texto...
Ao ler o que escreveu, dei comigo a recordar todos os natais que já vivi. Engraçado acho que até ao Natal de 2006, nunca vivi o natal como deveria ter vivido, nunca senti o Natal como o senti este ano. Em criança o Natal era passado em casa dos avós, a noite de 24 de Dezembro era passada a representar pequenos teatros, tendo como plateia os meus tios e avós. Não por culpa dos meus pais, eu sei, mas o Natal para mim resumia-se a ir para a terra da minha mãe, Montalegre, viver, sentir e respirar o frio e na manhã de 25 de Dezembro abrir os presentes que se amontoavam à volta da majestosa árvore de Natal.
É engraçado que tal como a Ana, a Joana, o Pedro, o Ricardo e o Manuel, os meus presentes de Natal sempre foram "sinónimo" do que um dia eu viria a ser... mediadora, como futura Educadora de Infância. Sempre recebi muitos livros, é verdade que na altura não era o presente que mais gostava de receber. Mas agora orgulho-me de olhar para a minha pequena biblioteca de literatura infantil e ver que está bem apetrechada…
Infelizmente só este ano senti o Natal. Talvez por ter perdido uma pessoa de família à um ano atrás e por só assim me ter apercebido que tenho de desfrutar muito mais da presença das pessoas que amo. Pela primeira vez, senti o cheiro a rabanadas, senti o vapor da aletria ainda quente, ouvi o estalar da madeira na lareira, e vi, observei a alegria, a felicidade e o encanto de uma criança que teimava em não deixar vir o João Pestana até que o Pai Natal chegasse.
Muitíssimo obrigada pelo maravilhoso texto que nos deixou ler...por me ter feito viajar até à minha infância.
Queridos leitores,
Agradeço a todos as vossas palavras de carinho e o facto de, como eu, terem ousado sonhar. Por vezes é bem difícil!
Fica aqui um bom ano para todos e a certeza de que os bons livros hão-de aproximar-nos em momentos de verdadeiras partilhas, pois como dizem os mais sábios "O Natal é quando um homem quiser".
Um abraço,
Enviar um comentário