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30 junho, 2007

Tradução portuguesa: As Ideias da Bia, Minutos de Leitura
Elisabeth Baguley estudou literatura antes de se ter aventurado no ensino, como professora de língua materna. Começou a escrever para crianças, quando percebeu o poder que os livros tinham quando lia, ao deitar, para as suas filhas pequenas e isso permitiu-lhe desenvolver uma escrita simples, mas no entanto cheia de significado, no mundo em que vivemos. O livro Meggie Moon, que em português está traduzido por As Ideias da Bia, conta-nos a história de uma menina chamada Bia que com paciência, preserverança e inteligência consegue entrar no território dos rapazes e fazer valer o seu carisma, depois de eles lhe terem dito que: "Nós não brincamos com raparigas". Então, ela constrói um fantástico carro de corridas e um magnífico navio pirata que deixa os seus amigos rapazes cheios de admiração. Eles terão de admitir que ela, de facto, tem ideias brilhantes...

29 junho, 2007

Leitura e Literatura Infantil em análise

Carminda Correia defende na 2ª feira, dia 2 de Julho, pelas 15h, a sua dissertação de Mestrado em Estudos da Criança - Análise Textual e Literatura Infantil, subordinada ao tema: Leitores de Hoje: uma visita guiada pela Literatura Infantil.

Local: Sala de Actos do Conselho Académico - CP2 - Universidade do Minho (campus de Gualtar, Braga)

Júri:
Prof. Doutor Fernando Azevedo (Universidade do Minho)
Prof.ª Doutora Maria de Lurdes Magalhães (Escola Superior de Educação de Viana do Castelo)
Prof.ª Doutora Renata Junqueira de Souza (Universidade Júlio Mesquita Filho, Presidente Prudente, Brasil)

A entrada é livre.

Formar Leitores: Pais e Professores Protagonistas

Lúcia Barros defende na 2ª feira, dia 2 de Julho, pelas 10h, a sua dissertação de Mestrado em Estudos da Criança - Análise Textual e Literatura Infantil, subordinada ao tema: Formar Leitores: Pais e Professores Protagonistas.

Local: Sala de Actos do Conselho Académico - CP2 - Universidade do Minho (campus de Gualtar, Braga)

Júri:
Prof. Doutor Fernando Azevedo (Universidade do Minho)
Prof.ª Doutora Ângela Balça (Universidade de Évora)
Profª Doutora Renata Junqueira de Souza (Universidade Júlio Mesquita Filho, Presidente Prudente, Brasil)

A entrada é livre.

24 junho, 2007

«O Segredo», de Álvaro Magalhães na Biblioteca Almeida Garrett


A Não Perder:

«O Segredo», de Álvaro Magalhães na Biblioteca Almeida Garrett
Actividade: «História de um segredo» − PortoA companhia Pé de Vento tem mais um espectáculo baseado na obra de Álvaro Magalhães. "História de um segredo" é a peça que se apresenta a partir de 17 de Junho na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto. Aqui ficam os detalhes:História de Um Segredo é a mais recente produção da companhia de teatro Pé de Vento, encenada por João Luiz, a partir de um conto de Álvaro Magalhães. Estreia no próximo dia 17 de Junho, às 16h00, e estará em cena até 30 de Julho, num dos pátios exteriores da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto. O Segredo (2007), de Álvaro Magalhães recria um motivo tradicional, presente em diversas culturas. Um rei poderoso, incapaz de suportar o segredo que guarda desde pequeno, conta-o a um seu criado. “Se o deixares escapar, pagarás com a tua própria vida”, avisa o rei. “É fácil”, pensou o criado, “basta não o contar”. Mas aquele segredo não era um segredo qualquer. Estava vivo. E o que ele mais queria era deixar de ser um segredo. E depois? Bem, esse é o segredo que só o Pé de Vento pode contar.A história de Álvaro Magalhães, encenada por João Luiz, tem cenografia de João Calvário e Cristina Lucas e interpretação de Anabela Nóbrega. Os figurinos são de Susanne Rösler e a música de Tilike Coelho.Data e horário: até 30 de Julhode 3ª a 6ª feira, às 11h00 e às 15h00, para público organizado, e aos sábados e domingos, às 16h00, para o público em geral.Classificação etária: maiores de 4 anos, mas indicada para todas as idades: os actores são verdadeiros profissionais e a história a desenvolver permite uma reflexão entre pais e filhos.Local:Biblioteca Almeida Garrett, no Portotef 22 610 89 24

(2007). «A História de Um Segredo», Porto. [em linha] [consultado em 22 Junho. 2007] disponível em http://agendadosmiudos.blogspot.com/search/label/Assunto:%20Teatro (texto adaptado).

«O Segredo», de Álvaro Magalhães na Biblioteca Almeida Garrett


A Não Perder:

«O Segredo», de Álvaro Magalhães na Biblioteca Almeida Garrett
Actividade: «História de um segredo» − PortoA companhia Pé de Vento tem mais um espectáculo baseado na obra de Álvaro Magalhães. "História de um segredo" é a peça que se apresenta a partir de 17 de Junho na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto. Aqui ficam os detalhes:História de Um Segredo é a mais recente produção da companhia de teatro Pé de Vento, encenada por João Luiz, a partir de um conto de Álvaro Magalhães. Estreia no próximo dia 17 de Junho, às 16h00, e estará em cena até 30 de Julho, num dos pátios exteriores da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto. O Segredo (2007), de Álvaro Magalhães recria um motivo tradicional, presente em diversas culturas. Um rei poderoso, incapaz de suportar o segredo que guarda desde pequeno, conta-o a um seu criado. “Se o deixares escapar, pagarás com a tua própria vida”, avisa o rei. “É fácil”, pensou o criado, “basta não o contar”. Mas aquele segredo não era um segredo qualquer. Estava vivo. E o que ele mais queria era deixar de ser um segredo. E depois? Bem, esse é o segredo que só o Pé de Vento pode contar.A história de Álvaro Magalhães, encenada por João Luiz, tem cenografia de João Calvário e Cristina Lucas e interpretação de Anabela Nóbrega. Os figurinos são de Susanne Rösler e a música de Tilike Coelho.Data e horário: até 30 de Julhode 3ª a 6ª feira, às 11h00 e às 15h00, para público organizado, e aos sábados e domingos, às 16h00, para o público em geral.Classificação etária: maiores de 4 anos, mas indicada para todas as idades: os actores são verdadeiros profissionais e a história a desenvolver permite uma reflexão entre pais e filhos.Local:Biblioteca Almeida Garrett, no Portotef 22 610 89 24

(2007). «A História de Um Segredo», Porto. [em linha] [consultado em 22 Junho. 2007] disponível em http://agendadosmiudos.blogspot.com/search/label/Assunto:%20Teatro (texto adaptado).

23 junho, 2007

África no Feminino. As Mulheres Portuguesas e a Guerra Colonial


Margarida Calafate Ribeiro


África no Feminino. As Mulheres Portuguesas e a Guerra Colonial


Sessão pública de apresentação da obra pela Professora Laura Padilha.

Local: dia 26 de Junho, 18.30 horas, na Livraria Barata, Avenida de Roma, n.º 11-A, em Lisboa.


Margarida Calafate Ribeiro é investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Doutorada em Literatura Portuguesa pelo King's College, Universidade de Londres, foi leitora de português em França e no Reino Unido e professora convidada na Holanda e no Brasil. Para além de vários artigos publicados em revistas da especialidade e em colectâneas de ensaios, é autora de Uma História de Regressos - Império, Guerra Colonial e Pós-Colonialismo (Edições Afrontamento, 2004) e co-organizadora de Fantasmas e Fantasias Imperiais no Imaginário Português Contemporâneo (Campo das Letras, 2003) e de A Primavera Toda Para Ti - Homenagem a Helder Macedo/ A Tribute to Helder Macedo (Editorial Presença, 2004).


A Obra


África no Feminino aborda a vivência e a memória da Guerra Colonial (1961-1974) a partir da perspectiva das mulheres portuguesas que acompanharam os seus maridos nas três frentes de guerra. Nasceu do meu espanto sobre o registo apenas ficcional do rosto destas mulheres, e da generosidade das mulheres que entrevistei quando um dia lhes bati à porta e lhes disse: «Sei que esteve em África. Quer contar?». Através do estudo inicial sobre a presença destas mulheres em África e sobretudo dos testemunhos obtidos, o livro revela outros olhares sobre a guerra, outras razões da guerra, outras vivências do pós-guerra e, naturalmente, outras memórias. Nas suas diferenças e no seu conjunto, os testemunhos recolhidos colocam as mulheres como sujeitos históricos desta guerra e veiculam uma ética de reconhecimento e de responsabilidade solidária capaz de contribuir para gerar uma memória cultural colectiva da Guerra Colonial.


