PEDREIRA, Maria do Rosário (2005). A biblioteca do avô.
Ilustração de Joana Quental. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições.
ISBN: 989-552-112-X
Conto infantil
A biblioteca do avô é um livro escrito por Maria do Rosário Pedreira. A autora nasceu em Lisboa em 1959 e é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Franceses e Ingleses), exercendo actualmente o cargo de directora editorial. A sua poesia, caracterizada por uma forte vontade de escrita, é exímia em retratar a dificuldade do amor e a procura da felicidade. Estreou-se em 1989 com o título Água das Pedras, sob o pseudónimo de Maria Helena Salgado e é igualmente autora de ficção e literatura infantil.
Este texto narrativo em forma de conto infantil trata a história de um menino a quem chamavam Nimbo, era muito distraído e o culpado era o avô por lhe contar histórias fabulosas. Um dia, durante as férias grandes, já depois do avô falecer, descobriu que as histórias que ele lhe contara eram imaginárias pois a sua sabedoria provinha apenas das leituras que fizera na sua biblioteca. Foram assim as melhores férias da sua vida juntamente com os livros.
A narrativa inicia-se com a expressão hipercodificada "Era um vez…" (Pedreira, 2005), o que previamente envolve o leitor no mundo da fantasia e do imaginário num universo ficcional. De facto, é um livro educativo e lúdico que permite aos pequenos leitores entrar na história de Nimbo ao longo de toda a narração pois estes são chamados a aperceberem-se de como se pode obter conhecimento e sabedoria através da leitura, bem como a dimensão da literatura que possibilita o impossível, o sonho e a utopia. Assim, o avô, que nunca tinha saído da aldeia, contava aquilo que ele idealizava dos sítios e situações que lera nos livros, contando essas idealizações ao neto em forma de histórias.
Pelo seu conteúdo e aspecto gráfico, este livro pode suscitar interessantes efeitos perlocutivos proporcionando às crianças uma modificação substancial dos seus ambientes cognitivos visto que a literatura não pode ser lida como um espelho, logo, o princípio da ficcionalidade está interligado pois elas podem imaginar-se dentro da história como participantes dela, interpretando-a à sua maneira.
Em todo o livro deparamo-nos com ilustrações fabulosas de Joana Quental que interlaça da melhor forma o texto icónico e o texto verbal na medida em que surgem associados, mantendo entre si uma relação peculiar de interaccionismo sígnico, que origina um novo e complexo objecto passível de leitura em toda a sua riqueza semiótica. Logo ao abrir-se o livro deparamo-nos com umas guardas admiráveis com letras espalhadas ao acaso, o que, juntamente com os paratextos, capa e título, pré-anunciam ao leitor que se irá falar de letras. Algumas ilustrações parecem ter sido feitas através de recortes de papel, tecido ou tinta espalhada ao acaso, bem como alguns desenhos que pela sua simplicidade poderiam ter sido elaborados por crianças. Existem também variações no tamanho e cor das palavras bem como algumas palavras inseridas na ilustração que proporcionam um aspecto gráfico diferente e moderno, tipicamente contemporâneo. A ilustradora quis de facto atrair os mais jovens leitores através da imagem ao utilizar da melhor maneira uma mescla de cores vivas e atractivas através de métodos de ilustração inovadores.
O percurso desta história pode, de certa forma, assemelhar-se a A Ilha das Palavras de José Jorge Letria pois em ambos se faz alusão ao poder infinito da palavra e à sua importância. No fundo, tanto o protagonista em A Ilha das Palavras como o avô em A biblioteca do avô se tornam sábios, repletos de inspiração graças às palavras ou livros que descobriram, realçando-se sempre o sentido educativo em que de valoriza a ideia de que a palavra vale por si só, não sendo necessário conhecer um exemplo físico mas sim a ideia do que temos dela e o que ela significa para nós.
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