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16 janeiro, 2007

Quando não se olha com olhos de ver...

SOARES, L.D., (2003). Quem Está Aí?.Barcelos: Civilização Editora.

Autora: Luísa Ducla Soares
Ilustrador: Maria João Lopes
ISBN: 972-26-2112-2

Quem Está Aí? é uma narrativa escrita por Luísa Ducla Soares que, tal como sugere o título, se reveste de um grande mistério. Esta autora, nascida em Lisboa, em 1939, é licenciada em Filologia Germânica. Após ter estado ligada ao grupo “Poesia 61”, publicou, em 1970, o seu primeiro livro, uma obra poética intitulada Contrato, tendo vindo a dedicar-se à literatura infanto-juvenil. História da Papoila (1973), a primeira das suas 45 publicações para crianças, foi galardoada com o Grande Prémio de Literatura Infantil Maria Amália Vaz de Carvalho, o qual foi recusado por motivos de ordem política. Para além deste, destacam-se o Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro de literatura infantil no biénio 1984-1985, 6 Histórias de Encantar, o Grande Prémio Calouste Gulbenkian (1996) por toda a sua obra e, em 2004, foi candidata ao prémio Hans Christian Andersen. Para além disto, Luísa Ducla Soares assumiu funções de tradutora literária, directora da revista Vida (1971-2), adjunta do Gabinete do Ministro da Educação (1976-8), colaboradora em alguns periódicos e no programa Rua Sésamo, tendo escrito 26 guiões televisivos para a série Alhos e Bogalhos, ocupando actualmente a função de assessora principal da Biblioteca Nacional e desenvolvendo acções de incentivo à leitura junto de escolas e bibliotecas. Das suas obras, várias foram adaptadas para teatro e traduzidas para vários idiomas.
Esta é uma obra que reflecte a curiosidade natural das crianças para quem a experiência dos outros não basta, pois há a necessidade de ir, de ver com os seus próprios olhos e que fala da vontade de permanecer acordado para além da hora de “lavar os dentes, chichi, cama!” (Soares, 2003: 2). Espelha muitas situações do quotidiano em que, face a um mesmo acontecimento, são múltiplas as interpretações possíveis, visto que os olhos de cada um se encontram despertos para ver uma parte da realidade, como acontece com os cinco primos, aos quais se juntam os olhos mitigados do leitor que partilham com as personagens uma mesma vontade, a de descobrir “Quem está aí?”.
Ambos, texto icónico e texto verbal, concorrem para a construção de um sentido e é, a partir da junção de cada um dos elementos da componente pictórica, que se pode aceder ao desvendar do mistério da obra e à mensagem de que se nos centramos apenas num aspecto da realidade, isto impedir-nos-á de vislumbrá-la, tal como é realmente, ou seja, como um todo. Assim, quando não se olha com olhos de ver, não chegamos à essência, ficando pelo parecer…

Recensão realizada por Mª La-Salete Teixeira e Virginie Gomes

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