18 junho, 2007

Bibliotecas Escolares/Centros de Recursos Educativos: cânones e promoção da competência literária

Decorrem dia 21 de Junho, pelas 15h00, na Sala de Actos do Conselho Académico (CP II - Universidade do Minho - campus de Gualtar, Braga), as provas de Mestrado em Estudos da Criança - Análise Textual e Literatura Infantil de Jorge Manuel Passos Martins.

As provas são públicas e a entrada é livre.

Constituição do júri:

Prof. Doutor Cândido Varela de Freitas (Universidade do Minho)
Prof.ª Doutora Maria da Graça Sardinha (Universidade da Beira Interior)
Prof. Doutor Fernando Azevedo (Universidade do Minho)

Ler antes de ler: o jardim-de-infância ao serviço daqueles que não sabem ler


Decorrem amanhã, dia 19 de Junho, pelas 10h30, na Sala de Actos do Conselho Académico (CP II - Universidade do Minho - campus de Gualtar, Braga), as provas de Mestrado em Estudos da Criança - Análise Textual e Literatura Infantil de Maria Cristina Veloso Tinoco.


As provas são públicas e a entrada é livre.


Constituição do júri:

Prof. Doutor Fernando Azevedo (Universidade do Minho)

Prof.ª Doutora Maria Gabriel Moreno Bulas Cruz (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

Prof. Doutor Paulo del Pino Fernandes (Universidade do Minho)

13 junho, 2007

Ler é Poder

Heinrich Heine disse 100 anos antes do holocausto que "Onde se queiman livros, queimar-se-ão em seguida homens". De facto, entre 1933 e 1935 queimaram-se 100 molhões de livros na Europa nazi e de seguida cumprindo-se a profecia de Heine queimaram-se 6 milhões de judeus.
O primeiro auto de fé depois da inquisição, ocorreu em Berlim e alguns dos livros que se queimaram provinham da antiga biblioteca de Magnus Hirshgeld. Os livros de autores alemães de origem judaica foram os mais visados mas também de Ernst Hemingway e Aldous Huxley, Jack London, Upton Sinclair e John dos Passos.
Os livros e a literatura devem possuir mesmo um grande poder para serem objecto de tamanho ódio e tão grande animosidade.
Shyloc, na peça Mercador de Veneza de Shakespeare, diz:

Um livro é um livro. É papel tinta impressão.
Se o apunhalam, não sangra. Se o queimam, não grita.
Queimem-se milhares, queime-se um milhão.
Que diferença pode isso fazer?

08 junho, 2007

"O Patinho Feio" de Hans Christian Andersen - Teatro musical de fantoches

ArtEduca – Academia de Música e Artes Famalicão
Centro de Estudos Camilianos




9 Junho, sáb, 18h


10 Junho, dom, 18h


Auditório do Centro de Estudos Camilianos – Ceide


Entrada Livre


"Era uma vez um patinho….um patinho que nasceu diferente…"

A ArtEduca – Academia de Música e Artes de VN Famalicão, vai levar ao Auditório do Centro de Estudos Camilianos a peça "O Patinho Feio", de Hans Christian Andersen, no âmbito das comemorações do bicentenário do nascimento do escritor. O conhecido conto de Andersen vai ganhar forma através dos fantoches criados no Atelier de Expressão Plástica da ArtEduca e da música dos alunos da Academia. Uma oportunidade para revisitar uma das histórias mais emblemáticas da literatura infantil.


Para pequenos e graúdos!

06 junho, 2007

Quando a força de vontade provoca mudança






Lucas, David (2005), Nina Traquina. Ilustração de David Lucas, Lisboa: Gatafunho. ISBN:972-8920-15-6

Nina Traquina é uma obra de David Lucas. Este é o autor e o ilustrador da obra. David Lucas nasceu em Middlesborough, em 1966. Em pequeno, gostava de desenhar e escrever. Anos mais tarde, ingressou na St. Martin Schooll of Art e, depois, no Royal College of Art. Actualmente, vive e trabalha em Londres. O primeiro livro ilustrado por si foi Shaggy anda Spotty, uma fábula escrita pelo último dos Poetas Laureados, Ted Hughes. Além disso, David ilustrou ainda um livro de Malachy Doyle, The Ugly, Great Giant. O último trabalho deste promissor autor infantil é o livro Nina Tranquina.
Esta obra encontra-se no Plano Nacional de Leitura e é recomendada para o 1º ano de escolaridade, destinada à leitura autónoma e/ou leitura com apoio do professor ou dos pais.
Este livro conta-nos a história de uma menina, chamada Nina Traquina, que tem estranhos hábitos de alimentação: ao pequeno-almoço, fatias de pão torrado, duras como cartão; ao almoço, massa cozida, seca como cordel; ao jantar, uma mistura qualquer que mais parece serradura. Um dia, a Nina Traquina encontra um génio que, em troca da sua libertação, lhe concede três desejos. Claro que o maior desejo da Nina é passar a comer qualquer coisa diferente. Então, o génio dá-lhe uma colher mágica capaz de preparar deliciosas refeições. Mas… esta não era a única habilidade de uma colher tão especial. Ela vai transformar a sua casa num barco que levará a nina e sua família a várias ilhas e numa encontraram um pequeno-almoço, depois noutra um almoço e por fim um jantar.
Esta obra não é, sem dúvida, uma caixa silenciosa sobre si mesma, totalmente surda às vozes de outros textos, pois, quando é lida, desperta no leitor um conjunto de outros textos mais ou menos adormecidos, convocando-os para uma participação/cooperação num diálogo tendencialmente ilimitado no tempo e no espaço.
Pode-se inferir que esta obra estabelece diálogo com o conto do Aladino, devido ao facto de a Nina libertar um génio de uma garrafa e este, como forma de agradecimento, conceder-lhe três desejos.
Por outro lado, o momento em que a Nina e os seus familiares estão no barco e dizem: «Terra à vista!», leva os leitores activar os seus quadros de referência intertextuais e a visualizar a história da arca de Nóe.
Ao mesmo tempo, verifica-se que nesta obra existe uma grande colaboração e complementaridade entre as ilustrações e o texto verbal para estabelecer o significado da história, de tal maneira que, para contá-la, temos que recorrer tanto ao que dizem as palavras como ao que dizem as ilustrações. No fundo, as imagens e a sua organização gráfica não estão apenas a confirmar e ilustrar o que diz o texto. Dão-nos informações que, não sendo fundamentais para a compreensão da história, nos desafiam a jogar com os seus significados num palco mais alargado de possibilidades de interpretação. Por exemplo, o tamanho e o tipo de letra não é sempre igual, existem palavras integradas no texto icónico que não estão no verbal, que têm como principal objectivo transmitir sonoridade e movimento. Por outro lado, só tomamos conhecimento das suas características físicas, da família e do espaço em que vive através do texto icónico. Desta forma, podemos constatar que a Nina vive à beira mar e a sua casa é construída através dos vários objectos que o mar traz para a areia. É um local isolado, parado e imóvel. Face a isso, Nina anda sempre triste e sem entusiasmo, tudo é monótono e aborrecido até a sua comida.
Este livro transmite-nos, de certa forma, uma moral/ensinamento: que só nós próprios, com força de vontade e recorrendo ao que nos rodeia (pessoas e objectos), podemos ser felizes e mudar a nossa vida. A Nina também já estava farta da sua vida monótona, aborrecida e foi graças à colher mágica, que simboliza a nossa força de vontade de mudar, que ela conseguiu viajar de barco e, desta forma, ter uma vida mais divertida, alegre e feliz. As próprias cores da ilustração mudam do início para o fim da história, vão-se tornando mais vivas e alegres.
Neste contexto se explica o facto da protagonista da história se chamar Nina Traquina. Normalmente, o adjectivo traquina caracteriza uma pessoa que não está parada, quer sempre coisas novas, diferentes, no fundo é o caso desta menina que não se resignou à vida que tinha e procurou a todo o custo mudá-la.

