Translate

20 dezembro, 2006

O Menino Escritor no mundo das palavras


Rosário Alçada Araújo (texto)
Catarina França (Ilustração)
Gailivro Editores, 2005
A partir dos 6 anos.

Com o seu último livro, Rosário Araújo sensibilizou-me, não pela forma como constrói as suas histórias, mas pelo uso de uma subtileza encantadora que se estende ao longo das páginas de O menino Escritor (2006).
Construir com amor e dedicação está, de facto, nos princípios autorais de Rosário Araújo. Contudo, há neste pequeno livro algo de precioso que nos faz sentir a grandeza do texto e das maravilhosas ilustrações de Catarina França (que não me canso de elogiar) que integram um projecto amadurecido de conhecimento e contacto com os leitores mais novos. Aqui, é contada uma história que desvenda uma outra grande história: a história das palavras, presas no filamento do «Livro de Encantar», oferecido pela tia Lili (2006, 7).
A aventura chega-nos pela mão do João, um menino como tantos outros meninos, que vê no primeiro contacto com o livro algo de surpreendente e agradável. A forma como nos são apresentados o «Livro de Encantar», bem como a «Terra dos Encantos» remetem-nos para a forma isotópica da obra e, como se de um enamoramento se tratasse, percebemos que a funcionalidade do sonho e da imaginação são a pedra basilar desta história das palavras e dos sonhos.
Uma das principais particularidades desta história define-se na vontade de mesclar a aventura de João e, por sua vez, a dos outros meninos “João”que compreendem o benefício de pertencer à «Terra dos Encantos». Atentos às investidas empreendedoras da «Fada Tagarela» em educar o João no gosto pela leitura e pela escrita, sentimos uma vontade crescente em, a cada página virada, permanecer presentes em todo o processo de maturação da personagem que não quer ser escritor (2006: 18). Surgem-nos como núcleos organizativos da obra: a temática abordada, o discurso simples e o imaginário humorístico, pincelado de um agradável nonsense, que fazem da história de João uma história de convite à leitura e à própria reflexão.
Bruno Bettelheim diz assertivamente que o conto de fadas tem um efeito terapêutico que assegura à criança uma solução para as suas dúvidas e conflitos internos, pois neles se encontra a riqueza simbólica. Em O Menino Escritor tudo acontece como se de um conto de fadas se tratasse e a certeza de uma tomada de consciência fica bem situada entre o real quotidiano e a imaginação daqueles que fazem um uso acertivo do texto na sua globalidade, procurando os verdadeiros momentos de fruição. Vamos, pois, calçar «as botas especiais (…), com muito algodão na sola» para que não tenhamos os pés assentes na terra, pois «Aquele que tem ambos os pés bem assente na terra está parado» (2006: 22), e partir à descoberta da melhor história para contar.
Gisela Silva

1 comentário:

Gisela Silva disse...

Caros leitores,

Peço desculpa pela repetição da recensão ao livro O Menino Escritor.
Por lapso não me apercebi que a colaboradora Ana Guimarães já tinha feito uma.
Ficam assim dois contributos de um mesmo livro e a certeza de que vale a pena lê-lo.

Como diz alguém que todos conhecemos: «Então, boas leituras».

Gisela Silva