O tesouro dos livros


Margheriti, Monia (2003), O livro mágico. Ilustração de Monia Margheriti. Maia: Edições nova Gaia. ISBN: 972-712-282-5




O livro mágico é uma obra de Monia Margheriti[1]. Esta é, ao mesmo tempo, a autora e ilustradora da obra.
Este livro fala de um pinguim, chamado mimo, que descobriu, no seu sótão, um grande tesouro – um livro. Esse livro já era de sua mãe. Esta considerava-o um livro mágico, pois, se não o fechasse antes de dormir, «algumas letras, mais indisciplinadas, sairiam para fora das páginas e transformariam tudo numa grande trapalhada».
Mimo, entusiasmado com o livro, acabou por adormecer sem o fechar e, no dia seguinte, encontrou no jardim uma personagem do livro que tinha lido. A mãe aconselhou-o a ir ter com o Velho Sabichão Mil-livros (mocho), o qual, em troca de um bolo, lhe ajudaria a resolver o problema. Quando mimo encontrou o mocho, este emprestou-lhe uma máquina que conseguiu engolir a personagem da história. A partir desse dia, a mãe decidiu passar-lhe a contar as histórias antes de dormir e, assim, não haveria a probabilidade de o mimo se esquecer de fechar o livro e, ao mesmo tempo, ambos estariam mais juntos.
Este livro leva o leitor, desde a sua capa, mais particularmente do seu título, até ao fim da obra, a conhecer e aprofundar mais sobre o verdadeiro mundo dos livros e a magia que eles envolvem
O título da obra introduz, desde logo, o leitor no universo ficcional e, em particular, no domínio do maravilhoso. A nível morfológico, a presença do artigo definido confere qualidades diferentes ao discurso. Valoriza o substantivo, destacando-o, mostrando ao leitor que não se trata de um livro qualquer, mas de um livro dotado de uma singularidade: a sua natureza mágica.
A associação do livro a mágico activará, inevitavelmente, a imaginação e expectativas dos leitores e levá-los-á a inferir que se tratará de um livro diferente dos habituais.
A magia é a arte de produzir efeitos contrários às leis da natureza. O livro terá, então, virtudes ou produzirá efeitos surpreendentes e inexplicáveis.
Na verdade, neste livro há uma ruptura entre a realidade e a ficção, a fronteira entre o sonho e a realidade é muito estreita e demonstra que, por vezes, basta um livro aberto para que a magia das palavras transborde e dê origem a acontecimentos maravilhosos. Isto significa que os livros, ao mesmo tempo que nos “…concedem a possibilidade fantástica de percorrermos a considerável velocidade lugares vários, ficando praticamente imóveis…” (Sousa, 2000:19) e nos fazem estremecer, reflectir, pensar, sonhar, são também capazes, através da suas histórias, contos, magia levar os seus leitores a aprenderem muitas coisas, e, desta forma, passarem a percepcionar o mundo histórico-factual de uma forma mais clara, mais feliz, onde os leitores são mais activos, dinâmicos e não são tão facilmente manipulados e vulneráveis.
Esta obra não é a única onde se verifica esta ruptura entre a realidade e a ficção, também está presente na obra a “Artur e a palavra mágica” de Paulo Tito e em obras de António Mega Ferreira.
Neste livro, as ilustrações contribuem para confirmar a pluri-isotopia do texto e dão-nos a sensação de que estão ali a enriquecer o pitoresco das palavras. As ilustrações, para além de realçar o que está dito no texto verbal, permitem ainda completá-lo, ou seja, não são um apêndice do texto verbal ou algo suplementar, mas sim algo que o completa. Vemos nelas claramente a ruptura entre realidade e a ficção, pois, enquanto a mãe lê o livro ao mimo, deste saem várias personagens infantis (coelhos, anões, ursos, ratos, mocho, porcos bruxas). Também se verifica esta ruptura quando aparece o monstro cor-de-rosa do livro, no meio do jardim do mimo.
Por outro lado, o tamanho e o tipo de letra não é sempre igual, existem palavras integradas no texto icónico que não estão no verbal.
Neste livro, verificamos também, que os livros atravessam gerações e continuam com a mesma magia e com capacidade de encantar quer os adultos, que já os leram, quer as crianças que os vão ler pela primeira vez, pois o livro que mimo encontrou e adorou, já era de sua mãe e era o seu preferido.
Ao mesmo tempo, este livro contribui com uma espécie de conselho para os pais, acerca das vantagens de lerem historias aos seus filhos antes de dormirem, como fez a mãe de mimo. Demonstra que esta atitude, para além de estimular as crianças no gosto pela leitura e escrita, permite a criação de um espaço de intimidade entre os adultos e a criança.
Também constatamos que neste livro há o «fenómeno do dialogismo textual» (Silva, 1990: 625), ou seja, que nele «…se entrecruzam, se metamorfoseiam, se corroboram…outros textos, outras vozes e outras consciências» (idem, ibidem:625). Pois, há uma alusão à história do capuchinho vermelho. Isso infere-se na parte em que a mãe do mimo lhe dá um bolo e diz para o levar ao Velho Sabichão dos Mil-livros para ele, em troca do bolo, os ajudar a resolver o problema da personagem da historia que está no jardim. Ele, pelo caminho, encontra uma família de ouriços-cacheiros que o ajuda a encontrar a casa. O mesmo se verifica, de modo semelhante, no conto do capuchinho vermelho.
Em suma, o “livro mágico” é uma história cheia de doces feitiços para as horas mágicas de leitura. Como refere Rute Gil «um livro nunca é apenas um livro, é um amigo, um confidente, uma aventura ou uma viagem».

05 junho, 2007

O imaginário


DACOSTA, Luísa (2006). A rapariga e o sonho. Colec. “Obras completas de Luísa Dacosta”. Ilustrações de Cristina Valadas. Lugar de publicação: Porto, Edições ASAISBN: 972-41-2730-3


Este livro é da autoria de Luísa Dacosta. Nasceu em Vila Real, em 1927, formou-se na faculdade de letras, Lisboa, em histórico-filisófico. Adaptou para o teatro histórias de tradição portuguesa. É uma das autoras mais premiadas no campo da literatura infantil em Portugal. É autora de livros como: a sombra do mar; sargaço; o perfume do sonho, na tarde; o rapaz que sabia acordar a primavera; nos jardins do mar; robertices; entre outros. A ilustração ficou a cargo de Cristina Valadas. Esta nasceu no Porto em 1965. Desde 1988 tem vindo a expor realizando até à data 18 exposições individuais e participado em diversas exposições colectivas. É ilustradora de vários livros para a infância. Venceu já vários prémios tais como: Almada Negreiros, em 1997 e em 2000 venceu Prémio Maluda e o grande Prémio Gulbenkian de ilustração.
Esta história não começa com a expressão hipercodificada “era uma vez” mas sim “no sonho a liberdade” e contraria as regras ortográficas pois começa em letras minúsculas podendo deduzir que no sonho tudo é permitido até mesmo contrariar regras. Com este livro viajamos ora até um espaço telúrico ora até um outro muito próximo do celestial. Esta viagem é feita pela mão de uma rapariga que sonhava e acaba, de certa forma, por espelhar aquilo que de imaterial marca a existência humana. Existe um desenraizamento do real onde a menina se divide de mãos dadas com os seres invisíveis. A ilustração acompanha o texto e o tamanho dos caracteres, através dela prevemos o desenrolar da história, as imagens fazem-nos viajar pois são de um pormenor muito rico.
Num cativante discurso metafórico, modelado a partir de elementos claramente simbólicos, o texto em conformidade plena com a ilustração solicita uma espécie de “fuga” ao real para assim alcançar a capacidade de sonhar. De invulgar riqueza semântica, A rapariga e o sonho denota um amor á mãe natureza. Caracteriza-se como prosa poética feita de uma naturalidade e de uma maleabilidade muito rara na escrita preferencialmente destinada á infância. A Rapariga e o Sonho torna-se um convite ao imaginário infantil onde a fantasia e o irreal estão sempre presentes.

Todos diferentes todos iguais







COTRIM, João Paulo e Corbel, Alain (2003): A Cor Instável, Porto: Afrontamento. ISBN:972-36-0635-6


Este livro é escrito por João Paulo Cotim. Nasceu em Lisboa, em 1965. Sendo free-lance ainda se acha jornalista. Dirigiu, a Bedeteca de Lisboa, desde a sua abertura até 2002, tendo em consequência organizado um sem número de edições, iniciativas e exposições. Colabora com o programa Sociedade das Belas Artes, da SIC Notícias. Faz crítica de livros no jornal Expresso e de banda desenhada na revista Magazine Artes. É autor de Mar de Tinta, O Perigoso Salto entre um e outro Quadradinho. Assinou A Narrativa do Século – Dois ou três apontamentos sobre a picaresca viagem da banda desenhada pelo século XX incluída em A Arte no Século XX. O seu ilustrador foi Alain Corbail este nasceu na Bretanha (França), em 1965 e reside desde há alguns anos em Portugal. Decidiu tornar-se ilustrador quando se apercebeu de que era uma prática bastante flexível de acompanhar o viajante nas suas deambulações geográficas. Ilustro livros como: O Pássaro Verde, de Alice Vieira, 1994.O Conto do Nadador, de Lídia Jorge, 1996.Yaylalar,2000.Contos da Terra do Dragão, 2000.As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift, de Luísa Ducla Soares, 2002.Contos e Lendas de Macau, de Alice Vieira, 2002
Trata-se de um livro quadrangular de capa dura onde o texto icónico predomina sobre o escrito. É pautado pela construção criativa e, também, pela inovação semântica, por exemplo, no que diz respeito ao desenvolvimento diegético. É um álbum destinado a crianças entre os 2e 8 anos (especialmente).Sendo afinal a personagem uma cor (com configuração humana) nota-se desde o titulo a valorização linguística e pictórica desta e a trajectória é relatada, em exclusivo, no texto. Toda a acção se desenvolve em torno de uma situação de conflito individual em que se debate uma excepcional e solitária Cor ou um estado de desequilíbrio que veremos resolvido completamente e positivamente no desfecho da diegese. O inicio dá-se de uma forma visivelmente económica e condensada do ponto de vista linguístico - “A cor especial sentia-se só”. Em contrapartida, do ponto de vista pictórico, há uma maior valorização pois o desenho ocupa as duas páginas iniciais representando um espaço no qual se inclui, além dos elementos participantes da representação espacial, a protagonista deste história com uma expressão triste. A componente pictórica encontra-se incutida de fortes marcas não só de âmbito maravilhoso, mas também da ordem do absurdo onde um conjunto de traços promove o cómico a partir da recriação visual da história contada. As palavras e as ilustrações oferecem uma junção bem concebida, que poderá contribuir para o estímulo da competência literária e para a promoção do gosto estético e do prazer de uma leitura autónoma.Sendo a personagem principal uma cor é uma forma divertida de trabalhar os sentimentos com as crianças pois podem entender melhor como se sentem em situações parecidas com as contadas na historia identificando-se com a personagem.

Nem tudo o que parece é!



“Quem vê caras, não vê corações”
Autora: M.ª Conceição Galveia Ferreira
Ilustrador: João Tavares
Editora: Edições Nova Gaia
I.S.B.N: 972-712-418-6
Grupo Etário: 6-9 anos


Natural de Moçambique, a autora «Quem vê caras, não vê corações» cresceu em Sacavém e vive, actualmente, no Barreiro. Professora de Língua Portuguesa na margem Sul, Maria da Conceição Galveia Ferreira tem já vários livros juvenis publicados tendo iniciado a sua actividade literária aos 9 anos, escrevendo contos e crónicas para um jornal regional.
Acabadas as férias, os gémeos Filipe e Filipa regressam à escola onde frequentam o terceiro ano. Depois do reencontro com os colegas descobrem que têm uma nova professora. Desiludidos com aqula mulher vestida de preto e de óculos de lentes grossíssimas, os alunos mostram-se pouco calorosos na recepção à professora Clotilde. Contudo, usando a sabedoria e doçura, Clotide acaba por seduzir os alunos e quebrar deste modo a barreira de silêncio que se tinha imposto. Para isso, a professora colocou um chapéu mágico. Mas este não é um chapéu qualquer, este tem o poder de segredar histórias com provérbios dentro.
A obra de M.ª Conceição Galveia Ferreira é uma história simples mas com uma importante lição de vida. Recheada de encanto e polvilhada com magia, este livro inspira-se na sabedoria popular para ensinar que «Quem vê caras, não vê corações». Uma excelente obra para demostrar que o essencial se encontra no coração e não na aparência.
Segundo o professor Marcelo Rebelo de Sousa, autor do prefácio, a obra é «… um contributo singelo, mas com muito mérito para o prazer da leitura, porta de entrada para o prazer da escrita. Um e outro essenciais para mantermos viva e remoçada a língua portuguesa.» O texto icónico apresenta-se como mero complemento ilustrativo ao texto verbal, com desenhos simples, o ilustrador caracteriza de uma forma objectiva as várias personagens que aparecem ao longo da história. O livro da colecção «Histórias com provérbios dentro» tem ilustrações de João Tavares.

E assim aconteceu... AMOR!







“Como a mãe e o pai se apaixonaram”
Autora/Ilustradora: Katharina Grossmann-Hensel
Editora: Editoral Presença
I.S.B.N: 972-23-3642-8


Neste maravilhoso livro infantil vamos ao encontro de uma menina curiosa por saber como os seus pais se sentiram tocados pelo poder do Amor.
Através de uma linguagem simples e acessível às crianças e num registo divertido e bem humorado, a autora conta-nos o percurso da mãe e do pai desde a altura em que eram crianças até ao momento em que as suas vidas se cruzaram ocasionalmente, mudando deste modo os hábitos de cada um.
A mãe que era desarrumada e gostava de tudo o que era colorido, passou a apreciar o preto e branco e a organizer-se. O pai mais cinzentão e arrumado passou a comportar-se como um adolescente. Estas repentinas alterações de personalidade levam ambos a consultar o médico, diagnóstico: estão apaixonados!
As ilustrações são magníficas e riquíssimas, ora a tons de cinzento ora a cores a ilustradora pinta a história do pai e da mãe antes de chocarem um contra o outro na rua. Após este encontro o colorido e o cinzento misturam-se num só. Esta oposição cinzento/colorido reflecte-se também e não só no antagonismo de duas personagens que nada tem de comum até ao dia em que se conhecem e os seus estilos se complementam.
É através do texto icónico que se dá a conhecer uma segunda história de amor entre os animais de estimação do pai e da mãe. Aliás, todo o texto icónico está carregado de simbolismo e de “outras histórias” que o leitor pode identificar sem ler a narrativa.
Uma história que aborda com naturalidade e inteligência, questões tão difíceis de explicar como o amor e a paixão. Para além destes temas a autora aborda também a família, o casamento e a pluralidade cultural.
Um livro para os mais pequenos, a partir dos 4 anos, escrito e ilustrado por Katharina Grossmann-Hensel. A autora/ilustradora nasceu na Alemanha em 1973. Estudou inglês e literatura alemã, espacializou-se em ilustrações para crianças na Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo e trabalha para várias editoras alemãs, austríacas e francesas. Em 2003, Katharina publicou o seu primeiro livro como autora e ilustradora. Actualmente, vive em Berlim e é cooperadora da revista feminina Brigitte.

02 junho, 2007

Contos da Mata dos Medos ou a essência do pueril



Ontem foi o aniversário de um dia bem especial: o Dia Mundial da Criança, talvez por isso, voltei ao ponto de encontro neste nosso blog de partilha para poder, de uma outra forma, desejar imensos dias felizes, ao sabor do Dia Mundial da Criança, a todas as nossas crianças. Por continuar a acreditar que é na descoberta do livro que elas poderão perpetuar a grandiosidade desse dia, proponho-me solicitar a todos os responsáveis pelo seu adequado crescimento que ele se festeje, não apenas de forma festiva como é habitual e uma vez por ano, mas diariamente no simples compromisso da leitura, para que elas se sintam sempre maravilhadas na descoberta do novo e do entusiasmante.






(2003; 1ª ed. Assírio & Alvim)
Texto: Álvaro Magalhães
Ilustração: Cristina Valadas
Colecção: Assirinha
ISBN 978-972-37-0856-1
ACONSELHADO para uma leitura de PARTILHA, onde a vontade de continuar está assegurada!

Apeteceu-me iniciar este texto com um convite bem pessoal e dizer: pegue nos seus filhos ou nas suas crianças, se puder hoje ou, então, num futuro muito próximo, e venha divertir-se e aprender na «Mata dos Medos», que fica lá para os lados de todo o lado, mas onde a vida se lê de uma outra forma.
Esta obra nasceu de um projecto de parceria, levado a cabo por Álvaro Magalhães e Cristina Valadas, e descreve o quotidiano de umas encantadoras criaturas que coabitam numa mata do concelho de Almada. Estas belíssimas criaturas, animais distintos no porte e na determinação, pertencem contudo, dada à mensagem veiculada na obra, não só à «Mata dos Medos», mas a todos os outros pedaços de terra que nos rodeiam e onde ainda se pode ouvir os sons da natureza.
Mais do que uma sugestão, tomarei em consideração o propósito desta leitura que deverá fazer-se de coração aberto e em parceria com os mais pequenos.
O encanto que nos seduz desde a primeira página prende-se com a consistência literária que este conto de contos (como aprendi a chamar-lhe) possui, e que aponta como principais responsáveis a capacidade que ele tem de criar, sistematicamente recriando, momentos de absoluta fruição, bem como a consistência de uma consciencialização face ao dever ecológico de cada um de nós.
Neste universo fascinante, onde a solidariedade e a permuta são verdades essenciais, o desconhecido apresenta-se numa aventura surpreendentemente calma, mas cativante, onde o tempo parece querer parar para uns e correr para outros, originando uma leitura plurissignificativa em valores e aprendizagens.
Criadas à moda dos contos tradicionais para crianças, as personagens dos Contos da Mata dos Medos primam por uma constante busca identitária, onde os valores que defendem – consoante a sua espécie, costumes ou simples vontade – têm um reflexo absolutamente positivo sobre o seu habitat natural. Neste lugar, onde a imagem da vida quotidiana se deixa ler de forma ajustada, tudo se faz à medida de cada um, mas num projecto de profunda partilha para o bem da colectividade. Se uns querem “ouriçar”, como o Ouriço ou a Lagarta (que se nega a fazer tudo o que as outras lagartas fazem habitualmente, e por isso foi baptizada pelo Ouriço de «Processionária-Não»); outros regem o seu modo de vida pelo empenho e pela persistência, como o Chapim que anda «sempre a correr de um lado para o outro e, por isso, nunca [está] em lado nenhum»; outros ainda, como o Coelho, preferem viver em contínuo sobressalto, desconfiando que o pior há-de vir; enquanto que outros como o Caracol optam viver na busca do sonho eterno. Por isso todos os anos, teima em ir ver o mar que nunca viu, o que o torna feliz por fazer «sempre uma grande viagem e tra[zer] muito que contar».
Contagiada pela deliciosa personagem Ouriço, que gosta de «ouriçar de barriga para o ar a apanhar sol (…)», mas que não deixa de interferir assertivamente na vida que se cria à sua volta, procuro apreender essa atitude serena e de absoluta auto-satisfação que a personagem tem para consigo e para com os outros habitantes da mata. Aconchegada na vontade de «ouriçar», deixo-me levar, tal criança curiosa, pelas páginas deste texto e descubro que afinal «ouriçar» não é, de modo algum, partilhar de uma indolência molenga e infrutuosa. «Ouriçar» obriga ao compromisso de realizar uma tarefa de suma importância: ter tempo.
Sugiro, agora, uma sucinta reflexão que nos permita compreender o que é isto de “realizar uma tarefa para ter tempo”. Ficaram admirados? Pois eu também fiquei. É que ter tempo significa estar «muito ocupado a ouriçar», como explica o Ouriço, e «ouriçar» é «o que calhar», ou seja, querer fazer algo, seja o que for, logo que nos satisfaça. Esta forma deliciosa de ser, criada pelo autor permite-nos subverter as normas do habitual e recorrer, em prol da nossa defesa (veja-se que nunca nos passou pela cabeça querer ouriçar!), à dicotomia existente entre o que significante e o significado pois, ter muito o que fazer afinal também pode significar não ter o que fazer, por isso «não fazer» isto ou aquilo, e ousar ter um «dia não». Um «dia não» que é apenas é um dia de não fazer, e não o dia não que costuma ser o responsável pelos nossos azares. É o tal dia que nos permite usufruir daquilo que nos aproxima da verdadeira essência da vida na partilha da própria felicidade, tal como o Ouriço, a Lagarta e, mais tarde, o Chapim que o fazem com agrado.
O jogo dialéctico, que se contemporiza entre as noções da denotação/conotação e na própria criação de expressões neologistas (criadas pelo Ouriço), ajusta-se às vivências e aventuras destes animais e concretiza, mais uma vez, o estilo literário do autor que adora brincar com as palavras, libertando-lhes o sentido. É pois na voz destas personagens que, na «Mata dos Medos», se constrói diariamente a recriação da própria ingenuidade e do estado puro das coisas. Parece-me inclusive que as ideias jovialmente inscritas no texto assistem a uma fluência absolutamente icástica das palavras que, quase soltas, porque libertas, se enfileiram, uma após a outra, na divulgação de uma mensagem plural: a da solidariedade descomprometida, típica dos puros de coração; a da compreensão de uma amizade enraizada no verdadeiro sentido do comunitário; a da partilha e da entreajuda sistemáticas entre os seres biologicamente diferentes, mas socialmente iguais.
Muitas são as ideias que constroem o fundamento desta obra criada à medida do essencial, e muito haveria a contar ainda sobre estes bichinhos irrepreensivelmente admiráveis porque tão puros e transparentes nas suas atitudes e desejos, contudo, ficar-me-ei, e já em jeito de conclusão, por uma questão (primordial ou não) que se prende com o ser-se ou não feliz e que perpassa as folhas deste livro. Esta é pois a «Pergunta Terrível» que todos evitam, mas que foi feita ao Chapim, que nem sabia se era feliz ou não, mas que desde então deixou de dormir e se sente, como afiança aos amigos, infeliz: ««O que se passa contigo?» perguntou a Toupeira. (…) o Chapim desatou a chorar. «É a maldita pergunta», disse, ele, entre soluços. «Não quero pensar nela, mas penso. Não me sai da cabeça. Por causa dela esqueço-me das horas, troco tudo, ando perdido no ar sem saber o que estou a fazer. É horrível»» (Magalhães, 2003: 40). O Caracol, por sua vez, julgando ter visto o mar, de regresso ao lar encontra-se dividido entre o estar feliz ou o já não poder estar feliz só porque já realizou o seu grande sonho: «Até que enfim, Caracol. E que tal é o mar?» Quis saber a Toupeira «É um mar como outro qualquer», respondeu ele sem entusiasmo. «Gostei mais do momento antes de o encontrar. Os momentos durante não são tão bons e o momento depois ainda é pior.» «Não estás contente?» «Estou. Porque vi o mar. Mas também estou triste.» «Porquê?» «Porque vi o mar. Agora que o encontrei, já não o posso procurar»» (2003: 53).
Esta reflexão, sobre algo tão difícil como o suposto conhecimento do que é afinal ser-se feliz, obrigar-me-ia a uma reflexão minuciosa sobre os hábitos, quantas vezes contrários à prosperidade do cosmos e da própria harmonia que defendemos como nossos e a uma avaliação pessoal, mas não é este o propósito deste texto. Desejo apenas que fiquemos a pensar e que pensemos, sobretudo, no tempo que dispensamos, de relógio em punho, às nossas crianças.
Num apego forte à mensagem aqui presente, quero apenas salientar que este texto, criado a partir do olhar atento e circundante, regista nos vários momentos em que se constrói, a preocupação autoral do belo, do simples, e do amor pelos animais, o que o transforma num pedaço de terra lavrada onde se cumprem a excelência do culto ao puro e ao natural. Acrescento ainda que o dom especial que particulariza a escrita de Álvaro Magalhães nos assegura que a certeza da satisfação plena se faz quando reconhecemos, que «apenas [estivemos] a ser», como aconteceu com o ansioso Chapim da «Mata dos Medos» que, por fim, aprendeu a estar «só a ver, a cheirar, a ouvir», o que lhe permitiu sentir algo que nunca tinha sentido: «respi[ar] profundamente, e a mata inteira respi[ar] com ele».
Gisela Silva

01 junho, 2007

Dia 1 de Junho, 21h30


A fantasia do escuro


MACHADO, David (2006), A noite dos animais inventados. 1ªedição. Ilustração de Teresa Lima. Lisboa: Editorial Presença.
ISBN: 972-23-3550-2
Conto Infantil


O livro intitulado por A noite dos animais inventados foi escrito por David Machado que nasceu em 1978 e é licenciado em Economia. Ganhou recentemente o Prémio Branquinho da Fonseca 2005 da Fundação Gulbenkian com este livro e além deste, também ganhou outros prémios.
Neste livro conta-se a história de um menino chamado Jonas que numa certa noite não conseguia adormecer. Então fechou os olhos e inventou uma galinha mas quando os abriu ela continuava lá. Foi aí que os seus irmãos acordaram e também a viam, começando eles também a inventar outros animais até o quarto ficar repleto deles. Já de manhã inventaram uma estação de comboios para os animais fugirem e nesse instante os pais entraram no quarto para acordá-los.
É um conto narrativo muito divertido especialmente para as crianças e é capaz de lhes proporcionar uma modificação substancial dos seus ambientes cognitivos pois a literatura não pode ser lida como um espelho. Logo, o princípio da ficcionalidade pode ser explorado pelas crianças ao analisarem o poder mágico do sonho, podendo também imaginar-se como protagonistas da história. Além disto, a literariedade está presente pois a história permite ao leitor fazer uma relação entre o que lê e a realidade na medida em que esta situação de Jonas ter medo do escuro é um episódio habitual nas crianças.
As ilustrações ficaram a cargo de Teresa Lima que nasceu em Lisboa, em 1962. É licenciada em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes da Universidade de Lisboa e iniciou a sua actividade como ilustradora em 1990. Em 1998 ganhou o Prémio Nacional de Ilustração, pelo conjunto de ilustrações de uma versão de Alice no País das Maravilhas de Lewis Caroll e em 1994 foi nomeada para a Lista de Honra da IBBY. Neste conto, A noite dos animais inventados, fez uma separação clara entre o texto icónico e o texto verbal pois normalmente não aparecem juntos, sendo que na maioria das situações aparece numa página o texto e noutra as imagens. Mas, apesar disto, as ilustrações em tudo se relacionam com o texto e acabam por se complementar. Em relação ao texto icónico, é de salientar que as ilustrações apesar de coloridas não apresentam cores muitos vivas, o que se torna pouco apelativo para os mais novos. Em contrapartida, todas as ilustrações estão bem elaboradas dando impressão que nem todas foram feitas com a mesma técnica. Algumas dão a impressão que foram pintadas com lápis de cor, outras com pincel ou óleo e ainda algumas através de recortes de tecido. Relativamente ao texto verbal, é de referir que o aspecto gráfico está adequando às crianças visto que o tamanho das letras é grande e as linhas suficientemente espaçadas para evitar enganos na leitura. Todo o texto é bastante perceptível e foi construído numa linguagem simples e clara tornando fácil a sua compreensão. Os paratextos (capa e título) indicam logo à partida o que se irá tratar no livro pois o título interliga-se com a ilustração onde estão representados vários animais. A capa é bastante dura e as folhas são mais espessas que o habitual, o que permite uma maior durabilidade do livro, facilitando o seu manuseamento e das próprias folhas.
Por fim, o modo como finda o conto é bastante subjectivo, representando um espaço em branco, pois as crianças podem interpretá-lo à sua maneira: podem considerar que todo o enredo com os animais fora um sonho de Jonas, podem achar que os irmãos passaram a noite acordados a inventar animais ou podem pensar que os animais existiam mesmo apesar de serem fruto da imaginação. Obviamente que as crianças podem não se aperceber da abundância de sentidos e plurissignificações que este livro comporta e para isso, educadores, professores e pais devem auxiliar as crianças servindo de mediadores para lhes possibilitar o desfrute do livro. E, é por todos estes motivos que esta é uma história fantástica que com todo o mérito ganhou o prémio Branquinho da Fonseca 2005 e possui também uma edição em braile.

A eternidade




TEIXEIRA, José Rui, (2005). Horizonte. 1ªedição.
Ilustração de Joana Quental. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições.
ISBN: 989-552-120-0
Conto infantil

Horizonte é um livro escrito por José Rui Teixeira que nasceu no Porto, em 1974. É licenciado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa e mestre em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É professor no colégio Luso-Francês e teólogo do Centro Catecumenal da Igreja do Porto. É também autor de vários livros de temas diversos e de outros desta mesma editora (Quasi Edições): Quando o Verão Acabar, Para Morrer, O Fogo e outros utensílios da Luz e Assim na Terra.
Neste conto infantil narra-se a história de uma menina que estava sentada junto à janela e tinha uma caixa vermelha ao colo repleta de fantasia. E, ao olhar para dentro dela e através da janela via o horizonte ao longe, entendia o silêncio, a paciência, o riso e até mesmo o passado. É uma história que nos faz pensar sobre a vida e em tudo o que nos rodeia pois esta menina pensava em tudo olhando simplesmente para o horizonte, preenchendo com os seus pensamentos, uma caixa que apesar de vazia lhe parecia cheia.
Neste livro fala-se em vários temas, especialmente no passado, na eternidade e na morte pois nesta caixa encontra-se, de certa forma, tudo aquilo que é inexplicável ou que não chegou a ser dito ou feito tal como os sonhos dos homens. De facto, a menina sentia um poder enorme ao olhar para a caixa pois conseguia ver aquilo que aparentemente não existe pois só habita no nosso pensamento se acreditarmos na eternidade da vida e tivermos esperança pois o que é e quem nos é importante nunca morre, vivendo para sempre dentro de nós. Em continuidade com o que foi referido, é de salientar o modo como o tema da morte é tratado visto que é feito com muita naturalidade, facto que não se presencia em muitos livros infantis. “De vez em quando cantava melodias tristes que ela ouvira certamente da boca dos mortos…” (Teixeira, 2005) Comporta assim uma novidade semiótica ao incorporar novos temas, facto tipicamente contemporâneo.
Ao longo da narrativa, as crianças podem activar os seus quadros de referência intertextuais quando se fala no mar e noutros elementos que relembrem os descobrimentos portugueses e até mesmo a morte de pessoas no mar que não chegaram a aparecer, o que se presencia em frases como: “…e os seus pequenos dedos imprimiam na superfície do plástico antigas histórias de gente que não mais voltara do mar.” (Teixeira, 2005) ou “…e a madeira cheirava a madeira e alguma coisa nela me dizia que outrora fora barcos.” (Teixeira, 2005).
As ilustrações são de Joana Quental que nasceu em 1969 e é designer, ilustradora e docente. É licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes do Porto e mestrada em Arte Multimédia. A sua actividade profissional tem-se repartido pelo desenho animado, multimédia, produção de material escolar, genéricos de televisão e ilustração de livros didácticos e literatura infantil. Recebeu a Menção Honrosa no Concurso Nacional de Ilustração Infantil. Neste conto, a ilustradora relaciona intimamente o texto icónico e o texto verbal pois estão associados. As imagens utilizadas no texto icónico são muito coloridas e atractivas e um bom exemplo é a representação do cabelo da menina que por ser tão longo consegue figurar o longe. Igualmente algumas palavras ou frases estão incluídas nas imagens, o que torna este tipo de ilustração inovador. E, ainda antes de se folhear o livro, podem-se observar umas guardas que tem uma ilustração com um elemento em comum com a capa que é uma caixa vermelha. Contudo, a caixa na capa está fechada e nas guardas encontra-se aberta. Os paratextos (capa e título) podem causar, à primeira vista, um certo estranhamento mas também curiosidade pois associando o título Horizonte com a ilustração presente na capa (uma menina com uma caixa na mão), não parece, à primeira vista, fazer muito sentido. Deste modo, apela-se a que o leitor amplie a sua leitura pois só ao longo dela é que se aperceberá da temática do livro.
É, em suma, uma obra muito interessante que nos ensina a ver o mundo de outra maneira, incentivando a olhar o presente e ver a vida com prazer (visão hedonista e tolerante da vida). Há assim uma atitude de harmonia face às questões da ecologia e do pacifismo. É, por tudo isto, um livro muito inovador e educativo, altamente direccionado para crianças.

O mistério nocturno
SOARES, Luísa Ducla. (2003). Quem está aí?. Barcelos: Editora Civilização. ISBN: 972-26-2112-2. Dos 4 aos 10 anos de idade.

O livro Quem está aí? é uma obra da autora Luísa Ducla Soares que nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939, onde se licenciou em Filologia Germânica. O seu primeiro livro de poesia data de 1970 e intitula-se Contrato, desde então a escritora tem-se dedicado como estudiosa e autora à literatura infanto-juvenil. Recebeu o "Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro de literatura infantil no biénio 1984-1985" e o "Grande Prémio Calouste Gulbenkian" pelo conjunto da sua obra em 1996. As suas obras encontram-se traduzidas em diversos línguas, nomeadamente francês, catalão, basco e galego.
O título deste livro apela, logo de início, à participação do leitor no processo interpretativo. Através da interrogação Quem está aí?, o texto parece começar um diálogo com o leitor, onde este vai ao texto na expectativa de encontrar o que o título promete e deixa ainda o leitor curioso, através de uma interrogação explícita em que o leitor vai “mergulhar” na obra para saber do que se trata e atribuir-lhe um sentido.
O carácter enigmático do título envolve o leitor de tal maneira que este vê-se tentado a procurar a resposta para aquilo que não lhe é fornecido à partida.
O modo como o significado do título surge, remete desde início à participação do leitor/receptor no processo interpretativo. Através da interrogação Quem está aí?, o texto parece envolver-se num diálogo com o leitor.
Esta é a história de cinco primos que, numa noite como todas as outras, na hora de ir para a cama faziam birra para brincarem mais um pouco.
Contudo, nessa noite acontece algo inesperado que os põe em alvoroço, ouviram bater o portão. A curiosidade era tanta que um a um saíram para tentar solucionar este mistério. Cada uma das personagens vai encontrar algo diferente com que podem brincar quando acordarem. De manhã, qual é o espanto das crianças e do avó quando vêem que o que encontraram na noite anterior não passou de um mero conjunto de “peças” que formavam um todo, um elefante.
Ao longo do texto, o leitor pode activar os seus quadros de referência intertextuais com a obra Os olhos de Ana Marta de Alice Vieira. À semelhança do que acontece com a personagem Marta, que procura incessantemente a verdade, também os cinco primos e o avô procuram resolver o enigma em que se envolvem. Por outro lado, a presença icónica de olhos (em Quem está aí?) parece-nos os olhos que Marta sentia vaguear pelas paredes de sua casa, vigiando-a.
No que diz respeito ao texto icónico esta obra é bastante rica, desde a capa que apela para o jogo, na medida em que o menino utiliza a tromba do elefante como escorrega para se divertir, bem como no corpo de texto, uma vez que as ilustrações são bastante coloridas, possibilitando captar ainda mais a atenção das crianças e permitindo-lhes, através da imaginação, desenvolver a criatividade, autonomia e sentido crítico. O texto icónico serve de intérprete do texto verbal, pois origina uma variedade de sentidos que enriquecem o texto na sua globalidade.
Neste livro, a ilustração antecipa sempre o que o texto nos vai dizer. Contudo, na página do texto, normalmente com fundo branco, existem também pequenas ilustrações. Estas são, na maior parte das vezes, um elo de ligação com a página anterior.
Em suma, o texto transmite-nos alguns valores, embora não estejam implícitos; A coragem por não ter medo do escuro e do desconhecido; a partilha, porque as crianças partilham com os restantes primos o que encontram; o convívio com as pessoas mais velhas que entram na brincadeira com as mais novas; e a liberdade, porque no final da história o elefante vai para a floresta.

Guerra/Paz
SOARES, Luísa Ducla (2002) O soldado João (3ª edição). Porto: Livraria Civilização Editora. Ilustração de Dina Sachse. ISBN 972-26-2047-9.A partir dos 7 anos.


Luísa Ducla Soares que nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939, onde se licenciou em Filologia Germânica. O seu primeiro livro de poesia data de 1970 e intitula-se Contrato, desde então a escritora tem-se dedicado como estudiosa e autora à literatura infanto-juvenil. Recebeu o "Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro de literatura infantil no biénio 1984-1985" e o "Grande Prémio Calouste Gulbenkian" pelo conjunto da sua obra em 1996. As suas obras encontram-se traduzidas em diversos línguas, nomeadamente francês, catalão, basco e galego.
O Soldado João é uma obra da literatura contemporânea onde, através de uma narrativa, nos é relatado, de um modo brincalhão, as peripécias de um “soldado” na sua incursão pelos caminhos – errados – da guerra. Apresenta-se assim como um conto facecioso, mas, ao mesmo tempo, moral e filosófico ao colocar em confronto valores distintos como a guerra e a paz, com evidente preferência por este último.
Os segmentos da acção desenrolam-se num encadeamento perfeitamente delimitado, bem evidente, por exemplo, nos dois últimos parágrafos correspondentes a duas sequências da história, onde os dois generais inimigos “como [já] era noite, acharam que já passara o tempo da guerra, apertaram as mãos e partiram em paz.” (Soares, 2002:16) e o “soldado João [a personagem principal] sete dias andou até chegar à sua aldeola, onde de novo sacha milho, rega cravos, semeia couves e manjericos.” (idem, ibidem: 18).
Através de uma desconstrução paródica é-nos relatada a história de um soldado “feliz e desengonçado” (idem, ibidem: 4), um menino até aí ligado à tranquilidade do campo, que, sem jeito para a guerra, vai colocando valores como a amizade, a tolerância, a partilha e a alegria em substituição das funções bélicas que lhe são atribuídas. Através do seu modo de agir ele vai alterando os comportamentos e atitudes dos outros intervenientes na guerra e com isso “vence-a” e conquista a paz, regressando ao seu lar tranquilo.
Como estamos a falar de literatura, que apela ao imaginário, e olhando a dicotomia guerra/paz presente em todas as ilustrações à partida o título remete-nos para uma figura-tipo, um combatente, um palco de guerra, mas a sua ilustração mostra-nos um menino franzino e de aspecto hilariante com uma flor na mão. Durante todo o conto a subversão das ilustrações mostra-nos uma guerra que mais não é do que uma confraternização, ao mostrar-nos sempre imagens de momentos de alegria como, por exemplo, a dança do fandango enquanto o soldado João tocava corneta. Ficamos assim, durante toda a obra, perante uma guerra que não o é nem existe realmente, e uma paz que até ao momento final vive e passeia-se livremente pelo “interior” da sua outra “personalidade”, a guerra.
O estranhamento também é encontrado nesta obra, através do soldado João que, depois de ter passado o conto todo a “cultivar” a paz, em vez de terminar a história com uma enxada, saia dela com o único elemento que até aí não tinha sido aparecido em nenhuma ilustração – a espingarda.
Esta obra convida o leitor a um constante recurso à sua competência literária, ou à sua experiência de vida, para o preenchimento dos espaços em branco.
Num conto em que as ilustrações o acompanham ao longo de todas as páginas aparecem-nos alguns passos em que esse convite é mais evidente. Uma criança, por exemplo, quando lê o seguinte segmento textual: “Pelos campos fora, o soldado João era a vergonha dos batalhões. Trazia uma flor ao peito, punha as mãos nas algibeiras, coçava o nariz, não acertava o passo.” (idem, ibidem: 4) faz logo uma analogia com o palhaço dos circos, normalmente detentor dessas características. Mas, do mesmo modo pode referir, a partir desse momento, que o papel do soldado João será o de fazer do palco da guerra um palco de alegria, e o de contagiar todos os outros.
Esta obra ao colocar-nos o confronto guerra/paz através da viagem do personagem principal da sua aldeia natal para o palco de guerra, apresenta-se também como uma representação das tensões entre a tradição da aldeia, representada pela tranquilidade e a espiritualidade, e a cidade que opõe a esses valores a modernidade, o material e a ausência de valores espirituais.
Pode ser assim analisada como uma reflexão aos valores da sociedade citadina, em que a autora a expõe ao ridículo através da crítica a certos aspectos, como os valores morais pelos quais esta se rege, e de como eles estão profundamente errados.

“A sabedoria da infância”

LETRIA, José Jorge (1994) O Menino Eterno (1ª ed.).
Ilustrações de Henrique Cayatte, Porto: Livraria Civilização Editora.
ISBN 972-26-1032-5.


José Jorge Alves Letria nasceu em Cascais, a 8 de Junho de 1951,é um jornalista e escritor português. Como escritor distingue-se na poesia, no conto, no teatro e, sobretudo, na literatura para a infância e juventude. E segundo ele, a sua poesia «é muito marcada pelo amor e pela tentação da felicidade que integra o amor. Uma espécie de sede de absoluto que o amor representa enquanto horizonte.».
O Menino Eterno é um conto maravilhoso, retratado como uma lenda oriental. O narrador apresenta-nos esta obra dividida em quatro capítulos sequenciais bem delimitados, onde a história de Pi Wang, Um Camponês Sábio (Letria, 1994: 3), nos transporta através de uma viagem fantástica ao mundo do “eterno”.
Os paratextos com que nos deparamos no nosso primeiro contacto com esta obra contemporânea da literatura infanto-juvenil, são os que estão presentes na capa, contracapa, lombada e badanas.
Mas é na capa e na contracapa do livro aberto, que se forma uma só imagem, de onde se realçam indivíduos que aparentam ser orientais e uma árvore que preenche metade da contracapa.
A capa dura e as folhas espessas, asseguram a transição a um leitor que está a chegar à faixa etária dos 9 anos. O leitor adulto, ao contactar com este livro, tem desde logo a percepção de que está a ser “apresentado” a uma obra de um autor reconhecido.
Na óptica do imaginário e do fantástico, o título ao iniciar-se com o artigo definido “o” deixa de ser um menino eterno para ser “O Menino Eterno”, aludindo à sua autenticidade, a que ele é único. As ilustrações de Henrique Cayette remetem o leitor infanto-juvenil para o mundo do fantástico, associado às lendas do oriente, onde tudo é passível de acontecer.
Este livro conta-nos a história de Pi Wang, um velho camponês que afirmava que as crianças têm nos olhos "toda a sabedoria do mundo" (idem, ibidem: 5). Desiludido com o rumo dos acontecimentos, Pi Wang, apenas com a companhia de um falcão, refugia-se no cimo de uma montanha deserta, onde por intermédio de um segredo bem guardado, vai proferindo as palavras mágicas que um peregrino lhe ensinou. Ingere o preparado e torna-se de novo menino. Só então desce a montanha e encontra um mundo que, apesar de ser o seu, lhe é estranho.
A obra infanto-juvenil Os Olhos de Ana Marta, tem uma forte presença intertextual com O Menino Eterno. O sonho, obsessivo, que povoa O Menino Eterno, à semelhança dos Olhos de Ana Marta está simbolizado na infância que transfigura a morte e nunca parte. A eterna infância em Os olhos de Ana Marta, é personificada na presença “viva” de Ana Marta em toda a narração, em todos os personagens, passeando-se por toda a casa, vigiando com os seus “olhos” os passos da irmã e votando a uma solidão e isolamento, quase total da vida, a Flávia, sua mãe.
A importância das pequenas coisas, quer elas sejam do âmbito humano ou da Natureza, é o valor primordial que sobressai da leitura e interpretação desta obra. A importância da criança, referida como quem tem “nos olhos – explicava ele – toda a sabedoria do mundo” (Letria, 1994: 5) e a renovação da Natureza, o ciclo onde nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma, desde que a saibamos respeitar.
O menino eterno, o menino que nos acompanha com a sua omnipresença no dia-a-dia, o menino da obra literária mais lida em todo o mundo, está também presente em O Menino Eterno. Se analisarmos a capa e contracapa como um único elemento, notamos toda uma significação de um momento Bíblico impregnada na ilustração. Um monte, os pastores e os reis magos com as prendas para o menino que os aguarda nas palhas “sentado”. Sentado, porque este Menino Eterno está representado por um sábio ancião, nesta obra, no lugar de Jesus Cristo que nasceu menino, mas predestinado a ser o Messias, a voz de Deus Pai todo-poderoso e a sua voz na terra, afinal a voz de toda a sabedoria.
Enquanto decorre a nossa leitura da obra, somos transportados por quatro capítulos que correspondem às quatro estações do ano. A analogia deste facto remete-nos para quando Pi Wang responde aos camponeses, dizendo-lhes que “-A Natureza tem desta coisas. Tem as suas regras e as suas leis. Porque não havemos de lhe dar um pouco mais de tempo?”(idem, ibidem: 5-6). Desta forma, ele remete toda a sua sabedoria para a Natureza e para o tempo.
Da mesma forma, se analisarmos as alterações icónicas na mudança de capítulos, somos confrontados com a passagem das estações através de uma árvore (simbolizando a Natureza) em que a queda e renovação da folha se alia ao passar do tempo (que tudo cura) e nos convida a todas as vezes que acabamos a obra, a reiniciar o ciclo, voltando à Primavera.
Em síntese, a imagem do eterno está bem presente nesta obra, quer na capacidade da natureza se renovar mas também de nela se desabrochar, sempre, uma vida nova.



“Mais vale uma égua na mão do que duas a galopar”

Andrade, Eugénio (2000). História da Égua Branca. Caminho.
Ilustração: Joana Quental
ISBN: 9726103525


Eugénio de Andrade, o autor deste livro após algumas tentativas juvenis que mais tarde repudiou, impôs-se definitivamente no panorama da actual poesia portuguesa com As Mãos e os Frutos (1948). Contemporâneo dos movimentos neo-realista e surrealista, quase não acusa influência de quaisquer escolas literárias, propondo uma poesia elementar, cuja musicalidade só encontra precedentes na nossa lírica medieval, ou num poeta como Camilo Pessanha.
O livro História da Égua Branca tem como ilustradora Joana Quental que, em 1992 obteve a licenciatura em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes do Porto, tendo em 2001 concluído o Mestrado em Arte Multimédia. A sua actividade profissional tem-se repartido pelo desenho animado, multimédia, produção de material escolar, genéricos de televisão e ilustração de livros, nomeadamente didácticos e literatura infantil. Em 1997 recebeu a Menção Honrosa no Concurso Nacional de Ilustração Infantil promovido pelo IPLB e IBBY.
O título da obra em análise, remete-nos desde logo para um texto narrativo, no qual Égua Branca é a personagem principal. Juntamente com o título, a ilustração presente na capa apresenta a protagonista, bem como os principais intervenientes na acção.
Quanto às ilustrações é de realçar o seu carácter apelativo, capaz de reter a atenção do leitor, devido às cores alegres e vivas que o induzem para uma narrativa voltada para a natureza, para a amizade e adequada ao público-alvo. Estas fornecem ainda, uma pista relacionada com as categorias temporais (estação do ano, Inverno), através da observação da indumentária dos jovens (casacos + carros); o que não coincide com o texto: “Era Agosto…”.
Esta obra é destinada aos leitores dos 5 aos 8 anos de idade, devido à grande simplicidade e acessibilidade quer no estilo, quer na linguagem, em termos de compreensão. E nesta, como na maioria das narrativas infantis, de fundo pedagógico, prevalece o real e o bem sobre o artificial e o mal.
A acção deste livro desenrola-se no sentido de um único fim e em volta de um problema do qual o narrador relata três episódios, cada um concluído com uma peripécia, as duas primeiras de fundo humorístico e a ultima de fundo sério e moralizante.
Cristóvão tinha três filhos, e como forma de agradecimento por não se terem esquecido do seu aniversário decidiu dar-lhes algo que eles quisessem. É nesta altura que se inicia a acção principal pois todos os filhos queriam a égua. Cristóvão pede ao boticário que o aconselhe e assim confia a égua ao seu filho mais velho, António (primeiro momento), depois deixa a égua com o seu outro filho, Joaquim (segundo momento), e por fim ao seu filho mais novo, João (terceiro momento), com quem a égua acaba por ficar.
Tendo em conta tudo isto, podemos encontrar relações de natureza intertextual entre a obra História da Égua Branca e a história Os Três Porquinhos, pois em ambas a acção desenrola-se em três momentos. Tal como a égua passou pelos três irmãos (três momentos importantes mas distintos), também o “lobo mau” passou pelas casas dos três porquinhos. No entanto o desenlace de cada um destes contos é diferente assim como a moral da história.
Quanto às marcas de estranhamento nesta obra não existem, pois toda a acção decorre dentro da normalidade e do que é real. Além disto, não existe muita possibilidade para o preenchimento de espaços em branco, visto ser um texto que contém bastantes imagens que ajudam a completar a leitura e interpretação do texto. No entanto, esta obra, pode levar-nos a imaginar sons em determinados momentos da história de forma a enriquecê-la.
Segundo a Teoria da Cooperação Interpretativa de Umberto Eco, o receptor tem uma importância crucial na descodificação do texto, logo, a leitura é uma modalidade de interacção entre o texto e o receptor. E isto verifica-se nesta história, pois é estabelecida uma relação de proximidade entre o narrador e o narratário através do recurso à ironia, situações humorísticas, segmentos textuais inacabados.
Em suma, esta obra é uma obra que retrata uma lição de vida apelando à fidelidade e à sinceridade. Pois o verdadeiro interesse de João pela égua prevaleceu devido ao facto deste a aceitar e gostar dela pelo o que ela é e não pelo que ele desejava que fosse, ao contrário dos seus irmãos.